quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

La vida es hoy

Jorge Adelar Finatto

La Carreta, obra em bronze de José Belloni. Montevideo. photo: jfinatto
 

Talvez ele gostasse de dizer que chegou àquela altura da vida em que o universo lhe segreda sua sabedoria. Mas não seria verdadeiro.
 
Vem-lhe à cabeça a lembrança do velho filósofo grego que saía pela cidade com uma lanterna acesa, em pleno dia, procurando um ser humano. Era um radical da sabedoria.

Diógenes vivia só na caverna de um barril.

É um recuerdo aleatório que acode ao viajante, sem nenhuma razão aparente, em meio à tarde de sol em Montevideo.

No Café Facal, na Avenida 18 de julho, olha o intenso movimento dos carros e ônibus. Mas olha mais ainda o movimento das pessoas nas calçadas que nessa hora, 17h30min, é intenso. Há pouco desceu no Aeroporto de Carrasco, passou pelo hotel e saiu.

Há seres humanos nas ruas de Montevideo. Uma cidade que tem algo de familiar nas suas calles de casas antigas, nos seus plátanos (dizem que há um plátano para cada habitante, num total de um milhão e meio).

O Uruguai tem 3,5 milhões de almas. O trato das pessoas é afável, educado. Não se vê miséria à solta nem violência. Esta, quando ocorre, é por exceção.

Plaza Constitución. photo: jfinatto

 O encanto de Montevideo está na alma harmoniosa da cidade

Não existe riqueza ostensiva nem o chamado glamour. O abismo entre os que têm tudo e os que nada têm nem é como em Pindorama. As pessoas têm sua dignidade na terra do presidente José "Pepe" Mujica, este sim um filósofo grego, no melhor sentido, rico de humildade e de saberes práticos que transforma em exemplos de vida.

Com ele os verbos repartir riquezas e melhorar a vida dos pobres ganharam sentidos talvez nunca antes vistos na América Latina. Se Brasil e Argentina tivessem um Mujica, provavelmente não estariam na lamentável situação em que se encontram.

O viajante não é um sábio como Diógenes. Nada sabe. O ofício de ser sábio está sempre muito além. Quer aprender a ser algo um pouco melhor. Por isso, não vai sair por aí com uma lanterna acesa nesse dia azul de sol nem pretende recolher-se num barril na calle movimentada.

Leu, num grafite fotografado por Gustavo Castagnello (Uruguai), la vida es hoy. Sim, a vida é hoje. Ontem foi, amanhã será. Mas, por ora, a vida só pode ser agora. E pode ser diferente, mais leve.

O meu reino por um pouco de leveza, pensa o viajante.

Os plátanos e as pessoas humanizam as ruas. O Río de la Plata convida o olhar. As pessoas não têm medo, olham em frente e trilham um caminho. Habitam a cidade como os peixes habitam as águas doces do rio.
  

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