O vento não traz
notícias de longe
todos foram dormir
depois do vinho
só nós permanecemos
incomunicáveis
debaixo das estrelas
e do frio
um que outro fantasma passa
fugitivo na calçada
não perguntamos pela vida
passada ou futura
habitamos cada momento
com olhos de prisioneiros violentados
escutamos o silêncio que vem do rio
a fome imensa de liberdade
que nos anima e nos faz fortes
na tempestade que nos enlaça
nos joga contra a parede
nosso rosto parece
ao de toda gente
mas trazemos
segredos inviolados
noites de lobos feridos
olhamos a cidade morta
nenhum anjo nos acalanta
estamos vivos
e nunca doeu tanto
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Do livro Claridade, coedição Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Editora Movimento, 1983.
Acho este poema fantástico, Adelar. Ele reflete as dores de nossa geração frente a Ditadura, a censura, a falta de perspectivas humanas. Vou divulgar este poema em outros espaços.É necessário socializar as vivências desta época, num tempo atual de individualismo e insensibilidade.
ResponderExcluirAbraço.
Ricardo Mainieri
Saímos de uma ditadura medonha, apoiada por parte da sociedade civil, e caímos numa democracia que já não valoriza as aspirações mais profundas de mudança . Come-se pela mão nem sempre limpa dos partidos políticos. A possibilidade de participação real da sociedade é restrita. Os escândalos - diários - já não escandalizam. A mudança só será possível se cada um mudar seu comportamento frente a tudo. Do trânsito ao voto consciente, passando pelas questões mais comezinhas do cotidiano. Começa dentro de casa, na calçada. Valorizando a honestidade, o mérito, a empatia. O resto é esperar godot. Um abraço, Ricardo.
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