quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Um respiro

Jorge Finatto
photo: jfinatto
Eu quero falar das azaleias que florescem pelas ruas da cidade preparando a primavera que não tarda. Um respiro num momento difícil.
Para quem como eu deplora a vulgaridade, a grossura e a visão autoritária, este é um tempo mau. Vivi o suficiente para saber que não existem salvadores da pátria. Que, por pior que seja, a democracia ainda é o menos ruim dos regimes políticos (parafraseando Winston Churchill). E que misturar política com religião não é bom sinal.
A tentativa de impor os próprios valores sobre os demais deve ser vista com preocupação. Tenho receio dos que se arvoram em donos da verdade verdadeira. Dos que falam sem parar, não escutam e não dialogam com quem pensa diferente. Esse comportamento desconhece a alteridade. Percebo o país à beira de um possível retrocesso, que esperamos não aconteça.
Mas as azaleias estão aí. Mostrando que há vida acima das vãs e perigosas vaidades do poder. Que a nossa esperança não se intimide diante da intolerância e da estupidez. A primavera vencerá a treva.

sábado, 7 de setembro de 2019

Tudo Azul

Jorge Finatto
 
Revista Azul.
 

Na REVISTA AZUL do mês de setembro, da Azul Linhas Aéreas, foi publicada uma foto que fiz da Catedral de Montevideo em julho passado.
 
O voo da Azul entre Porto Alegre e a capital do Uruguai é muito bom. As aeronaves são novas. O atendimento a bordo e nos aeroportos é educado e eficiente. Percebe-se o preparo e o empenho dos tripulantes em seu mister. Equipamento e serviço nas alturas.
 
No voo de retorno a Porto Alegre, pela primeira vez viajei com uma mulher no comando do avião. E foi um voo exemplar. Li que a Azul é a empresa com maior número de mulheres pilotos. Tudo azul, enfim.
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O cantor da primavera

Jorge Finatto

Sabiá-laranjeira. photo: Dario Sanches. Wikipédia

UMA ALEGRIA era tudo o que eu queria por esses dias. O mundo em geral, e o Brasil em particular, andam muito tristes. Pois ela enfim chegou. Os sabiás voltaram a habitar a minha rua.
 
É uma alegria humilde, numa pequena rua. Mas enche o coração. Os sabiás voltaram a cantar, coisa que não acontecia há muito tempo. No meio de tanto barulho, gritos, discussões no trânsito, nos ambientes de trabalho, nos apartamentos, ouvir o sabiá é um pouco acercar-se do nirvana.
 
O sabiá é o cantor da primavera. Eu andava saudoso da bela música desse querido artista. A minha rua - singela ruazinha - sabe bem acolher os pássaros em suas árvores e vãos de telhado.
 
O ar está irrespirável no planeta. Pela queima de combustíveis e das florestas. Pelos profundos conflitos. Ninguém se entende e há poderosos fazendo o possível para confundir e piorar as coisas. O contingente humano em estado de sofrimento e precariedade é inumerável.
 
Ouvir o sabiá, nesta antiutopia, alivia a alma. Sinto uma felicidade que nem sei explicar. Uma dádiva. A vida perto do amanhecer.
 

sábado, 31 de agosto de 2019

"Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos"

Jorge Finatto
 
araucária. Canela. photo jfinatto
 

Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos. Tão lindo esse verso de Vinicius de Moraes.* O grande poeta brasileiro de quem, na adolescência, eu sabia quase todas as letras de música de cor, tanto me fascinavam sua lira e seu balanço. Isso sem falar dos poemas publicados em livros.
 
Não guardo os velhos sapatos de meu pai, nem dos avôs.  Se os tivesse, carregariam terras da Itália nas solas gastas, e muito espanto, muitas perdas, muita angústia entre mundos tão diferentes. E muita gratidão pela vita nuova no sul do Brasil ao lado de outros expatriados como eles, inclusive aquele um trisavô (ou trisavó) cujos pais vieram como escravos da África. 
 
Mas eis que hoje é sábado, último dia de agosto. Faz frio e chove em Canela. Estou no escritório folheando livros nas estantes. A neblina estende suas sedas brancas além das janelas.
 
No quintal a araucária vertical. Aqui na montanha se vê longe. Não fiquei com os velhos sapatos ancestrais, e gostaria. Mas trago tudo dentro de mim misturado. E sou como o pinheiro. Tenho espinhos, mas dou frutos.
 
