quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Elegia 1975

Jorge Finatto

photo: j.finatto
 

O VENTO não traz
notícias de longe

todos foram dormir
depois do vinho
 
só nós permanecemos

incomunicáveis
debaixo das estrelas
e do frio

um que outro fantasma passa
fugitivo na calçada
não perguntamos pela vida
passada ou futura

habitamos cada momento
com olhos de prisioneiros violentados

escutamos o silêncio que vem do rio


a fome imensa de liberdade
que nos anima e nos faz fortes
na tempestade que nos enlaça
nos joga contra a parede

nosso rosto parece
ao de toda gente
mas trazemos
segredos inviolados
noites de lobos feridos

olhamos a cidade morta
nenhum anjo nos acalanta


estamos vivos
e nunca doeu tanto

_______________

Do livro Claridade, coedição Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Editora Movimento, 1983.
 

2 comentários:

  1. Este é um poema geracional. Pertence a todos aqueles jovens sensíveis e utópicos que não viam saída num Brasil autoritário. Paradoxalmente, mais de 40 anos depois, a situação está bem parecida. Tristeza.

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    1. A diferença que eu sinto é que, hoje, não há esperança. Ou será que alguém acredita na politica estabelecida? Existem bons políticos, mas eles são minoria. Não podemos desistir da democracia que os maus políticos e maus partidos demonizaram. Precisamos fazer um grande esforço para escolher pessoas melhores nas próximas eleições. E rezar, porque sem Deus, com a humanidade que está aí, vamos pro buraco.

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