Jorge Finatto
photo: jfinatto |
Acordou com uma insuportável vontade de viver. Foi no tempo da peste covid-19. Abriu a janela do quarto e recebeu no corpo o ar fresco do amanhecer. Respirou fundo. Olhou o Contraforte dos Capuchinhos ao longe. Suspirou, fechou os olhos.
Descobriu que as velhas mágoas e dores já não doíam como antes. Passaram porque tudo tem que passar. Porque o perdão é talvez o melhor dos remédios.
A peste também haveria de passar.
Sentiu uma terrível vontade de agradecer. Estava vivo, respirava e olhava as montanhas junto à janela. A morte, esse injusto evento, nunca teria a palavra final. Era apenas uma mudança de capítulo. Uma passagem para algo desconhecido e, provavelmente, melhor.
A vida é um milagre que germina do encontro de dois ermos. O tempo não é inimigo, antes um aliado. Uma estrada. Uma estrela em movimento na escuridão. Há beleza até nas marcas que o tempo esculpe na face.
Existe um universo inteiro de perguntas. Mas as respostas essenciais não estão disponíveis.
Somos parte do mistério.
Somos o mistério.
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