sábado, 15 de fevereiro de 2014

Livros perdidos e achados

Jorge Adelar Finatto
 
photo: Eugénio de Castro


Fiz uma relação de livros de escritores portugueses antes de sair do Brasil. São obras que não encontro na Terra de Vera Cruz.  Achei quase todos, com duas exceções. Lisboa, livro de bordo (crônicas, 1997), de José Cardoso Pires (1925-1998), e Constança (poesia, 1900), de Eugénio de Castro (1869-1944).
 
Percorri cerca de 20 livrarias e alfarrabistas, entre o Porto e Lisboa, e nada. Na terça passada encerrei a busca visitando velhos alfarrabistas do Bairro Alto. A resposta foi a mesma: não existem mais.
 
Esses livros não podem faltar na livrarias.

photo: José Cardoso Pires

A Lisboa de Cardoso Pires é a cidade vista a partir da alma do grande escritor, capaz de traçar notáveis sínteses em poucas linhas com seu olhar penetrante e sensível.
 
Constança foi uma indicação de Don Miguel de Unamuno quando li, ainda em Salamanca, o seu Por tierras de Portugal y de España.* Diz o genial e valoroso filósofo espanhol:
 
Portugal parece a pátria dos amores tristes e dos grandes naufrágios.
 
(...) nenhuma obra (de Eugénio de Castro), a meu entender, e sobretudo a meu sentir, sobrepuja Constança, publicada em 1900. Constança é sua obra mais profundamente portuguesa, aquela em que sua alma conseguiu vibrar mais em uníssono com a alma de seu povo. É como se sua mão ao escrevê-la se houvesse convertido na arpa eólica de seu povo, vibrando ao sopro da alma deste. A lírica de Constança é a mais alta e mais nobre lírica, aquela que, sendo profundamente coletiva, é, por isso mesmo, profundamente pessoal.
 
Constança foi a mulher do infante D. Pedro, aquele da infeliz Inês de Castro, cujos trágicos amores imortalizou Camões.

Vindas de Don Miguel, imaginem o significado destas palavras.

Aí estão as duas sentidas faltas na mala dos portugueses que levarei comigo.

Manuel António Pina. Wikipédia

Nunca entendi por que estamos tão distantes da literatura e da cultura dos países de língua portuguesa. Vivemos no Brasil uma espécie de isolamento dentro da lusofonia.

Autores como José Saramago, Mia Couto e, depois, António Lobo Antunes começaram a desembarcar em terras brasileiras nos últimos anos. É muito pouco diante da pluralidade de autores lusófonos.

Em Portugal, percebo que há também um distanciamento do Brasil, pouco se conhece.

Estou levando a mala pesada de livros, mas o esforço compensa. Entre outros, levo comigo Lobo Antunes, Alexandre O'Neill, Eugénio de Andrade, Agostinho da Silva, Herberto Hélder, Maria Gabriela Llansol, J. Cardoso Pires, Fernando Pessoa, J. Saramago, Maria Velho da Costa, Ruy Belo, Vitorino Nemésio, Manuel António Pina, Eduardo Salavisa.

Na Suíça consegui encontrar as obras de Rilke que perseguia. Em Madri, completei a biblioteca básica de Ortega y Gasset, graças à generosidade da Fundação Ortega y Gasset que me repassou, sem cobrar por isso, volumes fundamentais do filósofo.

Dos espanhóis tratarei em texto próprio. Os discos também merecem um post à parte.

De que vale, afinal, uma viagem, se não for para procurar aquilo que nos faz falta em nossa paisagem espiritual?  
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*Por tierras de Portugal y de España, Miguel de Unamuno, Biblioteca Unamuno, Alianza Editorial, Madrid, 2011. Tradução do trecho acima: J. Finatto.
 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Pastéis de Belém, Farta Brutos, marialva, etc.

