O náufrago escreveu sobre a falésia da ilha, em verdes letras de folhas de bananeira, um pedido de socorro. Estava no lugar havia muitos dias, em meio a palmeiras, pássaros, cachoeiras, borboletas e ventos.
A ilha era muito isolada. Nem risco de avião havia naquele céu austral.
O tempo passou e nada acontecia. O náufrago começou então a escrever breves textos na areia. Não sabia se aquilo era poema, conto, crônica, desabafo ou simples diário de náufrago.
Registrava coisas, sentimentos, estados de espírito, sonhos, pesadelos, esperanças, fugas, mistérios. A água do mar vinha e apagava tudo quando a maré enchia.
O náufrago não tinha lápis nem calepino (gostava de dizer esta palavra esquisita em voz alta, no silêncio da ilha).
Um dia ele desistiu de ser descoberto. Ninguém ia escutá-lo mesmo no fim de mundo onde vivia.
Passou a escrever direto na água com a ponta do dedo.
Um dia ele desistiu de ser descoberto. Ninguém ia escutá-lo mesmo no fim de mundo onde vivia.
Passou a escrever direto na água com a ponta do dedo.
As letras azuis eram desenhadas nas linhas brancas da espuma. Escrevia com o fervor das primeiras e últimas palavras dos afogados, escrevia para sobreviver naquele mar de solidão.
As palavras afastavam-se da ilha e desfaziam-se em direção ao horizonte.
As palavras afastavam-se da ilha e desfaziam-se em direção ao horizonte.
O náufrago era agora o homem que escrevia na água.
Escrevia para os peixes e as gaivotas.
Escrevia para os peixes e as gaivotas.
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