Tratei aqui no blog dos diários gráficos ao abordar trabalhos de Mário Linhares¹ e Eduardo Salavisa², ambos portugueses. Aprecio esses desenhos que captam instantâneos do cotidiano, em pequenos cadernos que os desenhadores levam na mão, no bolso, na bolsa, na mochila, na bicicleta, dentro do chapéu, etc.
Há qualquer coisa de frescura, de fruto recém colhido do pomar cuja imagem surge leve na página e logo conquista a intimidade do leitor.
Para esses desenhadores, desenhar é uma forma de entrar em contato com o mundo, desvelar um momento que, de outro modo, se perderia no relâmpago do instante. São traços que nascem da observação distraidamente atenta do entorno. Há desenhadores em diversos países, mas no Brasil creio que o gênero ainda é pouco cultivado.
A arte - o desenho é uma de suas faces - responde a um apelo de registrar o efêmero. Os desenhos assim concebidos não têm a objetividade como alvo. Trata-se, antes, de uma visão bastante pessoal e livre do observador. É muito mais um sentimento do que um retrato. Neste olhar particular estão a riqueza e a surpresa das imagens.
O itinerário através do cotidiano é algo que diz muito. Revela uma capacidade de se deixar tocar pela realidade dos lugares e das pessoas que neles habitam. Isto não é pouca coisa, considerando o momento extremamente duro e violento que vivemos, em nível global, com grandes tragédias invadindo as ruas e cerceando nossos passos.
Acabo de receber pelo correio - ainda com cheiro de Portugal - o livro Caderno de Abrantes³, de Eduardo Salavisa. Natural de Lisboa, onde vive e trabalha, Eduardo costuma desenhar em qualquer lugar e circunstância. É autor e organizador de vários livros do gênero, além de participar de exposições, conferências, cursos e encontros enfocando esse tipo de trabalho.
O Caderno de Abrantes resulta de uma residência artística que ele fez naquela cidade em 2015, durante 11 dias. Nesse período perambulou pelas ruas, praças e diversos ambientes, vendo e convivendo com as pessoas naquele universo.
Diz o autor na apresentação: "Quando me convidaram para desenhar Abrantes, cidade onde nunca tinha estado mais que umas horas, pensei: Será que conhecem os meus desenhos? Que sabem que tipo de desenho faço? Saberão que os meus registos não são completamente fidedignos ao observado?... Sabiam e a liberdade era total".
A obra de Eduardo é reveladora não só de recantos de Abrantes como de momentos da vida de seus habitantes. Em formato de livro de bolso, desperta no leitor o desejo de conhecer aqueles cenários. A variedade das cores e das formas é um regalo para os olhos.
Difícil imaginar maneira mais delicada de mostrar uma cidade.
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Há qualquer coisa de frescura, de fruto recém colhido do pomar cuja imagem surge leve na página e logo conquista a intimidade do leitor.
Para esses desenhadores, desenhar é uma forma de entrar em contato com o mundo, desvelar um momento que, de outro modo, se perderia no relâmpago do instante. São traços que nascem da observação distraidamente atenta do entorno. Há desenhadores em diversos países, mas no Brasil creio que o gênero ainda é pouco cultivado.
A arte - o desenho é uma de suas faces - responde a um apelo de registrar o efêmero. Os desenhos assim concebidos não têm a objetividade como alvo. Trata-se, antes, de uma visão bastante pessoal e livre do observador. É muito mais um sentimento do que um retrato. Neste olhar particular estão a riqueza e a surpresa das imagens.
O itinerário através do cotidiano é algo que diz muito. Revela uma capacidade de se deixar tocar pela realidade dos lugares e das pessoas que neles habitam. Isto não é pouca coisa, considerando o momento extremamente duro e violento que vivemos, em nível global, com grandes tragédias invadindo as ruas e cerceando nossos passos.
desenho de Abrantes. Eduardo Salavisa |
Acabo de receber pelo correio - ainda com cheiro de Portugal - o livro Caderno de Abrantes³, de Eduardo Salavisa. Natural de Lisboa, onde vive e trabalha, Eduardo costuma desenhar em qualquer lugar e circunstância. É autor e organizador de vários livros do gênero, além de participar de exposições, conferências, cursos e encontros enfocando esse tipo de trabalho.
O Caderno de Abrantes resulta de uma residência artística que ele fez naquela cidade em 2015, durante 11 dias. Nesse período perambulou pelas ruas, praças e diversos ambientes, vendo e convivendo com as pessoas naquele universo.
Diz o autor na apresentação: "Quando me convidaram para desenhar Abrantes, cidade onde nunca tinha estado mais que umas horas, pensei: Será que conhecem os meus desenhos? Que sabem que tipo de desenho faço? Saberão que os meus registos não são completamente fidedignos ao observado?... Sabiam e a liberdade era total".
A obra de Eduardo é reveladora não só de recantos de Abrantes como de momentos da vida de seus habitantes. Em formato de livro de bolso, desperta no leitor o desejo de conhecer aqueles cenários. A variedade das cores e das formas é um regalo para os olhos.
Difícil imaginar maneira mais delicada de mostrar uma cidade.
desenho de Abrantes. Eduardo Salavisa |
¹Fernando Pessoa viajando no elétrico em Lisboa:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2016/02/fernando-pessoa-viajando-no-eletrico-em.html
²Eduardo Salavisa e a viagem no cotidiano:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2014/11/eduardo-salavisa-e-viagem-no-quotidiano.html
³Caderno de Abrantes. Eduardo Salavisa. Edição da Câmara Municipal de Abrantes. Portugal, 2016.
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