A casa estava sempre lá, no mesmo lugar, a qualquer hora a gente podia voltar. Os mais velhos eram os guardiões do templo cujo maior tesouro era o sentimento. Eles eram os troncos velhos da ponte que ligava o passado com o presente e o depois.
O tio Alberto retornou depois de 40 anos vivendo noutros países, noutros planetas. Trouxe baús cheios de quinquilharias e livros em línguas estranhas. Trouxe principalmente muita solidão no semblante calado.
Foi habitar no sótão da casa, dizia que a mansarda era o melhor lugar pra se ver o mundo. Quase não descia de lá. Abria a porta no alto da escada estreita apenas pra receber e devolver as coisas indispensáveis.
- O mundo só é suportável aqui em cima. Vivo em solidão mas quero a companhia do andar de baixo. Amo todos vocês.
E lá ficou com seus livros velhos e uma luneta holandesa do início do século XX.
De raro em raro, quando a porta se abria, a gente corria pra ver a cabeça branca do tio Alberto. Às vezes nos abanava e voltava a se fechar no seu mundo.
Em certas noites, ouvíamos barulho de passos e vozes no telhado. A vó dizia que não precisava ter medo, era só o nosso tio esticando as pernas e conversando com seres que só ele via.
- O mundo só é suportável aqui em cima. Vivo em solidão mas quero a companhia do andar de baixo. Amo todos vocês.
E lá ficou com seus livros velhos e uma luneta holandesa do início do século XX.
De raro em raro, quando a porta se abria, a gente corria pra ver a cabeça branca do tio Alberto. Às vezes nos abanava e voltava a se fechar no seu mundo.
Em certas noites, ouvíamos barulho de passos e vozes no telhado. A vó dizia que não precisava ter medo, era só o nosso tio esticando as pernas e conversando com seres que só ele via.
O aroma dos cravos (havia cravos) e das rosas perfumava o entorno da casa. Tinha também o cheiro amarelo das margaridas e o branco dos lírios.
Era bom dormir olhando para o teto alto de madeira, na certeza de que o dia ia amanhecer na voz do galo, e de que tudo seguiria como sempre.
No inverno as nuvens raspavam nos galhos altos dos pinheiros.
Nos dias de chuva a casa recendia a pão, doces e bolos produzidos no fogão a lenha.
No inverno as nuvens raspavam nos galhos altos dos pinheiros.
Nos dias de chuva a casa recendia a pão, doces e bolos produzidos no fogão a lenha.
Viver era eterno. Todos os córregos e pássaros cantavam para iluminar a nossa vida.
A saudade que estou sentindo agora não é uma coisa triste.
Tudo está vivo dentro de mim.
Tudo está vivo dentro de mim.
Estou só na madrugada de outono. Mas escuto passos no telhado.
"Viver era eterno". A infância é eterna. Ou pelo menos deve ser, pra nos dar coragem de crescer. Acho que é nessa fase que acordamos, que amamos, que temos coragem. Uma poesia do Malaguzzi diz: a criança tem cem modos de pensar, de falar, de jogar... enfim tudo para ela é cem, mas roubaram-lhe noventa e nove.
ResponderExcluirA gente se agarra na memória como um náufrago. A infância muitas vezes nos salva neste mar sombrio da existência. Eu me preocupo com aquelas pessoas cujas memórias da infância são tristes, sem família, sem apoio, sem afeto. Elas têm de buscar força na fé pra suportar. Um abraço.
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