Jorge Finatto
Em tempo de afetos ligeiros, não é comum ouvir alguém cantar de amores. Fala-se no fim do amor romântico. Não se anda mais com os pés em nuvens, não se voa entre estrelas com cata-vento ao chapéu.
Nada de emoções fortes que amolecem as pernas, apressam a respiração e ofusquem o pensamento. Dirá o poeta que roubaram da primavera as flores e, das naus, o vento cálido rumo à ilha desconhecida. O tempo não está para poemas desbragados cantando o amor.
Mas nem tudo são pedras. Ouça a canção “Chico” da cantora e compositora Luísa Sonza. Ela tem 25 anos e é natural da cidade de Tuparendi, no Rio Grande do Sul, nosso Estado tão devastado por ciclones nos últimos dias. A música do álbum “Escândalo Íntimo” é uma suave notícia em meio às inumeráveis tragédias que assolam a nós e ao planeta.
Ao embalo melódico da Bossa Nova, "Chico" é uma declaração de amor como não se usa mais. Arranca emoção mesmo dos corações mais desiludidos. Num mundo em que se perdeu a capacidade de amar o amor romântico, por medo de entregar o coração ou por qualquer outra coisa, ouvir “Chico” é um tapa na cara da indiferença.
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