domingo, 9 de fevereiro de 2014

Stephanie, temperamental e perigosa

Jorge Adelar Finatto
 
Stephanie, Portugal. fonte: Centrotv.pt*
 
O retorno a Portugal acontece em meio à tempestade Stephanie. Só agora à noite, ao ligar a televisão, vim a saber que o país está sendo sacudido pela dita senhora, e não apenas na costa. Pausa.
 
(Pra tirar a viagem do corpo, fui ao cinema assistir Ao Encontro de Mr. Banks, no Shopping Amoreiras.) 
 
(O filme conta a história de como Walt Disney levou 20 anos para adquirir os direitos de filmagem do livro Mary Poppins, da escritora australiana P.L. Travers. Um bom filme, tendo Emma Thompson no papel da difícil e inflexível autora, e Tom Hanks interpretando Disney, sem esquecer o sempre talentoso Paul Giamatti, motorista que consegue uma aproximação mais humana com Travers.)
 
(Há um bom cappuccino no café Praça Central, deste shopping, que faz companhia à não menos gostosa baguete de frango.) Fim da pausa.
 
Como não sabia da chegada de Stephanie, quando saí do cinema fui surpreendido com ferozes ventos a varrer Lisboa. No caminho para o hotel, tive meu chapéu bruscamente arrancado da cabeça. Saí atrás pela calçada molhada da chuva. Um jovem teve a agilidade de apanhá-lo, quando passava voando a seu lado, num golpe de gato. 
 
A partida entre Benfica e Sporting foi suspensa devido à ventania que chegou a derrubar placas sobre a arquibancada. Felizmente os torcedores já haviam se retirado, evitando uma tragédia (a partida não chegou a iniciar). Prevêem-se mais chuvas e ventos de mais de 130 km por hora e cheias nos rios Tejo e Mondego, entre outros. Alguns pousos de aviões foram desviados do aeroporto de Lisboa.
 
De modo que esse é o quadro. Esperamos que Stephanie seja razoável e vá embora sem mais tardança.
 
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Centrotv.pt:
 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Um monge voa nas catedrais de Salamanca

Jorge Adelar Finatto
 
Vista das catedrais de Salamanca (à dir.) a partir da ponte construída
pelos romanos sobre o rio Tormes no início da era cristã. photo: j.finatto
 
Há um monge adormecido na minha alma. Alguém que se alegra no silêncio e no recolhimento do invisível claustro. Como todo monge que se preze, gosta mais da Renascença do que da Idade Média.
 
O monge que me habita - esse tal que atravessa o oceano para visitar a solitude de velhas igrejas - gosta da arte religiosa, porém é um iconoclasta e um revoltado quando se trata da Inquisição, de inquisidores e abusadores sexuais da Igreja Católica.

photo: j.finatto


Aos diabos com todos eles. Que ardam no inferno que criaram. Que respondam pelos crimes cometidos, diz o monge inconformado.
 
- Não se misture essa gente má com aqueles que, no âmbito da religiosidade sã, tantas coisas boas fizeram e fazem. Cada macaco no seu galho.
 
Levo o monge a caminhar pelas ruas do Casco Viejo de Salamanca, na Espanha. Vamos até o interior das catedrais Velha e Nova. A Velha foi construída entre os séculos XII e XIV, nos estilos românico e gótico. A Nova, entre os séc. XVI e XVIII, nos estilos gótico e barroco. São geminadas, transita-se internamente por ambas, sem necessidade de sair à rua.

photo: j.finatto
 
O monge passeia entre as naves e oratórios, nichos, relicários e retábulos. Voa em direção às abóbadas, vôo em profundidade vertical acima das colunas para estar mais perto da luz que entra parecendo iluminar a treva da condição humana.
 
Quem sabe um anjo aparece e nos salva do vazio e da tristeza desse mundo, consola-se o monge.
 
photo: j.finatto
 
Detalhe das catedrais. photo: j.finatto

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Don Miguel de Unamuno

Jorge Adelar Finatto
 
Miguel de Unamuno

Pensa o sentimento, sente o pensamento;
que teus cantos tenham ninhos na terra,
e que quando em vôo subirem aos céus
atrás das nuvens não se percam.
                             
