domingo, 2 de junho de 2013

O corpo doce da chuva

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto


a noite passada fiquei ouvindo a chuva no telhado.

desliguei a luz, fechei o livro, afundei na poltrona do escritório, pra ficar só com o som da chuva,

nas telhas, em volta da casa, nas árvores, no verde balde cantante do jardim.

fiz silêncio para ouvir. a voz da chuva.

me levou pra bem longe.

uma chuva como da primeira vez que choveu no mundo.
 
a chuva que alguém sentiu na pele há 6 mil anos num jardim perdido.

o som da chuva é música ancestral do mundo, a canção principial.

a chuva espalhou-se em mim e me arrastou pra longe do que eu sou, chuva boa de fugir nela.

imemorial e materna, colo pra dormir. 
 
fiz silêncio até me sentir parte da chuva, até me diluir no seu ventre, no seu corpo doce e molhado,

até me esquecer.
 

2 comentários:

  1. Os sons primordiais do mundo estão aí, para quem tem alma. Infelizmente, o que mais se ouve são os roncos dos motores e das motosserras...
    Belo poema, de integração com a Natureza, pois querendo ou não somos seres da natureza e voltaremos a ela um dia.

    Abs.

    Ricardo Mainieri

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  2. Caríssimo amigo.

    De som em som, de palavra em palavra, até o grande silêncio.

    Um abraço.

    JF

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