Jorge Adelar Finatto
 
mapa no Museu da Marinha, Lisboa. photo: j.finatto

A tarde de chuva me levou ao bairro de Belém, em Lisboa, para degustar mais uma vez os famosos Pastéis de Belém e beber a costumeira taça de café com leite. Como sempre, a casa estava muito movimentada. Como sempre, o atendimento é dos melhores. Turistas de vários países, a malta brasileira em bom número.
 
Os Pastéis de Belém só se encontram neste lugar, em nenhum outro, assegura o funcionário. O que se vende nas outras pastelarias são pastéis de nata, esclarece, sem desfazer deles. São diferentes apenas. Eu acho os de Belém mais refinados.

photo: j.finatto, 12.02.2014
 
Caminhei, depois, à extensão do Mosteiro dos Jerônimos onde estão os restos mortais de Fernando Pessoa, Vasco da Gama e outros grandes da história portuguesa. Fui em direção ao Museu da Marinha, que visitei há quase um mês.
 
A exposição de barcos verdadeiros, muitos deles históricos, fez a minha alegria de bicho das águas. Voltei hoje pra procurar uma lembrança na lojinha náutica que existe ali ao lado. Encontrei um pequeno sino dourado de convés de navio que vai para o convés do meu escritório em Passo dos Ausentes.

Na segunda-feira jantávamos com amigos portugueses no Farta Brutos, restaurante de cozinha tradicional portuguesa do Bairro Alto. Entre os freqüentadores históricos, Jorge Amado, José Cardoso Pires, José Saramago, só pra mencionar alguns. Sentamo-nos à mesa preferida de Saramago, na qual existe uma placa recordando o freguês ilustre.

Farta Brutos. photo: j.finatto, 10.02.2014

A conversa ia animada com garfadas no prato de bacalhau, o vinho tinto celestial (cujo nome não sei porque foi escolha do amigo, me distraí e não reparei no rótulo). Até que ao falar em livros, literatura, escritores, pintores, fadistas, etc., surgiu no meio a palavra marialva, que esses ouvidos nunca tinham ouvido. Fulano era um marialva, alguém disse.
 
Pelo rumo da prosa, marialva é o indivíduo namorador, rabo-de-saia, amigo da noite, boêmio. Não é uma delícia?

Um dado interessante mencionado por Francisco Oliveira, proprietário do restaurante. Aquele edifício foi um dos que escaparam da destruição durante o grande terremoto que destruiu parte de Lisboa em 1º de novembro de 1755.
 
Uma notícia de hoje, mais uma que ilustra a crise que o país atravessa: 21 licenciados moram nas ruas de Lisboa. Gente que fez curso universitário e não encontra saídas (profissional, pessoal). É duro.
 
O mundo dos grandes navegadores portugueses era pequeno e se conquistava numa caravela.

Hoje é infinito e ninguém se entende. 
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O barbeiro de Fernando Pessoa:
http://ofazedordeauroras.blogspot.pt/2011/03/o-barbeiro-de-fernando-pessoa.html
 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O amor de Fernando por Ofélia

Jorge Adelar Finatto

 
O amor de Fernando Pessoa por Ofélia, o seu Bebé, é o único envolvimento conhecido do poeta com uma mulher. Não se tem notícia - eu pelo menos nunca ouvi falar - de que tenha havido outra em sua vida.
 
Suas cartas de amor, publicadas em livro, dão uma mostra de como todo ser humano - inclusive um gênio como Pessoa - necessita amar o amor.
 
Precisamos acreditar na idéia do amor romântico, esse que nos faz levitar entre nuvens de perfume (mesmo sabendo que, no fundo, mentimos para nós e para o outro). Os rubores da alma.
 
Queremos nos iludir achando que vai surgir esse outro que nos fará sair do calabouço, nos completará e fará felizes, nos consolará e não morrerá antes de nós.
 
Que sei eu. Talvez tudo isso tenha mesmo que ser assim. Amar o amor, e suspirar em bancos de praça, entre flores.
 
