terça-feira, 28 de março de 2023

O passeio

 Jorge Finatto

photo: jfinatto


Saímos a caminhar nesses inícios de outono. Na verdade ele me levou pra passear.
Gambelinho sentou-se à minha frente e ficou me olhando firme nos olhos, como sempre faz. Este é o convite. E não costumo dizer não pra ele. Seu olhar tem doçura e afeto.
Por aqui não faltam pinheiros, córregos e estendidos gramados. E lá no fundo tem as montanhas (menos altas do que a nossa montanha).
É nesse espaço que hoje ficamos um bom tempo. Onde ele gosta de correr contra o vento, esticando as orelhinhas pra trás.
O tempo promete dias amenos e depois gelados. Um jato passa lá em cima entre nuvens escuras, não o vejo. O som espesso traz a esperança de futuras viagens pós-pandemia.
Isso anima depois de tempos tão difíceis e dilacerantes. De profundo obscurantismo e violência no Brasil.
Esta paisagem que eu tanto procurei na minha vida (depois de nela ter vivido a infância) abre uma janela para a harmonia espiritual. E é a promessa de que, talvez, em breve, possamos voltar a sonhar.

sábado, 18 de março de 2023

Presença da rosa

A rosa no fim do verão. Alegria no coração.


photo: jfinatto


domingo, 5 de março de 2023

O cardeal e Lutzenberger

 Jorge Finatto

foto: Alex Rocha, Prefeitura de Porto Alegre



Estava lendo ontem, com algum atraso, um jornal de novembro do ano passado, que tirei da pilha no escritório, quando vi a notícia da inauguração do mural em homenagem a José Lutzenberger (1926-2002), ambientalista, filósofo, cientista,engenheiro agrônomo, paisagista, um dos pioneiros na luta pelo meio ambiente e pela consciência ecológica no Rio Grande do Sul e no Brasil.

A obra foi construída na parede lateral do Instituto de Previdência do Estado, na esquina da Av. Borges de Medeiros com Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, em Porto Alegre, sendo autor o artista visual Kelvin Koubik.  Tem 50 metros de altura por 15 de largura.

Fiquei feliz com a justa homenagem ao grande lutador da causa ambiental, seguramente aquele que mais a defendeu naqueles sombrios anos 1970 e depois até sua morte. Foi a pessoa que mais se expôs na batalha ecológica, sendo alvo de toda sorte de incompreensões por parte dos que só veem sentido no lucro fácil e imediatista, para quem a natureza nada mais é do que um atrapalho. 

Lutzenberger fez desenvolver o pensamento ambientalista de forma nunca antes vista entre nós e seu trabalho correu o Brasil e o mundo. Não por acaso recebeu, além de pedradas, várias distinções, como o Prêmio Nobel Alternativo. 

O belo painel traz o ecologista entre borboletas, bromélias e um lindo pássaro cardeal pousado sobre o indicador esquerdo. A visão do cardeal é especialmente feliz na minha memória afetiva, já que era o passarinho que eu mais gostava quando vim morar em Porto Alegre, no bairro Mont'Serrat, ainda menino. 

O Mont'Serrat, o bairro Bela Vista e arredores eram formados, em parte, por chácaras e matos nos quais havia animais e aves por onde a meninada saía em caminhadas e descobertas nos anos 1960. No lugar onde hoje fica o Shopping Iguatemi havia um tambo que abastecia com leite a vizinhança... O cardeal sumiu da paisagem urbana, assim como aquela natureza. E o velho tambo ficou só na lembrança.

Em 1973, em plena ditadura civil-militar (1964 - 1985), participei do curso de extensão Equilíbrio e Crise do Meio Ambiente, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As falas lúcidas e entusiasmadas de Lutzenberger foram fundamentais na minha iniciação ao pensamento ecológico e humanístico, na ventura dos meus16 anos.

Num país como o Brasil a disciplina de Educação Ambiental não poderia faltar em nenhuma escola e universidade, seguindo os ensinamentos do mestre. Para evitar os desastres do presente e os que estão por vir. Para o bem de todos e esperança no futuro.

sexta-feira, 3 de março de 2023

Rosa vermelha

 A Zero Hora de ontem publicou esta foto da querida rosa vermelha do nosso jardim, depois da chuva. Bem haja!




sábado, 25 de fevereiro de 2023

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O caso da enciclopédia

 Jorge Finatto

photo: jfinatto


COMO A CASA da serra está cheia de livros, um dia desses fui aconselhado pela família a me desfazer ("desapegar") daqueles que não interessam mais (livros há muito lidos, esquecidos, que não pertencem ao grupo dos "essenciais").
 
Providência, aliás, que tomei há um ano, separando duzentos e alguns livros para doar, a décima parte do acervo. Só que ainda não tive coragem de concretizar o gesto, porque a cada olhar retiro os que, pensando bem, merecem ficar. E, assim, cada vez que olho a pilha, retiro alguns, diminuindo o desapego. 
 
Sabendo da minha dificuldade em "desapegar", alguém da família teve a gentileza de retirar de uma estante, e acomodar sobre a escrivaninha, a velha Enciclopédia Barsa. Quando, ao regressar de viagem, entrei no escritório, dei com aquele quadro (para mim) "dantesco".
 
Pra quem não sabe, as enciclopédias eram o Google de antigamente. A elas se recorria para pesquisar e realizar estudos nas mais diversas áreas do saber e da cultura. Eu comprei a Barsa com sacrifício, pagando em prestações. Além dos volumes, com bonita encadernação em vermelho, havia os "livros do ano" que traziam as atualizações.

Aquela enciclopédia, há quase quarenta anos, me deu esperança de dias melhores para meus filhos. Acreditava, como ainda acredito, no estudo e no conhecimento como ferramentas para construir caminhos.

Como poderia me desfazer de algo com tanto significado? Resumo do caso: pedi que recolocassem a Barsa no lugar. Não estou em condições de fazer o desapego...

Numa espécie de codicilo verbal, disse que, quando fizer a passagem, podem fazer da Barsa o que quiserem. Mas, por enquanto, ela fica, assim como os demais livros que me ajudaram e ajudam a viver. Porém deixo claro: se vier um pedido de doação para escola ou outra instituição, poderei doar com prazer.
 
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Texto revisado, publicado antes em 12 de julho 2018.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Flor da coragem e da esperança

 Jorge Finatto

photos: jfinatto


Enfim o velho cáctus exibiu a sua bela flor, que nasce ao anoitecer, avança pela madrugada e morre aos primeiros raios do Sol.
A flor do cáctus, ou flor da noite, dama da noite ou flor de mandacaru, para além de sua formosura e seu perfume, simboliza a coragem, a força e a esperança do povo nordestino, e por extensão do povo brasileiro, na sua luta por uma vida digna, contra a violência social manifestada na pobreza, na fome, na injustiça, na desumanização e no desespero.
Ver a flor da noite traz paz e resiliência ao coração e nos fortalece para a luta de cada dia.
(A ideia de fugir de tudo e ir viver no mato não está mais em questão, até porque estão botando fogo na floresta e matando quem vive lá. Faz tempo.)