Eduardo Salavisa é um “desenhador
do quotidiano”, conforme define o título do seu blog.¹ Descobri
seu trabalho através do jornal Público², um dos mais importantes de Portugal, que
reproduz a página do autor na edição da internet.
Num determinado lugar seleciona as figuras, perscruta a luz, as cores, as formas, os tons, os significados, a vida escondida.
Munido com as ferramentas de trabalho (cadernos, lápis, canetas, tintas, etc.) constrói sua arte impregnada com as coisas do dia a dia.
Um desenhador do cotidiano é
alguém que habita a realidade, busca-lhe sentidos, nuances, beleza. Não se
ausenta da experiência de viver, pelo contrário, vai para o ambiente físico e
espiritual onde a existência acontece. Ali as pessoas vivem e tecem suas
histórias.
O talento do artista leva-nos a percorrer com ele os caminhos por onde anda (que não são poucos). Seus passos desenham trajetos pelas ruas de Lisboa, a cidade natal onde vive, mas não ficam só ali, deambulam pelo planeta afora.
Eduardo Salavisa. Aqueduto das Águas Livres, Amoreiras, Lisboa |
Ele enche cadernos e cadernos em cada saída de casa, em
cada viagem. É um viajante do mundo. Leva pouca bagagem e muito olhar. O
resultado deste inventário minimalista – pequenas coisas, na
aparência, no seu traço ganham contornos de grandeza humana – pode ser visto nos
desenhos que nos abrem a vista para o invisível, para o não manifesto, para os
detalhes que revelam o coração dos seres e objetos.
Eduardo partilha sua arte e seu
conhecimento através de aulas, oficinas, palestras e exposições, além dos livros que
publica. Experiente no ofício, costuma ser convidado a organizar edições de obras com autores que se dedicam aos
diários gráficos.
É o caso do livro "Diários de Viagem 2. Desenhadores-Viajantes",
no qual ele coordena 30 viagens de vários desenhadores (pessoas de diversas profissões). Nele participa com um texto
introdutório, além de um trabalho que fez sobre uma viagem à Patagônia. A obra será lançada
no próximo dia 22 de novembro, em Lisboa, às 18h, no Museu
Bordalo Pinheiro.
Conversei com Eduardo, por e-mail,
nessa semana (em Lisboa tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em janeiro deste ano). Fiz-lhe algumas perguntas e as respostas ilustram essa atividade que, para nós, no Brasil, ainda é uma novidade.
- Eduardo, o que é um diário gráfico e desde quando esta forma de expressão existe?
Eduardo Salavisa |
O caderno de desenho tem uma longa tradição.
Conhecemos os de Leonardo da Vinci, onde apontava as suas observações e
reflectia sobre elas. Quando os jovens aristocráticos europeus faziam a viagem
de iniciação, chamada “Grand Tour”, levavam sempre um caderninho para desenhar o
que viam. Todos os artistas, ou pretendentes a serem-no, usam-no. Não só os das
artes visuais mas também os da escrita. São suportes transportáveis que se podem
usar em qualquer lugar e circunstância. Um apontamento, uma reflexão, um
compasso de espera.
O nome Diário Gráfico começou a ser usado por
um professor da Faculdade de Belas Artes, falecido em 2009, chamado Lagoa
Henriques. Foi ele que fez a estátua de Fernando Pessoa à porta da Brasileira.
Para mim ele era melhor desenhador e professor do que escultor. Ele queria que
nós desenhássemos todos os dias.
Foi também por isso que comecei a usá-lo com
mais frequência. Foi quando quis transmitir aos meus alunos adolescentes quão
era bom desenhar. Os adolescentes não têm paciência para nada e o desenho requer
alguma. E também tempo e concentração. E se aquele caderno se transformasse num
diário, com desenho e escrita, e se eles relacionassem com uma viagem, uma
viagem no seu quotidiano, talvez ficassem viciados na observação e no desenho. E
alguns ficaram.
E o desenho, para mim, está muito relacionado
com a viagem. É preciso disponibilidade mental para se desenhar. E na viagem nós
temo-la.
- O que o leitor encontrará neste Diários de Viagem 2?
Durante a longa viagem que fiz o ano passado pela América Latina desenhei muito e pensei também quais eram as diferenças que havia entre aqueles desenhos, feitos muitas vezes em más condições, e outros feitos no nosso atelier. Quando cheguei, pedi a alguns amigos meus, portugueses e espanhóis, para me descreverem uma viagem com 10 desenhos feitos em cadernos e um texto com o máximo de 1000 palavras.
Esses textos e esses desenhos ajudaram-me a estabelecer cerca de 12 características que os desenhos feitos em viagem têm. Assim, além deste pequeno texto e de 30 viagens feitos por desenhadores-viajantes, temos um outro texto escrito por uma jornalista e escritora de viagens, e de romances, que viveu no Rio de janeiro uns anos: Alexandra Lucas Coelho.
É preciso dizer ainda que dois dos autores não os conhecia pessoalmente e são, para mim, os maiores expoentes nas suas áreas e que, inesperadamente, quiseram participar: Álvaro Siza Vieira, arquitecto, e Miquel Barceló, pintor.
- Existe previsão de um diário sobre o Brasil?
- O que o leitor encontrará neste Diários de Viagem 2?
Durante a longa viagem que fiz o ano passado pela América Latina desenhei muito e pensei também quais eram as diferenças que havia entre aqueles desenhos, feitos muitas vezes em más condições, e outros feitos no nosso atelier. Quando cheguei, pedi a alguns amigos meus, portugueses e espanhóis, para me descreverem uma viagem com 10 desenhos feitos em cadernos e um texto com o máximo de 1000 palavras.
Esses textos e esses desenhos ajudaram-me a estabelecer cerca de 12 características que os desenhos feitos em viagem têm. Assim, além deste pequeno texto e de 30 viagens feitos por desenhadores-viajantes, temos um outro texto escrito por uma jornalista e escritora de viagens, e de romances, que viveu no Rio de janeiro uns anos: Alexandra Lucas Coelho.
É preciso dizer ainda que dois dos autores não os conhecia pessoalmente e são, para mim, os maiores expoentes nas suas áreas e que, inesperadamente, quiseram participar: Álvaro Siza Vieira, arquitecto, e Miquel Barceló, pintor.
- Existe previsão de um diário sobre o Brasil?
Existe previsão de diários para todos os
países, e para o Brasil em particular. Haja tempo e dinheiro.
Eduardo Salavisa. Largo do Carmo, Lisboa |
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¹desenhador do quotidiano:
http://diario-grafico.blogspot.com.br/
²Público:
http://www.publico.pt/
¹desenhador do quotidiano:
http://diario-grafico.blogspot.com.br/
²Público:
http://www.publico.pt/
Q coisa mais bonita esta postagem. Ano q vem devo fazer um breve estágio na EJA, séries iniciais. Se for permitido, vou usar Arte como tema. Embora sem muito conhecimento, amo o assunto. Já me inspirei aqui. Peguei o nome do livro, espero dar conta de alguma coisa bem legal. Abraço.
ResponderExcluirO diário gráfico é uma maneira muito bonita de sentir, representar, elaborar, tentar entender o mundo em que estamos mergulhados. Um abraço.
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