quarta-feira, 9 de março de 2011

O postigo de Deus

Claudionor, Anacoreta


As manhãs amadurecem no coração do claustro.


Como pode alguém tão pequeno, neste mundo, querer voar tão longe, sonhar tão alto?

Em meio a portulanos e cartapácios, alimento o sonho. A quimera do grande encontro me habita. Ah, as horas passadas na biblioteca do mosteiro, no Contraforte dos Capuchinhos. A cela onde me refugio em torno da mesa, viajando nos livros, no telescópio, no tempo adverso.

Ah, essas travessias desoladas pelo invisível. Aqui onde me quedo a duvidar. As místicas visões que me perseguem nestes Campos de Cima do Esquecimento.

A mirada do infinito, vertigem do pensar. Os mistérios do vir-a-ser. Um dia - eu bem sei - a face de Deus iluminará o postigo. Então tudo mais será farelo de luz caído das estrelas. Por enquanto, o trevamundo. Escuridão do existir.

As urgentes prosopopeias me constroem.

As solitárias caminhadas pela Rua do Silêncio, em Passo dos Ausentes.

Sou prisioneiro do infinito.

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Claudionor, Anacoreta, é místico e astrônomo amador. Vive no Contraforte dos Capuchinhos, em Passo dos Ausentes.
Foto: J. Finatto

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