 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A tragédia do desemprego

Jorge Adelar Finatto
 
A Casa Gris, 1917, Marc Chagall*
 
A pior coisa que pode acontecer a um homem ou a uma mulher, depois da perda da saúde, é ficar sem trabalho. O trabalho é aquele algo sem o qual todo o resto fica a perigo. A vida afetiva, a vida familiar, a paz de espírito, a alegria de viver, a autoestima, tudo resta afetado quando a sobrevivência está em risco.
 
Eu vivi essa experiência e sei que é devastadora. Tinha 25 anos e meu patrão, na época, decidiu que minha presença não era mais necessária. Depois de 4 anos de serviços prestados com dedicação, levei um pontapé no traseiro, sem qualquer explicação. Ia ser pai do primeiro filho e não tinha mais dinheiro do aluguel e da comida.
 
Me lembro que nos primeiros tempos passei a sentir uma espécie de vertigem pela situação. Encostava numa parede, respirava fundo, esperava passar. Segui em frente. Porque aos 25 e com o apoio da família nada está perdido.
 
Há que buscar forças nas profundezas, ter persistência, esperança, não desanimar. Em nenhuma hipótese. Amanhã será melhor.
 
Fiquei muito tocado com a matéria de capa do jornal Público deste domingo, que trata do problema da emigração de portugueses forçados a deixar seu país depois dos 50 anos por causa do desemprego.
 
A tragédia da falta de trabalho atinge todas as faixas etárias em Portugal. Mas sinto como profundamente desalentadora a situação dos que, na madureza, ficam sem o ganha-pão, obrigando-se, sabe lá Deus com que forças, a abandonar sua terra, sua gente, seus afetos, reiniciando uma história num lugar estranho.
 
O aeroporto não é saída para o sério problema social. Os países mais ricos da União Européia, ao que parece, não pensam dessa forma e lavam as mãos, como o célebre personagem bíblico. É preciso repensar essa união. Já não se utilizam invasões militares, canhões e tiros para submeter outros povos. As armas são mais sutis, mas os efeitos igualmente terríveis na vida das pessoas. 
 
Impõem-se medidas intoleráveis de "ajustamento" a países mais fragilizados como Portugal. Reduzem-se salários e pensões, aumentam-se impostos, cortam-se investimentos em áreas fundamentais, jogam-se milhares e milhares no desemprego e no desespero. A juventude se vê sem nenhuma perspectiva. Se a União significa isso, não serve. Muito triste.
 
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Coleção do Museu Thyssen-Bornemisza, Madri, Espanha:

photo de abertura do blog: Café do Chiado, Lisboa, 10.01.2014
 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Stephanie, temperamental e perigosa

Jorge Adelar Finatto
 
Stephanie, Portugal. fonte: Centrotv.pt*
 
O retorno a Portugal acontece em meio à tempestade Stephanie. Só agora à noite, ao ligar a televisão, vim a saber que o país está sendo sacudido pela dita senhora, e não apenas na costa. Pausa.
 
(Pra tirar a viagem do corpo, fui ao cinema assistir Ao Encontro de Mr. Banks, no Shopping Amoreiras.) 
 
(O filme conta a história de como Walt Disney levou 20 anos para adquirir os direitos de filmagem do livro Mary Poppins, da escritora australiana P.L. Travers. Um bom filme, tendo Emma Thompson no papel da difícil e inflexível autora, e Tom Hanks interpretando Disney, sem esquecer o sempre talentoso Paul Giamatti, motorista que consegue uma aproximação mais humana com Travers.)
 
(Há um bom cappuccino no café Praça Central, deste shopping, que faz companhia à não menos gostosa baguete de frango.) Fim da pausa.
 
Como não sabia da chegada de Stephanie, quando saí do cinema fui surpreendido com ferozes ventos a varrer Lisboa. No caminho para o hotel, tive meu chapéu bruscamente arrancado da cabeça. Saí atrás pela calçada molhada da chuva. Um jovem teve a agilidade de apanhá-lo, quando passava voando a seu lado, num golpe de gato. 
 