                                      M. Unamuno, Credo Poético¹
 
O rio Tormes atravessa Salamanca. A vida da cidade remonta a 2700 anos. Histórias, portanto, não faltam. Em 220 antes de  Cristo, por exemplo, o general cartaginês Aníbal invadiu o lugar. Trouxe 40 elefantes junto com seu exército. Em meados do século I a.Cristo, Salamanca foi conquistada pelos romanos. Eles construíram sobre o rio a ponte que está lá até hoje. Os engenheiros romanos fizeram bem sua parte por onde passaram.
 
Mas o que me trouxe à cidade não foram fatos como estes, e sim conhecer a Casa Museu Unamuno¹ e um pouco mais da vida do escritor e filósofo. O museu faz parte da Universidade de Salamanca (segundo alguns, a mais antiga da Europa, criada em 1218). Ontem saí cedo para fazer a visita. Fazia muito frio, ventava, garoava.

O ingresso ao museu custa 4 euros (cerca de 13 reais). Infelizmente não é permitido tirar fotos no local. O prédio onde está localizado sediava a antiga casa reitoral. Eleito reitor em 1900, Don Miguel de Unamuno (1864-1936) foi convidado pela instituição a ocupar a casa com sua esposa e filhos, sendo que quatro dos nove que o casal teve nasceram ali e um deles, Raimundín, ali faleceu.

fachada da Casa Museu (esquerda). photo: j.finatto
 
Depois de sair do cargo, em 1914, passou a viver numa casa da Calle Bordadores, que ocuparia até a morte. Esta casa se situa ao lado da estranha Casa das Mortes, com suas esculturas humanas deformadas na fachada.
 
A Casa Museu reconstrói a moradia de Unamuno e família. Conta com diversos objetos pessoais, mobiliário e os cerca de 6 mil livros que ele doou à universidade. Ali estão o escritório, o quarto, o penico, a biblioteca, a sala, a escadaria a pique para o segundo piso feita com pesadas pedras.

Encontram-se, também, a sua boina basca, os óculos, o chapéu, bengalas (era um caminhante das ruas da cidade). Retratos nas paredes, pinturas, poemas que escreveu na solidão do escritório, manuscritos.

A claridade do dia entra pelas amplas janelas e dá vida ao ambiente como fazia naqueles tempos.

escultura de Unamuno, Salamanca, autor: Pablo Serrano, 1968. photo: j.finatto
 
O mínimo que se pode dizer de Miguel de Unamuno é que é um pensador absolutamente original, um filósofo dos mais importantes não apenas do século XX como da história da humanidade. Um escritor que trabalhou a palavra como poucos e que através dela conseguiu dizer o indizível.

Um poeta de grande talento e sensibilidade que também escreveu peças de teatro, novelas, artigos para jornal, manifestações públicas e livros imperdíveis. Um homem público na extensão do termo, envolvendo-se com a política, o socialismo, a república, antimonarquista.

Um cidadão de grande coragem moral diante das injustiças e da desumanização. Participou da Geração de 98, grupo que reanimou a cultura e o pensamento espanhóis após a grande crise que adveio com o fracasso do país  na guerra hispano-americana.
 
Nos últimos dias, decepcionado com as ações do governo de Franco que então se instaurava, e que apoiara nas primeiras horas,  permaneceu recolhido na casa da Calle Bordaderos, na condição de inimigo do novo regime que iniciou a terrível Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

detalhe da escultura. photo: j.finatto
  
Unamuno não aceitou a violência absurda dos que prendiam e matavam quem não estivesse do seu lado, entre opositores, pessoas comuns do povo e intelectuais indefesos como o poeta Lorca, assassinado em agosto de 1936 (até hoje o corpo não foi encontrado).

