Há uma hora solitária em que as estrelas não se apagaram ainda e nem o sol se levantou na linha do horizonte. Uma hora de expectativa e angústia.
O pássaro ensaia os primeiros movimentos do seu canto perto da minha janela. Eu passei a noite lidando com palavras. Frio e cansaço habitam essa hora erma.
Fecho as cortinas. Desligo as luzes. Puxo a manta até o pescoço, me estico no sofá do escritório.
Dom Quixote e Sancho Pança, exaustos de tantas andanças nas páginas do velho livro, dormem num canto da estante. Os personagens dos outros livros fazem o mesmo no silêncio e obscuridade das prateleiras.
Precisamos todos descansar das palavras. Precisamos dormir, dormir e esquecer. Não queremos claridade nem rumor de páginas tão cedo.
O dia avança como um touro louco pelas ruas da cidade. Corre furioso atrás de um incauto e distraído leitor. O touro nada sabe de livros. Leitores são presas fáceis na aurora.
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