terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A hora do farelo

Jorge Finatto

photo: jfinatto


ENQUANTO FILÓSOFOS desvelam(?) os insondáveis mistérios da condição humana, eu espero pelo pinhão cozido na chapa do fogão a lenha. A noite de inverno pulsa ao som dos Noturnos de Chopin.

O vento roça o telhado e as janelas do velho sobrado. A estrela cadente desapareceu atrás das montanhas, eu a vi cair para os lados do vale.
 
Esta é a hora imprópria, do farelo.
 
Observo o canto inumerável da vida. O tempo é curto pra conhecer, sentir tanta coisa.
 
Existe, na revelação do farelo, o sentimento de que faltam mais encontros com os amigos, mais conversas nos cafés, caminhadas de mãos dadas. Faltam mais corações à solta. E mais tempo pra ficar com as pessoas que amamos. Há um excesso intolerável de realidade.

A calada da noite impõe austeridades. Ermos são os caminhos da hora do farelo. As folhas secas do tempo caem em volta da hora nua.
 
A beleza da vida está no voo de borboleta, no passo da joaninha.

A hora do farelo traz a vontade de visitar o ínfimo, atravessar o desconhecido.
 
Se um anjo surgisse dizendo que o meu tempo não foi em vão…
 
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Texto revisto, publicado em 8 de março de 2010.
 

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