sábado, 23 de março de 2013

Somos todos de uma distante galáxia

Jorge Adelar Finatto
 
Imagem da galáxia espiral NGC 1637, divulgada nesta semana.*


A idéia de que alguém na Islândia ou na galáxia espiral NGC 1637, a cerca de 35 milhões de anos-luz da Terra, na constelação do Rio Erídano, pode estar lendo estas linhas dá o que pensar. Revela também o poder da palavra na internet, capaz de estreitar distâncias, suavizar o tempo e mitigar solidões.

Se é verdade que somos todos estrangeiros neste inóspito universo, resta ao menos a esperança de encontrar pelo caminho pessoas para partilhar a vida, tornando a viagem menos árdua e solitária.

Escrever num blog, raro leitor, é como escrever em direção a uma nuvem de estrelas. Ninguém sabe no que vai dar. 

A palavra impressa passa o sentimento físico de permanência, ao contrário do ciberespaço, no qual domina a sensação de extrema fugacidade.

Estamos acostumados a pensar no papel como se nele a palavra estivesse a salvo do tempo, do desaparecimento.

Mas a impressão de perenidade é uma quimera.

A imensa maioria dos livros está condenada ao esquecimento por falta de leitores. Sobrevivem fisicamente nas estantes, mas é uma existência sem brilho. Na verdade, vivem no escuro. A luz não ilumina suas páginas fechadas.

Só está vivo o texto, virtual ou impresso, quando encontra um leitor que o acolhe e retira da escuridão.

O resto é poeira e sombra na biblioteca (ou na tela do computador).

O blog é uma esquina onde amigos invisíveis se encontram pra conversar. Um meio de comunicação aberto a todos, lugar de partilha, região de claridades.
 
Escrever na nuvem, portanto, é uma maneira de resistir. Uma ilusão quem sabe, mas ajuda a viver.

Estou falando essas coisas talvez porque é madrugada de sábado, faz muito frio lá fora e eu olho para o céu limpo deste início de outono, tentando descobrir uma janela aberta na NGC 1637.
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*Imagem produzida e divulgada pelos astrônomos do Observatório Europeu do Sul, no norte do Chile, nessa 4ª feira, 20 de março.
 

2 comentários:

  1. Adelar, tenho notado que parte dos leitores de blogs migraram, temporariamente, para o Facebook. Logo devem retornar, esgotada a novidade.
    A escritura no ciberespaço pode, por vezes, nos parecer árida pelo pouco retorno. No entanto, algumas vezes somos tomados de surpresas agradáveis.
    Por exemplo, dias desses, um poeta lendo meu blog perguntou se podia usar alguns poemas em um jornal alternativo. Consenti, desde que respeitada a autoria. E ele, sexta-feira, mandou-me um lindo jornal impresso com desenhos e artigos criativos, lá de Curitiba.
    E assim são as coisas.
    Preservemos nossa exploração literária. Quem sabe lá do espaço outras inteligências estejam nos lendo...

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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    1. Beleza de comentário, Ricardo. Como sempre, uma visão enriquecedora.

      Um abraço.

      JF

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