quinta-feira, 16 de julho de 2015

Da existência de fantasmas

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto

 
Nunca demonstre medo nem saia correndo de um fantasma. Tampouco se faça de corajoso. Jamais vá para o enfrentamento. Lutar com um fantasma é desafiar o vento e o relâmpago. Deixe-o quieto na sua infinita solidão.

Os fantasmas são seres desesperados e melancólicos por natureza. Habitam casas antigas que tenham sótão, escadaria e porão. Calma: não há notícia de fantasmas morando em apartamentos. Isso é realmente muito raro, para não dizer inverossímil.

Às vezes sentam na mesa da sala de jantar. Fique frio. Não demonstre espanto diante do chapéu e do capote surrados e molhados do orvalho, se masculinos, ou diante das echarpes, da maquiagem pesada e dos vestidos floridos, fora de época, se femininos. Alguns adormecem no sofá, de madrugada, diante da televisão, exaustos diante da péssima programação.
 
Apesar de não parecer, são seres sentimentais. Ficam ressentidos com a maledicência que pesa sobre eles. A quase totalidade não quer apavorar ninguém, não deseja causar medo ou incômodo. Quer apenas fazer e receber companhia. Não se iluda: se há um fantasma na sua vida, existe uma razão.
 
Se você vive perto de um fantasma, trate-o com delicadeza. Observe alguns preceitos. Por exemplo, não banque o valentão nem faça piadinhas. Nem fique arrepiado.

Se não quiser conversar, cale e passe reto. Pode até mesmo permanecer em silêncio no mesmo recinto, fazendo suas coisas. Isto, aliás, eles apreciam muito. Revela certa intimidade.

Alcance algo para entreter o volátil. Eles adoram remexer velhos álbuns de fotografia.
 
Com exceção da estirpe dos exibicionistas, que gostam de fazer barulhos pela casa em horas impróprias, empurrando móveis, arrastando correntes e batendo portas, os outros são discretos. Querem apenas estar ali.

Nada mais esperam da vida nem da morte. Só querem um pouco de companhia para amenizar a solidão e o peso das horas no mundo oco onde vagueiam. 
  

3 comentários:

  1. Oi Jorge! Eu prefiro já, a companhia dos anjos. Dos quais preciso mais a cada dia. Ouvi que a comunicação é até possível, depende de se ter, como você diz: receptividade, naturalidade. Depende de se crer na existência do Deus, do Cristo, do amado criador. Diz que Ele não faz acepção de pessoas. E que tem todo o poder. Esse saber, esse crer, esse pensar, que pode ser verdade o que se diz sobre esse esplêndido porvir é o que dá vontade de pedir a Ele: Forças pra seguir. Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Marina. Eu nunca vi um anjo pessoalmente (que eu saiba), mas que eles existem, disso não tenho dúvida. Na Bíblia há passagens sobre eles, entre elas a da destruição de Sodoma e Gomorra. Ele têm poder e estão noutra esfera. Eu espero sinceramente ter um anjo da guarda. Por precisão e por fraqueza. Os meus fantasmas devem ser alegorias de assombrações interiores. Sei lá de onde vêm e por que se metem tanto nos meus pobres textos. Um abraço.

      Excluir
  2. Oi Jorge. Quanto aos fantasmas, concordo. Tudo que se forma dentro da gente durante a vida, em dias, às vezes, não tão fáceis, pode ser matéria para muito escrever. E há pensamentos que parecem ter vida própria, pois que nem sempre concordam com os dedos no teclado. Quanto aos anjos, é uma maravilhosa verdade que sempre vale a pena olhar. E investigar no lugar e na hora mais quieta. Há uma passagem da Bíblia no novo testamento, Atos 12: 7, quando um anjo veio libertar Pedro da prisão, enquanto o grupo orava por ele, mostra o poder da oração. Adoro! E acho que tive o privilegio de ver um ser maravilhoso, foi lá em um dos dias difíceis da mocidade, ainda. Em meu pobre e terreno vocabulário, só pude descrevê-lo com uma palavra: Humildade. Abraço.

    ResponderExcluir