Jorge Adelar Finatto
photo: j.finatto |
de me visitar
nas noites
de inverno
quando o medo
cobra caro
e as feridas
não deixam mentir
insolúvel jogo
de espelhos
entre mim
e o que fui
ando bêbado
pela casa
meu coração
é operário
desempregado
com filho pra criar
mulher feia
sem crédito no armazém
me enrosco
em invenções
inúteis
pra repartir contigo
um espaço de ternura
sinto umas
coisas estranhas
caminharem atrás de mim
um cano de fuzil
um casal de velhos famintos
um câncer
e me desagrada não ser
como certos fantasmas
convoco o
silêncio esuas raízes
inauguro a
manhã
não, eu não sou
uma estrela
um rio
um barco
nada se compara
ao que sinto
preciso todos
ao redor da mesa
principalmente
os desaparecidos
como certos crepúsculos
que a gente vê
fogem e nunca mais
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Poema do livro Claridade, Jorge Adelar Finatto, co-edição Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Editora Movimento, Porto Alegre, 1983.
Amigo, é muito cedo pra falar de invernos
ResponderExcluirPois que até eu ainda os vejo longe
Convoquei, já em outono, a primavera
Que tomo emprestado à esperança
Pode ser fria a falta de sorrisos
Pois sinceros abraços há tão poucos,
Mas há, e me pertencem e mesmo longe
Eu os tomo em meus braços vazios
E, incondicionalmente, os amo.
Escrevi esse poema nos meus 23/24 anos, depois publicado em 1983. De certa forma é o testemunho de um tempo e de um sentimento. Enfim, a vida. É isso mesmo, Marina, temos de amar os abraços que temos.
ExcluirSim, eu vi a data da publicação do poema. Poeta já nasce poeta.
ExcluirMas quero dizer: Quando me refiro a braços vazios, na verdade são cheios de preces, pelos amados, ao Deus fiel e onipresente.