Jorge Adelar Finatto
Das minhas cinzas faço um verde
nesse verde nasce um menino
eu sou o menino que acompanha este menino
somos filhos da fome do dia
como os potros que morreram cedo
nossos irmãos
na nossa rua nenhum deus mora
eis porque choramos quando o dia acaba
ou brilhamos como duas adagas ao sol
nossa canção
a invasão dos dias
nossa matéria
o que está na sombra e não tem nome
EVOCAÇÃO DE RILKE
Quem tomará a minha mão
na noite de vermes
quando o asco me derruba
feito cão pela esquina
quem de coração amigo
chegará para beber a gota
de ternura estrangulada
quem me chamará de irmão
na dor imensa
quando o medo me acerta
com suas espadas de fogo
TODO VIVENTE CARREGA
Todo vivente carrega
seu fardo de solidão
nas entranhas
cheiros rudes no corpo
primaveras esquecidas
na caduquice da memória
se eu prossigo
no caminho
não se iludam
é pura teimosia
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Poemas do livro Claridade, de Jorge Finatto. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1983.
Ilustrações: Maria Izabel Carbunck Schissi
Este teu livro é bom demais. Iguala-se quase ao Fazedor de Auroras, meu favorito.
ResponderExcluirTenho ele, comigo, habitando a estante.
Nele, poemas carregam um pouco de nosso estado de espírito, naqueles nebulosos anos 80.
A revolta contra a escuridão dos tempos, a esperança junto com os oprimidos, o imenso lirismo que teimava em impregnar nossa esperança.
Apesar dos pesares, um tempo em que tinhamos, ainda, a companhia da Utopia...
Abraço.
Ricardo Mainieri
Muitíssimo obrigado, poeta Ricardo.
ResponderExcluirA tua palavra é clara e sempre bem-vinda.
JF