Jorge Adelar Finatto
photo: jfinatto |
Andava eu pela rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, quando visualizei na esquina um cartaz anunciando um Curso de Introdução ao Mundo. Era como um alerta dirigido à minha proverbial falta de fé nos oráculos.
Com vagas limitadas, os encontros seriam dedicados a pessoas que cultivam assuntos filosóficos e que querem desvelar os mistérios da vida. No desenvolvimento das aulas, se trabalharia com conchas do mar, cartas de baralho, almanaques antigos e o indefectível Google. Informava-se, ainda, um telefone móvel para contatos, que deveriam ser feitos o quanto antes para encaminhar a matrícula e formas de pagamento.
Percebi que estava ali a grande oportunidade para entender melhor os enigmas da existência. Vislumbrei a libertação de angústias e perplexidades que carrego desde antes de chegar ao útero. No entanto, por ancestral e incorrigível desconfiança, não anotei o número do telefone.
No retorno a Passo dos Ausentes, contornando penhascos e já envolto em nuvens, me dei conta do que perdera. Se tivesse aproveitado o que o cartaz oferecia, provavelmente teria renovado minha visão das coisas nesses tempos tão obscuros. Alcançaria quiçá uma percepção mais generosa da existência e suas possibilidades.
Mas qual! Voltei, como sempre, a andar na neblina com a costumeira lanterna de mina na mão.
Constatei, mais uma vez, essa propensão tão minha de olhar com ironia anúncios de salvação prêt-à-porter, venham eles de onde vierem.
Levantar o escuro véu que oculta os mistérios e belezas do mundo é ofício a ser construído em silêncio, com humildade e claridade de coração. Essa a minha vã filosofia.
Porém, eu devia era levar mais a sério cursos de introdução ao mundo. Quem sabe tudo clareava de vez... Mas não. Por isso continuo aqui, mais que cinqüentenário, insistindo em coisas como o trema, e em outras que nunca levam ao paraíso.
Levantar o escuro véu que oculta os mistérios e belezas do mundo é ofício a ser construído em silêncio, com humildade e claridade de coração. Essa a minha vã filosofia.
Porém, eu devia era levar mais a sério cursos de introdução ao mundo. Quem sabe tudo clareava de vez... Mas não. Por isso continuo aqui, mais que cinqüentenário, insistindo em coisas como o trema, e em outras que nunca levam ao paraíso.
"é ofício a ser construído em silêncio" como você diz. Porque aos próprios subterrâneos, só se viaja sozinho. E sem a lanterna do Amado Criador, pouco ou nada se consegue vislumbrar.
ResponderExcluir"Porque aos próprios subterrâneos só se viaja sozinho" é um achado, Jussara. Muito obrigado pelo comentário.
ExcluirQue belíssimo texto, meu amigo, mas para ficar perfeito urge seja retirado o adjetivo "vã". Ao contrário do que dizes, tua filosofia não é falsa nem ilusória, visto que realmente "em cada um está a luz do mundo - a única luz que pode ser projetada sobre o caminho.Se fores incapaz de percebê-la dentro de ti, é inútil procurá-la em outra parte." (Apud "Luz no Caminho", de Mabel Collins).
ResponderExcluirGrande abraço.
P.S.Tens ainda o mesmo e-mail?
Caro Atapoã, conforme resposta abaixo, fui ao teu site e mandei mensagem, mas não sei se recebeste. Agora tenho e-mail aqui no blog, no perfil. Um abraço.
ExcluirMeu Caro Atapoã. Que bom receber tua visita novamente! Muito obrigado pelo comentário. Vou ao teu site e lá passo meu e-mail. Um grande abraço.
ResponderExcluir