terça-feira, 6 de novembro de 2012

Canção da bruma

Jorge Adelar Finatto
 
photo: j.finatto
 

Senhor
quando chegar
a minha vez
de cruzar a ponte
deixa eu levar comigo
no alforje de nuvem
os dias de sol

as tardes
de outono

os pinheiros
da serra onde
nasci

deixa eu levar
o som do riacho

as antigas
conversas
da Rua São João

me concede
a memória
dos amigos
da infância

na bruma
que serei
me alcança
um bosque
e pássaros
para tecer
a minha casa

___________

Poema do livro O habitante da bruma, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1998.
 

2 comentários:

  1. Este poema é como um pequeno oratório. pungente & lírico. Me lembrei, não sei porque, de "Guarde nos olhos", de Ivan Lins e Vítor Martins. Parecem ter um parentesco de alma.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Às vezes a gente escreve em forma de oração.
    Esse poema é uma oração.
    Muito obrigado, Ricardo.

    JF

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