Jorge Adelar Finatto
Guimarães Rosa |
Escrevo hoje com apenas um compromisso que me dei. Umas poucas linhas. Pra dizer aos improváveis leitores desta página que habita a nuvem virtual o seguinte: não deixem de ler, antes de morrer, o pequeno conto A terceira margem do rio, do mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967).
Só isso. Façam este bem a si próprios. Não percam tempo lendo coisas menores, imposições do mercado editorial. Por que fariam isso se a vida é tão breve e a alegria tão escassa? Mergulhem no alumbramento rosiano. Um mistério da língua portuguesa. Façam a leitura que Camões, Machado de Assis, Fernando Pessoa e Lima Barreto não puderam fazer por desencontros do calendário. Dêem-se essa oportunidade. Encantem-se.
Nem vou invocar o Grande sertão: veredas (1956), monumento literário, estético e lingüístico. (Por isso, difícil, exigente, extenso, quase uma impossibilidade para a maioria dos leitores de agora tão afogados na falta de tempo.) Mas não existe glória sem luta, diz o surrado brocardo. Ler este romance é uma das boas coisas que um vivente pode fazer nesta existência. Nem que seja depois da aposentadoria.
A terceira margem do rio mostra a força e o tamanho do gênio do escritor em poucas linhas. Está no livro Primeiras Estórias (1962). Chego a ter pena, sinceramente, de quem não sabe português.
Como diplomata de carreira, o senhor Rosa salvou muitos judeus da morte nas mãos sanguinárias de Hitler e seus agentes, quando ocupava o posto de Cônsul Adjunto em Hamburgo. Através da concessão de vistos, promoveu, junto com a mulher Aracy (Ara), funcionária do consulado, a salvação de muitas vidas, protegendo a fuga dos perseguidos.
Aracy Guimarães Rosa |
Em 1985, o governo de Israel concedeu ao casal a mais alta distinção atribuída aos que, com risco da própria vida, deram amparo e evitaram a morte de judeus durante a 2ª Guerra Mundial. O nome de ambos foi dado a um bosque nas cercanias de Jerusalém.
Fui reler, para relembrar qual era esse A terceira margem do rio e vale sem dúvida a pena. É um conto denso, profundo e complexo para tão breve estória.
ResponderExcluirVera
O conto é mesmo excelente. "A terceira margem do rio" é tocante, nos emociona! Parabéns pelo texto e pela dica!
ResponderExcluirLorenzo
Vera e Lorenzo.
ResponderExcluirPela qualidade de suas leituras, vocês são uns amores de leitores. E muito amáveis também.
Beijinhos grandes!