Contra isso insurgiu-se o filósofo num discurso célebre ("Vencereis, mas não convencereis")², feito na condição de reitor da Universidade de Salamanca, na cerimônia de abertura do ano acadêmico, em 12 de outubro de 1936. Dela participava a cúpula do franquismo, inclusive a esposa do general Franco. Por pouco não foi morto pelos militares presentes, sendo protegido pela mulher de Franco, Carmen Franco, que o acompanhou até sua casa. Foi então destituído do cargo e obrigado a ficar recluso.
 
escritório do filósofo. fonte: site do Museu
 
Unamuno é muito mais do que uma estátua numa praça de Salamanca ou do que um personagem empoeirado de museu.
 
Raramente uma cidade está tão identificada com um homem como neste caso. Salamanca e Unamuno são inseparáveis. Carregam em si a idéia de que o espírito sempre prevalecerá sobre a indiferença, a violência e a morte.
 
A obra de Don Miguel é profundamente humana e instigante. Não conheço nada parecido. Del sentimiento trágico de la vida é desses livros fundadores, capazes de mudar a nossa consciência das coisas ou, pelo menos, de ampliá-la em larga proporção. Falar de seus livros - a notável qualidade literária, a visceralidade do conteúdo - em poucas linhas, seria leviano. Fica, em todo caso, este registro de um dia gelado em Salamanca.
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¹Poema (fragmento) do livro Poesías, Cátedra, Letras Hispánicas, terceira edición, 2009. Tradução: j.finatto.

²Casa Museo Unamuno:
http://unamuno.usal.es/index.html

³Ariel Palacios:
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/vencereismas-nao-convencereis-unamuno-e-a-razao-contra-a-forca/
 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O barco abandonado

Jorge Adelar Finatto
 
 
Bote Abandonado, 1850. Frederic Edwin Church.
Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid. photo: j.finatto
 

Tive vontade de entrar nesse barco da pintura e sair por suas águas em viagem. Ou melhor, continuar a viagem, já que amanhã é dia de levantar âncora e ir adiante. Hoje foi dia de visitar o Museu Thyssen-Bornemisza, em Madri. Terminei a visita ao acervo permanente que comecei e não completei em 2007. Nos próximos dias começa no museu uma exposição de Cézanne que promete.
 
O Bote Abandonado do pintor americano Frederic Edwin Church (1826-1900) mexeu comigo.

Acho que vi nele transfigurado um momento de grande solidão do artista. Ou a minha própria solidão. Ou as duas. Sei lá. É uma solidão de menino triste, olhando o outro barco lá adiante com gente dentro, conversando e passeando. Sentimento, sentimentos.
 
Faz um frio seco, em contraste com os quase 35ºC de quando saí de Porto Alegre. Estou hospedado numa rua chamada Calle de Los Libreros. Se disser que escolhi a dedo o lugar, estarei desprezando o acaso, que foi quem de fato me trouxe a este hotel. Bem, o fato é que, mesmo estando a menos de 100 metros da Gran Vía, aqui é silencioso.
 
E a ruazinha é cheia de livrarias, um paraíso para qualquer bibliófilo. Encontrei dois livros do poeta catalão Salvador Espriu (1913-1985), uma descoberta recente e rara de que já falei no blog.
 
São edições bilíngües, catalão-espanhol. Um dos livros intitula-se La Piel de Toro, Editorial Lumen, Barcelona, 1983, tradução ao espanhol por José Agustín Goytisolo. A maioria das páginas ainda está grudada, vou procurar uma espátula ou abra-cartas para abri-las.
 
Há os seguintes versos de um poema, numa folha livre, que dizem:
 
Pouco a pouco saíam
do porto esguias barcas
de esperança.
 
Sim, que sejam carregadas de esperança as barcas que partirem do nosso porto. 

