O mistério dos quintais
Existe um mistério
No fundo dos quintais!
Ainda mais
Nos quintais
De casas muito antigas...
Deve ser a alma da infância
Que ficou presa ali
- qual balão cativo -
Esvoaçante no tempo...
Nascido em Palmeira das Missões em 1935, o menino cresceu no
velho casarão que abrigou seus pais e avós. Ginasiano, estudou em Cruz Alta e
Passo Fundo; no Clássico já estava em Porto Alegre, onde avançou para as Artes
Dramáticas, na UFRGS. Foi editor de texto da Cia. Cinematográfica Wilkens
Filmes. O percurso revela tratar-se de um homem em busca de realização, dotado
de sensibilidade, ligado às letras.
Antônio Carlos Arbo radicou-se em Santa Maria em 1965. Realizou
o sonho de trabalhar na então recém-fundada UFSM. Depois de passar por vários
setores, fixou-se como jornalista da instituição. Atuou na Rádio Universidade e
paralelamente na TV Imembuí. Já casado com a sua Yolanda, teve os filhos
Negendre, Dimítri e Marjoleine. Quando na adolescência os filhos homens
formaram o Quintal de Clorofila, compunha com eles, exímios instrumentistas.
Mudanças de casa também servem para encontrar perdidos que
são um achado.
Eis que recupero, depois de muitos anos, Tempoema (Imprensa Universitária – UFSM – 1979), livro de Antônio Carlos Arbo, com uma dedicatória: “Uma lembrança do primo e colega de profissão, 19-03-80”.
Não lembro o ano em que, ainda jovem para os padrões atuais, Antônio Carlos morreu. Penso em investigar. Desisto. Faz de conta que ele ainda vive. E de fato vive nas coisas belas que legou, como, por exemplo, O mistério dos quintais (dedicado a Mario Quintana) e A viagem.
A viagem
O pó levanta dos meus passos
Sem destino,
Do andar, andar, no quarto quente.
O calor podre desprende um ar
Viscoso e irrespirável,
Como o fundo de um lago de petróleo...
E as malas estão ali,
Recebendo o pó de minhas viagens
Circulares ao redor de mim mesmo.
Elas foram feitas para partir
Mas estão ali
Inertes à espera do viajor.
Somente os passos viajam
E o pó levanta no quarto quente,
Enquanto o tempo viaja nos meus passos.
_____________
Carlos Alberto de Souza é jornalista em Porto Alegre.
smcsouza@uol.com.br
(A voz de Antônio Carlos Arbo recitando O mistério dos quintais:
http://www.youtube.com/watch?v=-aoYBcJrGWk)
Eis que recupero, depois de muitos anos, Tempoema (Imprensa Universitária – UFSM – 1979), livro de Antônio Carlos Arbo, com uma dedicatória: “Uma lembrança do primo e colega de profissão, 19-03-80”.
Não lembro o ano em que, ainda jovem para os padrões atuais, Antônio Carlos morreu. Penso em investigar. Desisto. Faz de conta que ele ainda vive. E de fato vive nas coisas belas que legou, como, por exemplo, O mistério dos quintais (dedicado a Mario Quintana) e A viagem.
A viagem
O pó levanta dos meus passos
Sem destino,
Do andar, andar, no quarto quente.
O calor podre desprende um ar
Viscoso e irrespirável,
Como o fundo de um lago de petróleo...
E as malas estão ali,
Recebendo o pó de minhas viagens
Circulares ao redor de mim mesmo.
Elas foram feitas para partir
Mas estão ali
Inertes à espera do viajor.
Somente os passos viajam
E o pó levanta no quarto quente,
Enquanto o tempo viaja nos meus passos.
_____________
Carlos Alberto de Souza é jornalista em Porto Alegre.
smcsouza@uol.com.br
(A voz de Antônio Carlos Arbo recitando O mistério dos quintais:
http://www.youtube.com/watch?v=-aoYBcJrGWk)
Saudades grandes do meu pai. O poeta que compunha e cantava com a gente. Difícil dar continuidade aquela missão que ele nos deixou de defender o lirismo e a poesia frente ao terrível processo de mediocratização da arte e da cultura que avança implacável.
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