Jorge Adelar Finatto
O fato é que eu estava em casa quando bateram à porta. Fui abrir e qual a minha surpresa: era Erico Verissimo (1905-1975). Vinha me fazer uma visita. Nunca imaginei que um dia na vida ia conhecê-lo pessoalmente e, menos ainda, que receberia sua visita. Passamos à sala. O Erico estava alegre e cordial, magro como sempre, e com aquele boné que usava nas caminhadas.
Disse-lhe então que, durante um certo tempo, na infância (eu tinha dez anos), morei na Rua Dona Eugênia, bairro Petrópolis, em Porto Alegre, que é paralela à Rua Felipe de Oliveira, onde ele tinha a famosa casa na qual recebeu, por muitos anos, com a esposa Mafalda, não apenas os amigos do casal como inúmeros leitores que o procuravam vindos de toda parte. Todos queriam conhecer o autor de O Tempo e o Vento.
A tal ponto que sua residência virou uma espécie de ponto turístico da cidade, o que lhe criava algumas dificuldades, pois precisava de silêncio e recolhimento para trabalhar. Mas ele e Mafalda eram anfitriões generosos e, na medida do possível, procuravam receber os visitantes.
Disse-lhe então que, durante um certo tempo, na infância (eu tinha dez anos), morei na Rua Dona Eugênia, bairro Petrópolis, em Porto Alegre, que é paralela à Rua Felipe de Oliveira, onde ele tinha a famosa casa na qual recebeu, por muitos anos, com a esposa Mafalda, não apenas os amigos do casal como inúmeros leitores que o procuravam vindos de toda parte. Todos queriam conhecer o autor de O Tempo e o Vento.
A tal ponto que sua residência virou uma espécie de ponto turístico da cidade, o que lhe criava algumas dificuldades, pois precisava de silêncio e recolhimento para trabalhar. Mas ele e Mafalda eram anfitriões generosos e, na medida do possível, procuravam receber os visitantes.
De ouvir falar em Erico, de suas obras e seu pensamento humanista, eu, menino ainda, queria muito conhecê-lo. E, sem embaraço, fui umas três vezes à casa da Rua Felipe de Oliveira. Me lembro que nessas ocasiões uma senhora atendeu à porta e disse que ele estava em viagem.
Não consegui conhecer o escritor e disso me ficou uma frustração. Esse sentimento mais se acentuou quando, em seguida, li Clarissa, livro que me encantou e impressionou. Jamais esqueci a solidão de Amaro, seu amor secreto, inconfessado e dolorido pela adolescente da pensão onde vivia. A admiração cresceu com a leitura de seus outros livros.
Mas então, esta visita agora, assim de repente, eu já um senhor cozido e recozido pelos anos, me causou imensa alegria. Conversamos sobre a vida, sobre livros e leituras (mas não muito), uma conversa cálida, eu mais ouvindo do que falando, claro, porque não é todo dia que se recebe a visita de um grande escritor que também é um belo ser humano.
Quando chegou a tardinha, Erico disse que tinha de partir. Perguntei-lhe como voltaria para casa, ele respondeu que de ônibus. Acompanhei-o até a parada do ônibus Petrópolis. Nos abraçamos e ele se foi.
O mais incrível aconteceu alguns dias depois.
Tocou o telefone, era o Erico.
- Tu recebeste o cheque?, ele perguntou.
- Cheque?, que cheque, Erico?
- O cheque que te mandei num envelope.
- Não, não recebi nada. Mas por que o cheque?
- É bom verificares a caixa de correspondência. Até logo, ele disse, e desligou.
Abri a caixa e constatei que, de fato, lá estava o envelope. Nele havia um cheque dobrado. Tinha a assinatura do Erico. Eu não estava entendendo nada. Afinal, por que o pagamento? Corri os olhos para conferir a importância. No lugar do valor numérico, estava registrado 150. E, por extenso, estava escrito: cento e cinqüenta abraços.
Então pensei comigo: esse Erico é mesmo um grande cara.
Depois acordei, estava chovendo aqui em Buenos Aires. Fui até a janela, fiquei olhando Puerto Madero nessa manhã de domingo. A cidade é bonita de qualquer jeito, pensei. Estava profundamente feliz com o que acabara de sonhar. Não sei de onde tudo isso veio, mas que bom que veio.
Guardei o cheque do Erico no cofre do coração.
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photo reproduzida do site da editora Companhia das Letras.
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