Na universidade, fui aluno rudimentar das aulas de cinema. Só hoje, muito tempo depois, me dou conta do que aconteceu. Ou melhor: não aconteceu. Fomos rudes alunos, porque nos faltou o essencial: observar, aula após aula, ano após ano, com toda atenção, os movimentos da câmara de Manoel de Oliveira.
Deveríamos ter aprendido a ver cinema com os olhos do cineasta português. Mas fomos por outros caminhos.
A sintaxe intimista e inaugural de Manoel de Oliveira respira silêncio, mistério e revelação. Ao mesmo tempo, poucas vezes se veem imagens com essa qualidade.
Na sua lenta e rigorosa composição, a câmara deste que é o mais antigo cineasta em atuação no mundo (completará 103 anos em 11 de dezembro próximo) nos leva por ermos, sinuosos, encantadores itinerários.
Manoel de Oliveira estreou em 19 de setembro de 1931, com o filme "Douro, faina fluvial". A péssima reação de parte da plateia presente naquele V Congresso Internacional de Crítica, em Lisboa, teria levado o dramaturgo e escritor italiano Luigi Pirandello a perguntar se, em Portugal, se costumava aplaudir os bons filmes com os pés...
O filme não agradou os portugueses por mostrar pessoas pobres, às vezes descalças, na dura lida do comércio de peixes. Os estrangeiros, por outro lado, gostaram muito. Iniciava-se ali um novo modo de pensar e fazer cinema.
O filme não agradou os portugueses por mostrar pessoas pobres, às vezes descalças, na dura lida do comércio de peixes. Os estrangeiros, por outro lado, gostaram muito. Iniciava-se ali um novo modo de pensar e fazer cinema.
A Manoel de Oliveira a nossa homenagem.
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