sexta-feira, 23 de abril de 2010

A carne viva do ser no mundo

Jorge Adelar Finatto


O tempo passa, pessoas somem da paisagem, casas e coisas desaparecem. O que resta de tudo? Essa é a bruma silenciosa que nos cerca. A questão se impõe mesmo ante a visão dos gerânios que iluminam a janela. Houve um tempo em que tudo o que ele mais queria era ficar morando pra sempre com os avós na ruazinha qualquer da serra, o arroio passava no fundo do quintal. Numa ocasião, quis tornar-se carteiro, que é ofício nobre de quem leva palavras para as pessoas. Noutra vez, pensou ser marinheiro de longo curso. Mais tarde decidiu que devia jogar futebol. Às vezes fica imaginando o que aconteceria se tivesse realizado algum desses quereres. Seria outra pessoa. Existe um tanto de mistério e imponderável nos caminhos. Dizem que  os rigores da sobrevivência nos definem. Pode ser. Mas não é só. O inconsciente e as emoções apresentam suas demandas e objetos de desejo. A carne viva do ser no mundo. O vivente pode querer transformar-se em pedra. Mas não conseguirá desvestir-se da pele e do sensível tecido de que são feitos os quereres.  Podemos ser, e já o somos só de imaginar, um pouco dos vários sonhos que nos habitam. Agora atravesso a ponte de pedra no meio da neblina. O fugidio instante. Felicidade casual. Assim seja.

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Foto: J. Finatto

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