quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Escrever no escasso da vida

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto


Escrever pra quê? Será que ainda existem leitores no mundo? Onde estarão, em que escondidas bibliotecas, em que salas e quartos solitários resistirão?

A impressão é que, a cada dez novos escritores que surgem, aparece apenas um leitor. As estantes das livrarias estão repletas de livros que ninguém lê. Todos os dias novos títulos vão somar-se ao mar-oceano existente. Quem lê tudo isso?

Às vezes desconfio que tem gente que vai à livraria, compra uma  sacola de livros, mas não lê. O livro como objeto decorativo, com poder de ostentação de leituras não acontecidas. Será?

Então a situação é a seguinte: pra salvar os escritores do risco de extinção, de hoje em diante todos vão ser também leitores. Esse o compromisso solene de cada escritor para a preservação da espécie.

Coisa triste é a criatura escrever, no rigor do esforço e no escasso da vida, e ninguém ler. Quem não precisa de um ora-veja nessa existência, um reconhecimentozinho? Ah, não, ninguém quer saber do outro! Será?

Eu sou solidário com os sem-leitores porque faço parte dessa multidão.

Dia desses um colega blogueiro me contou  que está querendo  pagar alguém pra ler as suas mal-traçadas. Ah, não!  Não podemos permitir que a sombra do desespero tome conta. Então, agora estou visitando a ilha do colega todos os dias.

Tenho visto muitas ilhas desertas, abandonadas, taperas virtuais. Os utensílios deixados pra trás mostram que um dia houve vida ali. É duro.

Acredito também que os livros nunca vão morrer. São objetos perfeitos na forma, carregam em si o espírito  humano desde vetustos tempos. Mas e os escritores desconhecidos e os blogueiros? Sobreviverão nessa penúria de leitores?

Não sei, não sei.
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 Texto revisto, publicado originalmente em 18 de setembro, 2010.

2 comentários:

  1. Oi Jorge. De vez em quando passo aqui e, sem bajulação, posso dizer que gosto de ler seus escritos. Tanto que me surpreende, a falta de comentários. Eu por exemplo, nem sempre consigo transmitir sentimento. (Então, voltei aos bancos escolares, até pra ver se consigo ajudar a alfabetizar meus iguais, hehehe). Mas preciso dizer algo, que já li e sinto sobre o escrever: Escrever pode funcionar como desabafo, as vezes acontece como um parto, com dor mesmo. Então, mesmo que ninguém leia, já terá cumprido sua função de, um tipo de libertação ao escritor. Pra mim, escrever, tem tido este viés. Contudo, repito: gosto de ler o que você escreve. Abraço. Marina.

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    1. Cara Marina. Eu sei que o que dizes é sem bajulação e isso me deixa feliz. A tua passagem pela minha página é motivo de alegria. É verdade: escrever não tem nenhum retorno. Faço por gosto mesmo. Deve ser pela mesma razão que um passarinho assobia no seu galho. Mas há uma espécie de felicidade: saber que para alguns isso tem algum significado. Qualquer hora as luzes do blog vão se apagar. Enquanto isso, continuamos aqui (no galho virtual...). Um abraço.

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