Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto. 31-10-2014 |
Escutar o outro é, talvez, a forma mais elevada de sensibilidade.
O mundo está povoado de seres falantes, que só escutam as próprias razões, num monólogo ensurdecedor. Cada vez tem menos gente disposta a ouvir e a refletir, de coração aberto, sobre o que o outro tem a dizer.
O respeito, a empatia, para essas pessoas, não têm voz nem vez. O que vale é ter razão sempre, impor a própria vontade, não importa a que custo.
Somos inquilinos de um tempo que não nos pertence.
Existimos por um momento e depois vamos habitar a memória de Deus (aqueles que creem) ou simplesmente nos esfarelamos e não se fala mais nisso (os que em nada acreditam). A transitoriedade da vida é comum a uns e outros.
Há aqueles, contudo, que vivem como se fossem eternos, como se não tivessem de devolver um dia o seu quinhão de vida. Sentem-se livres e legitimados a executar os próprios desejos e torpezas. O mundo é seu brinquedo.
A todos querem submeter e devorar com a urgência dos vampiros (tão em voga, hoje, nas telas). Vivem sem qualquer noção de limite, nenhuma ideia de bondade com o semelhante (e, menos ainda, em relação ao diferente).
Como viver em meio tão hostil e infenso a valores humanos?
De minha parte, estou empenhado em arrumar a casa do ser. Sonho e trabalho, de sol a sol, para mantê-la limpa, com ar fresco e o claro aroma das manhãs. Espero que as pessoas se sintam acolhidas nessa casa simples, com flores da estação na janela.
Sei que é possível ser solidário com o próximo, ainda que o espaço para generosidades esteja cada vez menor.
Todos estamos envolvidos na árdua tarefa da sobrevivência. Mas isso não justifica a violência que vemos no dia a dia, explícita ou dissimulada.
O sofrimento é filho da prepotência, da vaidade exacerbada, da indiferença e da arrogância. Todo exercício arbitrário de poder sobre os outros é perverso.
Podemos viver ao lado das pessoas e não contra elas. Amorosamente.
Podemos viver ao lado das pessoas e não contra elas. Amorosamente.
Enquanto estamos vivos, temos essa bela oportunidade. Não vamos desperdiçá-la.
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Texto revisto, publicado antes em 29, junho, 2011.
Tem razão. Uma atenção. Um olhar, por mais "transeunte" que seja, pode organizar um pouco o próximo. E o retorno é tão imediato, é aquela lufada no coração da gente. Parece um obrigado de Deus.
ResponderExcluirQue expressão tão delicada e profunda, Marina. Um poema. Um alento no coração!
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