Jorge Adelar Finatto
Mujica. autor: Alejandro Arigón. fonte: semanário Brecha, Montevideo |
E permita-me dizer: nada muda se vocês não mudarem. O agente da mudança são vocês, povo querido. Com vocês mudamos ou com vocês sucumbimos. E estamos juntos.*
José Mujica
Estou esperando para entrar na sanfona que conduz ao interior do avião, no aeroporto de Carrasco, Montevideo. A meu lado um senhor com uma pasta marrom. O embarque começa e o senhor anda com passo decidido e entra na sanfona. É José "Pepe" Mujica, 80 anos, ex-presidente do Uruguai e agora senador, que embarca para Porto Alegre.
José Mujica
Estou esperando para entrar na sanfona que conduz ao interior do avião, no aeroporto de Carrasco, Montevideo. A meu lado um senhor com uma pasta marrom. O embarque começa e o senhor anda com passo decidido e entra na sanfona. É José "Pepe" Mujica, 80 anos, ex-presidente do Uruguai e agora senador, que embarca para Porto Alegre.
Comporta-se como um mortal, sem privilégios. Não tem entourage. O voo transcorre em meio à turbulência na maior parte do tempo. Enquanto isso, aproveito para ler o semanário montevideano Brecha. A matéria de contracapa trata do fenômeno Pepe no Japão. Lá o ex-presidente virou uma celebridade. Só neste 2015 quatro livros foram publicados na Terra do Sol Nascente, chamando a atenção para a vida e "las palavras de José Mujica, el presidente más pobre del mundo".
O texto é escrito pelo japonês Kazunori Hamada, estudante de doutorado da Universidade de Tóquio, especializado em literatura hispano-americana. A origem em um pequeno país sul-americano, os anos tupamaros, os 14 anos de prisão ao tempo da ditadura civil-militar no Uruguai, a sua cachorrinha de três patas, ao lado de valores como simplicidade, sobriedade, austeridade e solidariedade, tudo isso impressiona os japoneses. As frases e a filosofia de Mujica ganham admiradores pelo mundo inteiro.
Mas não são só palavras vazias, são os exemplos de Mujica num planeta tão carente de pessoas íntegras em postos de poder. Sua pequena chácara em Rincón del Cerro, cercanias de Montevideo, onde vive, ele transformou num lugar de ensino agrícola. Mais: no futuro pertencerá à comunidade humilde do local com essa destinação. Ele e a mulher Lucía Topolansky, senadora no Uruguai, já formalizaram a doação.
Quando no exercício da presidência (2010 a 2015) doava cerca de 70% de seu salário, sendo parte para seu grupo político, a Frente Ampla, e outra para ajudar na construção de moradias populares. É famoso também seu apego ao fusquinha azul, ano 1987, que amigos lhe deram fazendo uma "vaquinha". Nunca deixou de utilizá-lo, mesmo no poder. Conta-se que um xeque árabe teria oferecido 1 milhão de dólares por ele, mas Don Pepe jamais aceitou desfazer-se do veículo.
Na chegada a Porto Alegre (hoje é 26/11/2015), Mujica vai para a fila da imigração, como qualquer um de nós. Após, diversos passageiros pedem para fazer fotografias a seu lado. A todos ele atende com delicadeza, conversa, sorri, abraça. Ninguém fica sem atenção. Depois ele parte com alguém que deve ser do consulado uruguaio. Um homem incomum/comum.
Não sei como os cinco anos de Mujica na presidência do Uruguai serão julgados pela história. Como ele mesmo diz, não existem anjos na política. Nem tudo que se quer se realiza. Mas uma coisa parece que está definida. O ex-presidente, homem de origem pobre, é uma das grandes novidades da politica mundial, se não for a maior delas. Não pelo discurso e pela ostentação do poder. Mas pelos gestos, os verdadeiros mestres.
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Pepe Mujica, simplesmente humano, pág. 103. Allan Percy e Prof. Leonardo Díaz. Tradução de Marcelo Barbão. Editora Sextante, Rio de Janeiro, 2015.
O texto é escrito pelo japonês Kazunori Hamada, estudante de doutorado da Universidade de Tóquio, especializado em literatura hispano-americana. A origem em um pequeno país sul-americano, os anos tupamaros, os 14 anos de prisão ao tempo da ditadura civil-militar no Uruguai, a sua cachorrinha de três patas, ao lado de valores como simplicidade, sobriedade, austeridade e solidariedade, tudo isso impressiona os japoneses. As frases e a filosofia de Mujica ganham admiradores pelo mundo inteiro.
Mas não são só palavras vazias, são os exemplos de Mujica num planeta tão carente de pessoas íntegras em postos de poder. Sua pequena chácara em Rincón del Cerro, cercanias de Montevideo, onde vive, ele transformou num lugar de ensino agrícola. Mais: no futuro pertencerá à comunidade humilde do local com essa destinação. Ele e a mulher Lucía Topolansky, senadora no Uruguai, já formalizaram a doação.
Mujica e seu fusca. photo: Natacha Pisarenko/AP |
Quando no exercício da presidência (2010 a 2015) doava cerca de 70% de seu salário, sendo parte para seu grupo político, a Frente Ampla, e outra para ajudar na construção de moradias populares. É famoso também seu apego ao fusquinha azul, ano 1987, que amigos lhe deram fazendo uma "vaquinha". Nunca deixou de utilizá-lo, mesmo no poder. Conta-se que um xeque árabe teria oferecido 1 milhão de dólares por ele, mas Don Pepe jamais aceitou desfazer-se do veículo.
Na chegada a Porto Alegre (hoje é 26/11/2015), Mujica vai para a fila da imigração, como qualquer um de nós. Após, diversos passageiros pedem para fazer fotografias a seu lado. A todos ele atende com delicadeza, conversa, sorri, abraça. Ninguém fica sem atenção. Depois ele parte com alguém que deve ser do consulado uruguaio. Um homem incomum/comum.
Não sei como os cinco anos de Mujica na presidência do Uruguai serão julgados pela história. Como ele mesmo diz, não existem anjos na política. Nem tudo que se quer se realiza. Mas uma coisa parece que está definida. O ex-presidente, homem de origem pobre, é uma das grandes novidades da politica mundial, se não for a maior delas. Não pelo discurso e pela ostentação do poder. Mas pelos gestos, os verdadeiros mestres.
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Pepe Mujica, simplesmente humano, pág. 103. Allan Percy e Prof. Leonardo Díaz. Tradução de Marcelo Barbão. Editora Sextante, Rio de Janeiro, 2015.