quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Somos todos de uma distante galáxia

Jorge Adelar Finatto
 
Imagem da galáxia espiral NGC 1637*

 
A idéia de que alguém na Islândia, na China ou na galáxia espiral NGC 1637, a cerca de 35 milhões de anos-luz da Terra (na constelação do Rio Erídano), está lendo estas linhas dá o que pensar. Revela o poder da palavra na internet, capaz de estreitar distâncias, suavizar o tempo, mitigar solidões.

Se é verdade que somos todos estrangeiros neste estranho universo, resta ao menos a esperança de encontrar pelo caminho pessoas pra partilhar a vida, tornando a viagem menos solitária.

Escrever num blog, raro leitor, é como escrever com lápis de cor numa nuvem. Ninguém sabe no que vai dar, mas é bonito ver as letras coloridas no fundo branco.

A palavra impressa passa o sentimento físico de permanência, ao contrário do ciberespaço, no qual domina a sensação de extrema fugacidade.

Estamos acostumados a pensar no papel como se nele a palavra estivesse a salvo do tempo, do desaparecimento.

Mas a impressão de perenidade não deixa de ser uma quimera.

A imensa maioria dos livros está condenada ao esquecimento por falta de leitores. Sobrevivem alguns fisicamente nas estantes, mas é uma existência sem brilho e sem alma. Na verdade, vivem no escuro e no pó. A luz de olhos humanos não ilumina suas páginas fechadas.

Só está vivo o texto (virtual ou impresso) quando encontra um leitor que o descobre e retira do claustro.

O resto é silenciosa espera na biblioteca (ou na nuvem da internet).

O blog é uma esquina invisível onde amigos se reúnem pra conversar. Um meio de comunicação aberto a todos, lugar de encontros, região de claridades.
 
Escrever na nuvem, portanto, é uma maneira de resistir. Uma ilusão, quem sabe, mas ajuda a viver.

Estou falando essas coisas talvez porque é madrugada, o outono chegou nos Campos de Cima do Esquecimento. Faz frio lá fora e eu olho para o céu pontilhado de cintilações, tentando descobrir uma janela aberta, com alguém debruçado nela, na NGC 1637.
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*Imagem produzida e divulgada pelos astrônomos do Observatório Europeu do Sul, no norte do Chile,  em 20 de março, 2013.
Texto revisto, publicado em 23 de março, 2013.

2 comentários:

  1. Segundo um autor espírita, nossos espíritos vieram de uma civilização mais adiantada de uma estrela chamada Capela. Estes seres estavam inconformados por lá e, por uma questão de sintonia vibratória, vieram aportar no que se chamava Terra, um planeta bem mais atrasado.
    Saindo do esotérico e indo para o literário, atualmente ter um blog é como ter um bolicho na beira de uma estrada vicinal. Os visitantes raramente aparecem (rs)
    Mas, com esta pretensão de iluminar, mesmo com chama fraca a mente de boa parte desta humanidade perdida no consumo ena aparência, persistimos. Irmãos blogueiros.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Muito bonito o teu comentário, Ricardo. Cada vez que tu apareces aqui no bolicho é uma festa!

    Um abraço, amigo.
    JF

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