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photo de abertura do blog: grafite na estação de trem de Montreux

Os passos do andarilho:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.es/2013/12/os-passos-do-andarilho.html
 

sábado, 1 de fevereiro de 2014

La vie est belle

Jorge Adelar Finatto

Montreux. 28.01.2014. photo: j.finatto
 

Sim, a vida é bela. A frase não é nova, mas continua atual. Foi o que senti quando vi o Lago Léman com as montanhas nevadas dos Alpes ao fundo.
 
É bela a vida, mesmo quando uma vaga tristeza aparece no dia de inverno.  Mesmo quando sabes que não verás mais os olhos azuis da mulher que te fez feliz só por existir e pelo sorriso que te ofereceu como um presente em plena tarde na beira do lago azul.

Montreux. photo: j.finatto

A vida é bela apesar dos maus e dos loucos que fazem da vida dos outros muitas vezes um inferno.

É bela, sim, a vida, como o Lago Léman com os Alpes cobertos de neve em Montreux.

O que mais me chama a atenção na Suíça, além das belezas naturais e do alto padrão de vida, é a elegância moral das pessoas. São muito educadas, mas não afetadas. Gostam de ajudar os semelhantes, sejam pessoas do lugar ou estrangeiros, na rua, no trem, em qualquer lugar.

Montreux. 28.01.2014. photo: j.finatto *

Em Sierre, eu andava pela cidade como ilustre desconhecido, com uma câmera na mão, catando coisas, fazendo anotações. Pois quase toda vez que passava por alguém na calçada ou num café era cumprimentado como se fosse do lugar, da família. Porque eles são assim.

Presenciei atos de civilidade e respeito neste país que me fazem acreditar que um dia o ser humano poderá dar certo no resto do planeta. Deixaremos de nos tratar como inimigos e nos olharemos com estima social, como se fosse destino de todos ser feliz, e não só de uns poucos.

Na Suíça a cordialidade é certa como a precisão dos relógios e a pontualidade dos trens.

Montreux. photo: j.finatto
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*La fenêtre d'une chambre. Grand Hôtel Suisse Majestic, Montreux.
 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O poeta Rilke e o menino: um encontro

Jorge Adelar Finatto

Rarogne, Suíça, 27.01.2014. photo: j.finatto
 

O que não foi dito no texto de ontem, Estudos Rilkeanos, é que desde 17, 18 anos, tornei-me leitor do poeta Rilke (que foi registrado René e só muitos anos depois, por sugestão de Lou Andreas-Salomé, escritora russa, por algum tempo sua amante, depois amiga, passou a assinar-se Rainer).

Rainer Maria Rilke escolheu o Cantão do Valais, no sul da Suíça, para viver aqueles que seriam seus últimos anos. O homem que não teve uma profissão comum, que viveu sob a proteção de mecenas e mulheres, um expatriado no mundo. Um grande poeta e humanista de tempo integral, que teve uma infância difícil.

Em Sierre readquiriu a alegria da criação, mergulhou na língua francesa, indo além do ancestral alemão. Queria ser reconhecido como poeta francês, e não apenas como prosador na língua de Victor Hugo. Na época já era considerado um dos grandes poetas da língua alemã.

Viveu na casa-torre de Muzot, em Sierre, acolhido por um mecenas, entre 1921 e 1926. 

Torre de Muzut, Sierre. photo: j.finatto

O que não foi dito é que essa viagem à Suíça foi feita com a única motivação de seguir os passos do poeta nos últimos tempos em que aqui viveu, sentindo-se renascer como homem, traduzindo Paul Valéry, produzindo poemas franceses. Produção esta que, de alguma maneira, poderia apoiar um pedido de nacionalidade suíça que pretendia fazer. Não sei, afinal, se o fez e se a obteve.
 
(Jorge Luis Borges passou pelo constrangimento desnecessário de pedir essa nacionalidade e vê-la denegada. Como se ser suíço mudasse alguma coisa em sua gloriosa biografia de escritor, um dos mais importantes da literatura mundial.) Enfim...
 
O que não foi dito é que, diante do túmulo de Rilke, me emocionei.