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*Jardim Noturno. Poemas Inéditos. Vinicius de Moraes. Poema "Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos", p. 30. Companhia das Letras, 1993. São Paulo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Livro do papagaio pensador. Capítulo I. Das perplexidades

Jorge Finatto

photo: jfinatto

 
I. UM HOMEM que não controla a própria língua pode governar um reino?
 
II. SER HONESTO, aberto ao diálogo e ter capacidade de autocrítica, hoje, no Brasil, é ser revolucionário.
 

domingo, 25 de agosto de 2019

O guardião da cidade-fantasma

Jorge Finatto
 
Shigeru Nakayama. photo: Bruno Kelly (Folhapress)
 
Nos últimos dias, as queimadas na Floresta Amazônica chamaram a atenção do mundo, provocando protestos no Brasil e em muitos países. A pressão de líderes internacionais, somada às muitas manifestações, forçou o governo brasileiro a rever sua posição de inércia diante do aumento da devastação da Amazônia. Algumas medidas foram agora adotadas, mas falta muito ainda para se alcançar um nível razoável de efetividade no combate às ações ilegais que destroem a floresta, atentando contra os povos que lá vivem. Reproduzo a história do japonês Shigeru Nakayama, exemplo de amor àquela região, que serve de inspiração a todos nós.  
 
 
AIRÃO VELHO é uma cidade em ruínas, nas margens do rio Negro, perdida na floresta amazônica. Nasceu em 1694 como Santo Elias do Jaú, primeira povoação daquela região ribeirinha, no atual Estado do Amazonas. Algumas décadas depois da fundação, os portugueses mudaram-lhe o nome para Airão Velho.
 
Cidades e vilas fantasmas não são propriamente raridades no Brasil. Não é por essa razão que Airão Velho virou notícia na Folha de São Paulo por esses dias*. Após o auge, durante o período do ciclo da borracha (final do século XIX, inícios do XX), foi gradativamente se esvaziando.

Na década de 1960, os últimos moradores partiram por falta de opção econômica e se estabeleceram a 100 km do local, na hoje Novo Airão, distante 120 km de Manaus.

O que restou da antiga cidade é cuidado pelo imigrante japonês Shigeru Nakayama, 65 anos, que vive ali sozinho num casebre há 13 anos.
 
Ele sobrevive da pesca e de uma horta que cultiva nas cercanias do rio Negro, sem nenhuma ajuda do Estado no trabalho de conservação. As ruínas e objetos que fizeram parte da vida da comunidade são poucos e Shigeru assumiu a missão de dar-lhes guarida, antes que desapareçam:
 
- Não quero abandonar isso aqui, tenho paixão por esse lugar, disse ele ao enviado especial da Folha, jornalista Lucas Reis.
 
A história do guardião remonta ao ano de 1964, quando desembarcou no Brasil, aos 16 anos, em Belém do Pará, com os pais e mais três irmãos. Vinham de Fukuoaka, no Japão. Um dia foi convidado por uma integrante da família Bezerra (importante em Airão Velho), ex-moradora, para cuidar das ruínas. Ele aceitou a tarefa e começou a recolher os remanescentes históricos, formando um pequeno museu em sua casa. Na época de finados, limpa o cemitério. A patroa morreu em 2012, mas ele continua firme, cuidando e preservando o lugar.
 
photo: Bruno Kelly (Folhapress)
 
Segundo Shigeru, o local é conhecido internacionalmente e recebe turistas, principalmente estrangeiros, além de pesquisadores. "Não restou quase nada, mas tem muita história", afirmou a Lucas.
 
Conforme a reportagem, sobraram poucas coisas: uma casa de comércio, uma residência, o cemitério, uma escola, restos da igreja construída em 1702.

O pedido de tombamento está sendo examinado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Tomara que a resposta não tarde e seja positiva.
 
A matéria da Folha, revelando o zelo do japonês em plena Floresta Amazônica, traz a idéia de que o mundo é quintal de todos, independente da nacionalidade e do lugar onde a pessoa resolve viver. Shigeru cuida daquele torrão brasileiro como se tivesse nascido lá. É uma relação de amor com a terra, com a memória dos que lá viveram, com a história da velha e extinta cidade.
 
Aquilo que para muitos seria motivo de insuportável solidão, para o imigrante é razão de realização e orgulho. Sua razão de viver. Tornou-se um filho da terra.
 
Esta história demonstra que o que vincula um indivíduo a um lugar é o sentimento e o compromisso que tem em relação a ele.

A ideia de pertencimento é coisa de coração e mente, não de papéis oficiais. São atitudes como a de Shigeru Nakayama que fazem a diferença entre a conservação e a destruição da Amazônia (e do próprio planeta).
 
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Folha de São Paulo, edição digital de 29/12/2013. Reportagem do enviado especial Lucas Reis com fotos de Bruno Kelly (Folhapress):
Texto  revisto, publicado em 02 de janeiro, 2014.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Aviso aos navegantes

Jorge Finatto
 
barquinhos de papel: Clara Finatto
 
 
Por razões de produção, o lançamento não ocorrerá mais em 24 de outubro, ficou para 28 de novembro, às 19h, na Escola Superior da Magistratura. 

LANÇAMENTO do meu livro Navegador de barco de papel, crônicas, dia 24 de outubro próximo, na Escola Superior da Magistratura, em Porto Alegre. Resolvi publicar algo novo depois de doze anos sem dar o ar da graça em livro. Como diz aquela canção antiga, há sempre uma ilusão...Vamos navegar!