Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
Na verdade, eu não devia ter feito a primeira pergunta: "Como vai teu pai?" O amigo de infância, que não via há muitos, muitos anos, respondeu que o pai tinha morrido. Constrangido, perguntei, então, pela mãe, uma senhora querida, que me acolhia com gentileza. "A mãe também morreu, foi logo depois do pai."
Desconfortável, resolvi indagar por alguém muito mais jovem, a irmã, que certamente estaria viva e com saúde. "A Fernanda? Morreu no ano passado, uma doença fulminante, deixou marido e dois filhos."
A situação tornou-se insustentável. Notei que ele franzia a testa a cada resposta e me olhava fixamente, como a estudar minha reação diante da hecatombe.
A situação tornou-se insustentável. Notei que ele franzia a testa a cada resposta e me olhava fixamente, como a estudar minha reação diante da hecatombe.
Para amenizar, doce ilusão, perguntei se estava casado. "Sim, casei mas me separei. Tivemos um filho. Um menino, que morreu com um aninho."
Devastado, não consegui continuar a conversa. Lamentei sinceramente as perdas, desejei-lhe felicidades, despedi-me, atravessei a praça, fui embora o mais rápido que pude.
Aquele encontro foi um desastre. O curioso é que não senti de parte do infeliz um estado de consternação. Falava como se estivesse conversando a respeito do clima. O tempo todo me olhando como quem examina um ser ao microscópio. Quanto a ele, não sei, mas eu fiquei mal.
Devastado, não consegui continuar a conversa. Lamentei sinceramente as perdas, desejei-lhe felicidades, despedi-me, atravessei a praça, fui embora o mais rápido que pude.
Aquele encontro foi um desastre. O curioso é que não senti de parte do infeliz um estado de consternação. Falava como se estivesse conversando a respeito do clima. O tempo todo me olhando como quem examina um ser ao microscópio. Quanto a ele, não sei, mas eu fiquei mal.
Depois daquele dia, não faço mais esse tipo de pergunta.
Esse teu amigo, Adelar, devia carregar no alto da cabeça a famosas "nuvenzinha negra"...(rs)
ResponderExcluirEm nossa idade, neste tipo de situação, isso pode perfeitamente ocorrer.
O melhor é dizer: e aí, amigo, o que me contas da vida...(rs)
Bela crônica.
Um abraço blogueiro.
Ricardo Mainieri