Fiz uma oração para ele, para mim, na solidão azul das alturas álgidas dos Alpes. E senti outra vez como é bom tê-lo por perto da minha alma, ao longo da vida.

O menino pobre daqueles dias distantes veio visitar o poeta. O menino com grandes dificuldades de acesso a livros, a cultura, que continua um aprendiz, um curioso, um apaixonado pela vida e suas possibilidades.

O menino que sofreu, lutou, cresceu, tornou-se o homem de hoje, que nada mais faz além de dar-lhe a mão e sair com ele por aí...
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Estudos Rilkeanos (o epitáfio de Rilke)

Jorge Adelar Finatto 
 
Velha igreja de Rarogne, Suíça, ao lado da qual Rilke está enterrado
photo: j.finatto, 27.01.2014
 
 
Concluí ontem os Estudos Rilkeanos, em Sierre e arredores, Suíça, cátedra que eu mesmo criei e da qual sou, até o momento, o único aluno. 

Pela tarde, com a neve cobrindo os tênis, andava eu no pequeno cemitério da cidadezinha da Rarogne (perto de Sierre), na frente da igreja, atrás do túmulo e do famoso epitáfio do poeta. Rilke foi sepultado em 02 de janeiro de 1927 ao lado da igreja e não entre os outros túmulos,  por sua própria escolha (morreu em 29 de dezembro de 1926 numa clínica em Valmont, cercanias de Montreux).
 
O poeta tomou todas as providências relacionadas com sua morte, para a qual se preparava porque sofria de leucemia, doença, naquela época, fatal, ao contrário de hoje. Ele gostava muito da velha igreja silenciosa situada na encosta dos Alpes em Rorogne, do ar e da luz daquele ambiente. Na frente está o cemiteriozinho. O lugar se localiza a cerca de 400, 500 metros acima dos telhados, lá se chega através de uma estrada íngreme, a pique, entre casas perdidas no tempo.
 
Túmulo de Rilke. photo: j.finatto
 
Por duas ou três vezes quase fui ao chão entre as sepulturas. Desnecessário dizer que não havia mais ninguém na rua naquela hora, salvo um ou outro vulto, tal o frio e a neve que doía na cara. Mas Deus é pai e protegeu esse pobre cristão do pior, que podia ser cair lá de cima.
 
A capela e o cemitério estão bem no alto e, ainda assim, não ficam nem perto da metade do caminho até o topo das montanhas que se erguem em ambos os lados do vale, na cordilheira que vai ao infinito. Os Alpes, mais ou menos como o Contraforte dos Capuchinhos em Passo dos Ausentes, não têm fim...
 
photo: j.finatto
 
Em Rarogne se fala o alemão e depois o francês. Eu não encontrava o túmulo, não havia jeito. Não tinha ninguém, aparentemente, na igreja e nem na casa ao lado que pudesse dar uma informação. Li e não entendi o mapa fixado na parede. O cérebro naquela altura estava congelando com o resto do corpo. Até que surgiu uma criatura pela estrada montanha abaixo. Saí do cemitério e fui em sua direção.
 
photo: j.finatto
 
O bom homem se assustou ao constatar que eu saíra das catacumbas. Fiz sinal para que se acalmasse, eu ainda era um vivente. Conseguiu entender o que eu queria e, num francês com forte acento germânico, me indicou onde estava o túmulo, isolado, ao lado da igreja.
 
Enfim, está aí o registro, com o epitáfio-poema belíssimo e misterioso.
 
Epitáfio de Rilke. photo: j.finatto
 
Rosa, ó pura contradição,
                           volúpia,
de ser o sono de ninguém
                       sob tantas
pálpebras.*
 
Do muito que vi e aprendi nesses dias rilkeanos compartilharei oportunamente com os leitores.

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*Tradução de Manuel Bandeira, em sua Antologia Poética, Livraria José Olympio Editora, 7ª edição, Rio de Janeiro, 1974.

O poeta Rilke e o menino: um encontro:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2014/01/o-poeta-rilke-e-o-menino-um-encontro.html