segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Maria Madalena

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto

Maria Madalena teve o privilégio de ser a primeira pessoa a ver Jesus após a Ressurreição.  Nenhum dos apóstolos teve essa ventura. Havia nas cercanias do lugar onde ele foi assassinado (Monte Gólgota, Jerusalém) um jardim e, neste, um túmulo novo ainda não usado. Foi nele que o sepultaram José de Arimateia (discípulo secreto de Cristo, homem influente e rico) e Nicodemos, o corpo envolto em fino linho.

Enquanto ela chorava diante do túmulo, onde o corpo não estava mais, Jesus apareceu-lhe. Era de manhã muito cedo. Num primeiro momento ela não o reconheceu. Até que ele fala: "Maria!". E a alegria de Madalena é infinita. Em lágrimas, ela toca o Senhor levantado dos mortos.  Ele então lhe diz:

- Para de agarrar-te a mim. Porque ainda não ascendi para junto do Pai. Mas, vai aos meus irmãos e dize-lhes: "Eu ascendo para junto de meu Pai e vosso Pai, e para meu Deus e vosso Deus". (João 20:17)

Impressiona o amor de Maria Madalena por Cristo e o sentimento que os unia. Ele tinha expulsado sete demônios dela e a partir de então ela passou a segui-lo e amá-lo, segundo o relato bíblico.

Em sua passagem pelo mundo, Jesus mostrou-se um ser espiritual num corpo humano. Um ser que valorizava muito o afeto. Daí ter proclamado a importância de amarmos ao próximo como a nós mesmos. Teve o amor como algo urgente e necessário.

Estamos à véspera da Ressurreição, no domingo de Páscoa. Relendo os quatro Evangelhos por esses dias (Mateus, Marcos, Lucas e João), dei-me conta de que, durante a vida,  assim como nas horas finais e na Ressurreição, Cristo foi acompanhado de perto, modo amoroso e dedicado, por mulheres.

O aparecimento de Jesus a Maria Madalena é revelador disso. É prova de gratidão e carinho. Mostra que ele não era indiferente à presença feminina, mas tinha-a em elevada consideração.

Não há informes sobre Maria Madalena (da aldeia de Magdala, cuja existência foi comprovada por recentes escavações em Israel), além dos Evangelhos. Sabe-se, por exemplo, que assistiu Cristo e os apóstolos com seus bens como outras mulheres também o fizeram (Lucas 8: 1, 2, 3).

Quem foi essa mulher? O que fez e como viveu? Que momentos luminosos compartilhou com Jesus? Como se passaram seus dias depois da morte de seu amado Senhor? São mistérios a desafiar interpretações e especulações.

Uma coisa, contudo, parece certa: por ser quem era e pelo seu amor, ela conquistou o coração de Jesus.
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Texto revisto, publicado em 15 de abril de 2017.
 

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Drummond, vida que não se apaga

Jorge Finatto
 
Drummond. foto: Stefan Rosenbauer. O Globo, 17/12/2016

E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
Carlos Drummond de Andrade no poema O Sobrevivente.
 
Hoje completam-se 117 anos do nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade (31/10/1902). Ele foi um bem na floresta escura da minha/nossa vida. Um ser que espalhou claridade no mundo em forma de poesia. Republico esta postagem de 31 de outubro de 2017 em homenagem ao aniversário do bardo. 
 
"O JOVEM LEITOR afeiçoou-se ao poeta. Compartilhou com ele, mais do que palavras, a viva vida que elas expressavam. E como diziam coisas as palavras do bardo itabirano!
 
Havia entre poeta e leitor uma secreta cumplicidade. Um andar juntos pelo mundo. Uma troca de confidências, alegrias, queixas, protestos, malquereres, desertos, amores, esperanças. O invisível amigo percorria com o jovem os duros caminhos do mundo. Caminhos de pedra.
 
