sábado, 14 de fevereiro de 2015

A mulher do retrato

Jorge Adelar Finatto

photo da photo: jfinatto
 
E, no entanto, ela está ali, viva, na pequena moldura, sobre a mesa do vendedor de antiguidades na feira da Plaza Constitución em Montevideo. Encontrei-a na sexta-feira, 13/02/2015.

A brisa, um pouco fria, conversava com as folhas dos plátanos. O sol calmo espiava entre os galhos.
 
Viva e bela, lá está a mulher desconhecida de 120 anos atrás. O semblante revela que está em paz. Ou pelo menos resignada. Viver lhe traz algum encanto? Será feliz? Que sonhos acalentará no coração?

Parece que vestiu o seu vestido mais bonito pra tirar a fotografia. Sabia talvez que a imagem ia atravessar o tempo e oferecer-se a olhos estranhos e curiosos no futuro distante.

Um dia o retrato caiu do toucador da casa abandonada na Ciudad Vieja. Muitos anos se passaram longe da luz. Até que entrou num baú e foi levado ao antiquário. Depois à praça onde agora brilham, sob os plátanos, os olhos da mulher.

Feira de antiguidades. photo: jfinatto
 
 O que é uma fotografia? Um instantâneo que não se deixa morrer. 

Um fragmento de vida congelado no tempo.

Uma face de mulher não se perdeu graças ao cálido registro.
 
Pequena eternidade que não se esvaiu no nevoeiro.

Plaza Constitución. 13/02/2015. photo: jfinatto
 

4 comentários:

  1. Jorge, este texto provoca uma questão: onde? Como? Por que? Prefiro pensar que você escreveu um rascunho rico e enxugou bem antes de postar.

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    1. Oi, Marina. O que eu sei sobre a mulher do retrato é mesmo o que escrevi. Tenho muita ternura pelos retratos antigos. Um abraço.

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    2. Oi Jorge, eu entendi. Achei linda e sensível sua reflexão sobre a foto desconhecida. É que é difícil constatar o efêmero. Então a gente acha que o escritor tem que dar conta de explicar (risos). Obrigada por sua tolerância. Felizmente cremos no Eterno. Abraço.

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    3. O efêmero, a finitude, isso é uma coisa difícil. Mas tem o outro lado, o depois (tem de haver um depois, né?) Enquanto isso a gente procura viver, o que também não é nada fácil. Eu rezo e peço. E agradeço. Um abraço (obrigado pela presença).

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