A partida entre Benfica e Sporting foi suspensa devido à ventania que chegou a derrubar placas sobre a arquibancada. Felizmente os torcedores já haviam se retirado, evitando uma tragédia (a partida não chegou a iniciar). Prevêem-se mais chuvas e ventos de mais de 130 km por hora e cheias nos rios Tejo e Mondego, entre outros. Alguns pousos de aviões foram desviados do aeroporto de Lisboa.
 
De modo que esse é o quadro. Esperamos que Stephanie seja razoável e vá embora sem mais tardança.
 
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Centrotv.pt:
 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Um monge voa nas catedrais de Salamanca

Jorge Adelar Finatto
 
Vista das catedrais de Salamanca (à dir.) a partir da ponte construída
pelos romanos sobre o rio Tormes no início da era cristã. photo: j.finatto
 
Há um monge adormecido na minha alma. Alguém que se alegra no silêncio e no recolhimento do invisível claustro. Como todo monge que se preze, gosta mais da Renascença do que da Idade Média.
 
O monge que me habita - esse tal que atravessa o oceano para visitar a solitude de velhas igrejas - gosta da arte religiosa, porém é um iconoclasta e um revoltado quando se trata da Inquisição, de inquisidores e abusadores sexuais da Igreja Católica.

photo: j.finatto


Aos diabos com todos eles. Que ardam no inferno que criaram. Que respondam pelos crimes cometidos, diz o monge inconformado.
 
- Não se misture essa gente má com aqueles que, no âmbito da religiosidade sã, tantas coisas boas fizeram e fazem. Cada macaco no seu galho.
 
Levo o monge a caminhar pelas ruas do Casco Viejo de Salamanca, na Espanha. Vamos até o interior das catedrais Velha e Nova. A Velha foi construída entre os séculos XII e XIV, nos estilos românico e gótico. A Nova, entre os séc. XVI e XVIII, nos estilos gótico e barroco. São geminadas, transita-se internamente por ambas, sem necessidade de sair à rua.

photo: j.finatto
 
O monge passeia entre as naves e oratórios, nichos, relicários e retábulos. Voa em direção às abóbadas, vôo em profundidade vertical acima das colunas para estar mais perto da luz que entra parecendo iluminar a treva da condição humana.
 
Quem sabe um anjo aparece e nos salva do vazio e da tristeza desse mundo, consola-se o monge.
 
photo: j.finatto
 
Detalhe das catedrais. photo: j.finatto

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Don Miguel de Unamuno

Jorge Adelar Finatto
 
Miguel de Unamuno

Pensa o sentimento, sente o pensamento;
que teus cantos tenham ninhos na terra,
e que quando em vôo subirem aos céus
atrás das nuvens não se percam.
                             
                                      M. Unamuno, Credo Poético¹
 
O rio Tormes atravessa Salamanca. A vida da cidade remonta a 2700 anos. Histórias, portanto, não faltam. Em 220 antes de  Cristo, por exemplo, o general cartaginês Aníbal invadiu o lugar. Trouxe 40 elefantes junto com seu exército. Em meados do século I a.Cristo, Salamanca foi conquistada pelos romanos. Eles construíram sobre o rio a ponte que está lá até hoje. Os engenheiros romanos fizeram bem sua parte por onde passaram.
 
Mas o que me trouxe à cidade não foram fatos como estes, e sim conhecer a Casa Museu Unamuno¹ e um pouco mais da vida do escritor e filósofo. O museu faz parte da Universidade de Salamanca (segundo alguns, a mais antiga da Europa, criada em 1218). Ontem saí cedo para fazer a visita. Fazia muito frio, ventava, garoava.

O ingresso ao museu custa 4 euros (cerca de 13 reais). Infelizmente não é permitido tirar fotos no local. O prédio onde está localizado sediava a antiga casa reitoral. Eleito reitor em 1900, Don Miguel de Unamuno (1864-1936) foi convidado pela instituição a ocupar a casa com sua esposa e filhos, sendo que quatro dos nove que o casal teve nasceram ali e um deles, Raimundín, ali faleceu.

fachada da Casa Museu (esquerda). photo: j.finatto
 
Depois de sair do cargo, em 1914, passou a viver numa casa da Calle Bordadores, que ocuparia até a morte. Esta casa se situa ao lado da estranha Casa das Mortes, com suas esculturas humanas deformadas na fachada.
 
