Jorge Finatto
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magnólia. photo: jfinatto, julho 2020 |
Mais de quatro meses de quarentena, reduzido a este microterritório do universo que é minha casa, a sensação é de sufoco. Não que eu não goste de ficar em casa. Sou dos viventes mais caseiros, capaz de repetir ad nauseam as rotinas domésticas.
O que causa mais sofrimento é o afastamento do contato humano. Somos seres gregários, gerados no generoso útero feminino há milênios, sobreviventes de pragas e tempestades. Precisamos do outro, ansiamos seu calor. O que não nos impede de sermos, às vezes, profundamente egoístas. Contudo, neste momento, em meio à peste, devemos manter distância do semelhante.
Os doentes da covid-19 ficam em quartos e ambientes isolados, em casa ou nos hospitais. Quantos já morreram sem ter tido ao menos o conforto de afagar uma mão humana, de ver o rosto querido de um parente, um amigo. Este é o lado cruel.
O que tenho feito nesses dias de pandemia? Lavar louça, passar pano no chão, tirar lixo, limpar banheiro. Não são novas habilidades. Sempre fui da turma da faxina. Aprendi com o tempo que os outros só nos valorizam (a nós, limpadores e arrumadores) quando o serviço falta. Quando está em dia, passamos invisíveis.
A primeira coisa que faço quando levanto, de manhã, é ir até a janela olhar o quintal, ver se ainda está lá. Com suas árvores, pássaros, hortaliças, flores, terra. Depois do café, é pra lá que eu vou. Respirar. Respirar é tudo que realmente importa. Tudo mais é vã literatura, inclusive esta crônica.
Ao cogito ergo sum (penso, logo existo) do filósofo francês René Descartes, acrescento este modestíssimo, porém incontornável, respiro, logo existo. Porque, nesta altura do drama, é do que mais precisamos. O resto vai ter que esperar.