Jorge Finatto
Over the Town, Marc Chagall, 1918. Tretyakov Gallery, Moscou. |
UM LEITOR observa que os personagens das minhas fotos aparecem sempre ou quase sempre soltos no ar, muito acima do território chão dos mortais. Parecem fugir do mundo e nesse querer revogam a força da gravidade.
Os seres e coisas dos meus textos e imagens falecem de peso para estar no mundo. Têm dificuldade de pisar os duros caminhos da realidade. Anelam viver além daquilo que os aprisiona e faz sofrer. Anseiam pela liberdade e amplitude dos altos voos. Mas sabem que, para merecer o sonho, é preciso uma lúcida revolta contra o hospício.
Lembram aquelas figuras esvoaçantes das pinturas de Chagall, levitando acima dos vilarejos pobres. Quem não desejou, alguma vez, pairar sobre os nadas da existência como um personagem lírico de Chagall? Voar desse mundo. Habitar outra esfera. Quem não quis rasgar as grossas correntes que nos prendem ao calabouço do cotidiano, sem janelas para a vida?
O que eu sei, raro leitor, é que é preciso dar um chute no traseiro da morte, bater a porta na cara da morte, expulsar a presença-morte. Acho que é isso que os meus personagens, voláteis ou não, querem dizer.
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