quarta-feira, 4 de setembro de 2013

É preciso aprender a voar (e eu não sou pássaro)

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto

 
Passei horas atrás de uma palavra para compor a abertura de um texto de saudação à iminente primavera. Alguma coisa que fizesse o leitor sentir que vale a pena perder um pouco de seu tempo. As companhias.
 
Não é tarefa fácil a luta pela expressão. Começa dentro de nós e se expande em direção ao mundo. É lida interna e externa. Cada palavra é conquistada gota a gota, dor a dor. Não existem facilidades nem privilégios. Antes fosse assunto só de dicionários.
 
É preciso aprender a voar e eu não sou pássaro. Tem que rasgar as pedras em busca de ar e água pura.
 
Fotografar é uma atividade menos tensa e extenuante que escrever, ao menos pra mim. Escrever é visceral, lago sem superfície. As fotos eu faço com mais leveza. Talvez porque fotografar é ao ar livre, durante caminhadas geralmente.

photo: j.finatto

A imagem é, essencialmente, luz e superfície. E a boa foto é aquela que consegue trazer à tona o sentimento que emana do objeto.
 
Impossível não perceber a chegada da primavera, diz meu coração amador. Ela avança em silêncio entre sombras e últimos frios de inverno. De direito, começa no dia 22 de setembro próximo, mas, de fato, já anuncia seus sinais. Estão no perfume de algumas flores, no movimento agitado das aves, na aceleração das seivas.

Os brotos tenros apontam nos galhos.
 
Se a natureza revive e avança, o coração deve ir com ela. É urgente olhar as coisas como da primeira vez, tentar voar.  Se não for assim, que pelo menos ande perto de nós um pouco de luz e paz, quem sabe uma alegria dessas simples, que quando acontecem salvam o dia. 
 

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