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) será sempre o lúcido, o lírico, o amoroso, justo enlace razão-emoção, construtor de versos indeléveis na língua universal da poesia. Enquanto houver livros e leitores, Carlos Drummond será sinônimo de altíssima poesia e claro pensamento.

Ele traduziu o ser-no-mundo, às vezes cambaio, às vezes indescritivelmente só, mas sempre solidário em sua humana caminhada.
 
O poeta não se esquivava e respondia as cartas que lhe chegavam todos os dias. Generoso, sabia colocar-se, não acima, mas ao lado do leitor que o procurava ávido por um contato, mínimo que fosse. Respondia com incomum e delicada atenção as missivas.

Quando escrevia na resposta o nome do jovem missivista, manuscrito com tinta azul na folha branca, retirava-o do anonimato, reconhecia-lhe existência, tratava-o como um semelhante. Sábio e sensível ao outro, ele sabia que o poema só existe quando desvelado aos olhos do cúmplice leitor. As duas cartas que dele recebi são, para mim, verdadeiras relíquias literárias e sentimentais emolduradas na parede do escritório.
 
Drummond fez um imenso bem à minha alma, aos meus jovens dias e aos dias que vieram depois. Neste 31 de outubro, em que se comemora seu aniversário (vida estendida no testamento da poesia), renovo a emoção de abraçá-lo com o coração. Afeto que o tempo não apaga."

"No mar estava escrita uma cidade". verso do poeta na escultura da
Av. Atlântica, Rio de Janeiro. photo: jfinatto

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Cálido

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto
 
Preciso escrever
o poema
que vai salvar
esse dia

o poema cálido
para atravessar
o tempo difícil
que ainda tenho
pela frente

o poema que vai
expulsar
a vontade
de morrer
que chega
aos poucos
como um felino
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Do livro Memorial da vida breve, Jorge Finatto, Editora Nova Prova, Porto Alegre, 2007. 

domingo, 27 de outubro de 2019

Parece que nunca mais

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto. Claraboia, Museu Iberê Camargo, Porto Alegre.
 
Sei lá, o MUNDO está de cabeça pra baixo. Mas fiquemos tranquilos (?), não começou agora, nem ontem. Vem assim desde o início. Às vezes acho que o ser humano é um projeto que não deu certo. Mas aí fico triste, desanimo, tenho pena de Deus e tenho medo de sua ira por pensar dessa forma. Mas parece que o mal está feito, que as pessoas nunca conseguirão ser bondosas, amando-se umas às outras como era pra ser (ou, pelo menos, não se destruindo feito feras). Parece que nunca mais conseguiremos sair à rua e nos encontrar sem receio de ser mortos por bandidos ou por algum sniper emboscado. É uma pena especialmente nessa época em que as AÇUCENAS enchem o bairro com seu aroma incrível. Enquanto isso nos escondemos atrás da janela. Olhamos o tempo passar, ouvindo os tiros.
 

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Um barco pra sonhar e pensar

 

 
Trecho da crônica Quinquilharias San Telmo.
 

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Domingo com garça

Jorge Finatto
 
fotos: jfinatto. local: Grêmio Náutico União
 
Na TARDE de domingo, caminhando pelo bairro, encontrei uma garça no parque. Branca como nuvem, cerca de 80 cm de altura. Pisava na água que escorria da fonte. Deve ter voado 6 km  para vir do Guaíba até ali.
 
O Guaíba ainda é um viveiro de peixes e aves apesar dos despejos diários de esgoto não tratado em suas águas. Porto Alegre trata em torno de 50% de seus resíduos, o restante vai in natura para o rio.

E do rio vem a água que bebemos, cozinhamos, nos banhamos... Incrível que numa época de tanta tecnologia avançada ainda não conseguimos resolver este problema.
 
Mas ali estava a garça. Com passos elegantes pra lá e pra cá. Alçava breves voos no entorno, olhava o lugar. Uma bela visão. Convenhamos que, para uma tarde qualquer de domingo, não é pouca coisa.
 
 

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Dar-se à luz

Jorge Finatto


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Foto de Clara Finatto