A recordação mais antiga que eu tenho de um rio é do rio Uruguai. Por algum motivo que desconheço, meus avós - com quem vivia - foram morar na cidade de São Borja, na fronteira com a Argentina, quando eu tinha dois anos.
O rio Uruguai corria (e corre ainda) largo e murmurante em São Borja, mais unindo que separando o Brasil da Argentina.
Recordo que aquela foi a primeira vez que viajei de avião. Tenho a longínqua lembrança de olhar através de uma janela redonda. Estava no colo da avó.
Partimos da Serra para o ancestral território das Missões Jesuítico-Guaranis. São Borja foi um dos povos missioneiros. Moramos por lá cerca de dois anos e depois regressamos às montanhas.
Lembro-me muito vagamente de passeios ao rio, onde as pessoas faziam piqueniques e tomavam banho na praia. Na beira do Uruguai havia conchas e pedras, em meio à areia e vegetação.
Luminosos dias missioneiros, ao menos para o menino que nada sabia de coisa nenhuma. Tenho uma foto de época vestindo pala, bota, chapéu e bombacha. Acho que foi a única vez na vida que usei indumentária de gaúcho (com muito garbo, diga-se de passagem...).
O tempo passa num doido galope.
Com os cacos da felicidade de um dia, a gente vai compondo um vaso de rara porcelana que, por falta de peças, nunca se completa. Mas o rio Uruguai está desenhado com sua cor, sua luz e seu som no mosaico daquele tempo feliz.
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