terça-feira, 18 de outubro de 2016

O Nobel de Bob Dylan

Jorge Finatto
 
Bob Dylan *
 

BOB DYLAN (Robert Allen Zimmerman, 75 anos) é um artista inspirado e inspirador. Alguém que surgiu da obscuridade e construiu um espaço na canção mundial.

Tornou-se um músico original, intérprete criativo, pensador e poeta do nosso tempo. Toca com lirismo e fé aquela gaitinha de boca. Um autêntico menestrel viajando na Via Láctea.
 
Causou estranheza o fato da Academia Sueca ter-lhe concedido, na quinta passada, 13 de outubro, o Prêmio Nobel de Literatura. Normalmente concedido a escritores de livros (em poesia ou prosa), este ano fugiu do padrão. Muita gente vai às livrarias atrás de obras do agraciado com o galardão. Isto dificilmente ocorrerá com o Nobel de 2016, porque o material literário de Dylan é muito escasso e, no Brasil, quase inexistente. O interessado deverá, neste caso, dirigir-se à seção de discos.
 
Um dos livros aqui editados intitula-se Tarântula (Editora Brasiliense, 1986), de prosa poética, e o outro Crônicas - volume 1 (Editora Planeta, 2005), ambos difíceis de encontrar. Não li nenhum. Encontrei a informação de que, em novembro próximo, nos Estados Unidos, será lançado um livro com todas as letras do famoso compositor. Tenho muita vontade de conhecer um livro de pinturas dele sobre o Brasil.
 
O que chama atenção é a mudança de enfoque do prêmio, levando a questionar os limites do que se considera literatura. Será apenas aquela a que estamos acostumados, livresca, impressa ou eletrônica? Letras de música, caso de Dylan, são também literatura? Para a Academia Sueca, parece que sim.
 
Aliás, não há novidade em considerar letras um gênero dentro da literatura, havendo estudos nesse sentido. No Brasil, país de poucos leitores, os textos musicais são uma das principais formas de expressão e comunicação com o público. Através deles, os autores celebram a sensibilidade, a poesia e fazem a leitura da  nossa realidade. Temos poetas extraordinários na canção popular, como Lupicínio, Cartola, Vinicius, Tom, PC Pinheiro, Caetano, Chico, Fernando Brant, Ary Barroso, Caymmi e muitos, muitos mais.
 
Não vejo, portanto, blasfêmia na atribuição do Nobel a Dylan. Ele é, por sua arte, merecendente.
 
Penso, contudo, que o prêmio de literatura deveria ficar com os escritores de ofício, dedicados à produção de obras literárias. Não é exatamente o caso das letras de música. Estas funcionam esteticamente junto com a canção (para isso são feitas). Isoladas, nem sempre atingem um resultado artisticamente válido. O que deveria ser criado é um Prêmio Nobel de Música, contemplando-se, assim, especificamente, os criadores desta arte. 
 
Escritor é uma raça tão solitária, sofrida, esquecida, torturada e difícil de entender que merece, ao menos, ter um Nobel por ano para aliviar um pouco as dores, traumas, recalques, incompreensões e injustiças.
 
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* O crédito será dado assim que conhecido o autor da imagem.
 

2 comentários:

  1. A Academia inovou ao dar o prêmio a um letrista e cantor. Anseio que a poesia e a arte em geral faça parte do cotidiano das pessoas. Ela pode ser veiculada em diversos suportes, não convencionais. O livro, ainda, é o principal veículo, mas o NOBEL dá um passo a frente ao considerar a produção alternativa. Quem sabe tenhamos mais letristas e experimentalistas nos próximos prêmios.

    Abraço do Ricardo Mainieri

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    1. Arte pra todos. Agora mesmo estava escutando aquele cd que me deste do Fernando Ribeiro. Aquelas músicas e letras fazem parte da nossa juventude. Tenho uma infinita saudade daqueles dias. Chega a doer. Um abraço.

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