Jorge Adelar Finatto
As palavras viajam em torno da essência das coisas. Como num velho barco que se aproxima da ilha, e adormece na praia depois de longas voltas no seu entorno, o poeta navega no poema. As palavras tangenciam, quase tocam, mas seu destino é ficar ao largo. Às vezes mais perto, às vezes mais longe do cais. Nunca alcançamos a expressão exata e ideal daquilo que queremos comunicar. Trabalhar com palavras é deparar-se com a impossibilidade da criação perfeita, a partir dos limites da condição humana, da cognição e do sentimento incompletos que temos em relação ao mundo e a nós mesmos. Somos imperfeitos e nossa percepção e nossa fala também o são. Somos parte de um mistério infinitamente maior do que o cotidiano. Por isso escrevemos tanto e dizemos tão pouco. Por isso falamos durante uma vida e o resultado é tão escasso.
O que não nos impede de empregar todos os esforços na busca da expressão luminosa.
Se com palavras é difícil viver, sem elas estaríamos condenados à escuridão da caverna.
Cada palavra clara é um fósforo que se acende no breu. Uma maneira de dizer sim à partilha do estar no mundo.
______
Foto: J. Finatto
Adelar, num poema digo:
ResponderExcluir"escrevo/para pacificar os fantasmas/que trago na alma.//Para extrair cores e sons/das emoções inexatas"
Muito coisa que se passa por entre os véus da alma, não consegue ser descrito pelos instrumentos racionais que possuímos.
Mas, continuamos tentando...
Abraço.
Ricardo Mainieri