A Casa Museu reconstrói a moradia de Unamuno e família. Conta com diversos objetos pessoais, mobiliário e os cerca de 6 mil livros que ele doou à universidade. Ali estão o escritório, o quarto, o penico, a biblioteca, a sala, a escadaria a pique para o segundo piso feita com pesadas pedras.

Encontram-se, também, a sua boina basca, os óculos, o chapéu, bengalas (era um caminhante das ruas da cidade). Retratos nas paredes, pinturas, poemas que escreveu na solidão do escritório, manuscritos.

A claridade do dia entra pelas amplas janelas e dá vida ao ambiente como fazia naqueles tempos.

escultura de Unamuno, Salamanca, autor: Pablo Serrano, 1968. photo: j.finatto
 
O mínimo que se pode dizer de Miguel de Unamuno é que é um pensador absolutamente original, um filósofo dos mais importantes não apenas do século XX como da história da humanidade. Um escritor que trabalhou a palavra como poucos e que através dela conseguiu dizer o indizível.

Um poeta de grande talento e sensibilidade que também escreveu peças de teatro, novelas, artigos para jornal, manifestações públicas e livros imperdíveis. Um homem público na extensão do termo, envolvendo-se com a política, o socialismo, a república, antimonarquista.

Um cidadão de grande coragem moral diante das injustiças e da desumanização. Participou da Geração de 98, grupo que reanimou a cultura e o pensamento espanhóis após a grande crise que adveio com o fracasso do país  na guerra hispano-americana.
 
Nos últimos dias, decepcionado com as ações do governo de Franco que então se instaurava, e que apoiara nas primeiras horas,  permaneceu recolhido na casa da Calle Bordaderos, na condição de inimigo do novo regime que iniciou a terrível Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

detalhe da escultura. photo: j.finatto
  
Unamuno não aceitou a violência absurda dos que prendiam e matavam quem não estivesse do seu lado, entre opositores, pessoas comuns do povo e intelectuais indefesos como o poeta Lorca, assassinado em agosto de 1936 (até hoje o corpo não foi encontrado).

Contra isso insurgiu-se o filósofo num discurso célebre ("Vencereis, mas não convencereis")², feito na condição de reitor da Universidade de Salamanca, na cerimônia de abertura do ano acadêmico, em 12 de outubro de 1936. Dela participava a cúpula do franquismo, inclusive a esposa do general Franco. Por pouco não foi morto pelos militares presentes, sendo protegido pela mulher de Franco, Carmen Franco, que o acompanhou até sua casa. Foi então destituído do cargo e obrigado a ficar recluso.
 
escritório do filósofo. fonte: site do Museu
 
Unamuno é muito mais do que uma estátua numa praça de Salamanca ou do que um personagem empoeirado de museu.
 
Raramente uma cidade está tão identificada com um homem como neste caso. Salamanca e Unamuno são inseparáveis. Carregam em si a idéia de que o espírito sempre prevalecerá sobre a indiferença, a violência e a morte.
 
A obra de Don Miguel é profundamente humana e instigante. Não conheço nada parecido. Del sentimiento trágico de la vida é desses livros fundadores, capazes de mudar a nossa consciência das coisas ou, pelo menos, de ampliá-la em larga proporção. Falar de seus livros - a notável qualidade literária, a visceralidade do conteúdo - em poucas linhas, seria leviano. Fica, em todo caso, este registro de um dia gelado em Salamanca.
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¹Poema (fragmento) do livro Poesías, Cátedra, Letras Hispánicas, terceira edición, 2009. Tradução: j.finatto.

²Casa Museo Unamuno:
http://unamuno.usal.es/index.html

³Ariel Palacios:
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/vencereismas-nao-convencereis-unamuno-e-a-razao-contra-a-forca/