domingo, 29 de janeiro de 2017

Hay días que me gusta vivir

Jorge Finatto

Lisboa, Tejo e gaivota. photo: jfinatto
 

NEM UMA GOTA de melancolia, nem mágoa, nem tristeza. Não quero peso nas palavras. Por que havia de escrevê-las ao avesso num dia ensolarado com todas as ventanas abertas? O dia é longo e a vida, grande. Grande a vida na miséria de cada instante. Imensa vida, vista do grão de tempo que habito.

Olho os telhados, o céu branco com nuvens azuis. Respiro à janela. Um gato esticado sobre o muro. A horta humilde no pátio lá em baixo. E flores crescendo sem cuidado na calçada ao alcance do olhar fatigado.
 
Que posso mais querer? Carrego recordações felizes. Por exemplo, teu rosto iluminado por um raio de sol, sorrindo quando tínhamos 20 anos. E sinto um doce perfume  que vem dos teus cabelos e do teu corpo. E nos vejo numa praça e depois subimos por uma avenida larga e comprida. Mãos dadas, conversas sem relógio. Havia uma eternidade pela frente e nós juntos nela.
 
Pressinto os anjos que caminham ao meu lado, ajudam a sobreviver a tanta coisa ruim. Os anjos, mensageiros de Deus, nunca nos abandonam. É por causa deles que estou hoje aqui, à janela, olhando sobre os telhados uma nesga de rio ao fundo entre os edifícios.

As ventanas abertas ao sol, ao movimento dos barcos, à solitária gaivota. Vida que é bela e grande pelo simples fato de estar vivo e  respirando à janela.
 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Poética

Jorge Finatto

 Colonia del Sacramento, Uruguai. foto: jfinatto

 
NINGUÉM LÊ meus poemas
sequer a família
com meus versos se amola

os outros têm afazeres diversos
toda hora

recebo o poema
como um ser
que apareceu
na minha porta
nesse dia

eu escrevo para uma sala vazia

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Do livro O Fazedor de Auroras, Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1990.
 

domingo, 22 de janeiro de 2017

Uma trapaça da sorte*

Luís Roberto Barroso
Ministro do Supremo Tribunal Federal
 
 
Ministro do STF Teori Zavascki (1948-2017)
foto: Nélson Jr., STF
 
 
TEORI ZAVASCKI supervisionava a Lava Jato com virtude, razão prática e coragem moral. Continuar o trabalho de mudar o patamar ético do Brasil, com a mesma determinação e serenidade, será a forma mais digna de homenageá-lo. Ajude-nos aí de cima, amigo.
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*Leia a íntegra do texto no site da Folha de São Paulo:
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/01/1851895-uma-trapaca-da-sorte.shtml
 

As tragédias mil vezes anunciadas*


Sob o título “Estações do inferno“, o artigo a seguir é de autoria de Jorge Finatto, escritor, fotógrafo, magistrado aposentado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. O texto foi publicado na quarta-feira (18) em seu blog “O Fazedor de Auroras“.
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*Transcrevo a reprodução, para mim muito honrosa, do texto "Estações do inferno", no blog Interesse Público, do notável jornalista Frederico Vasconcelos, da Folha de São Paulo:
 

sábado, 21 de janeiro de 2017

A vida vale um caco

Jorge Finatto
 
photos: j.finatto

No ato trágico de morrer da xícara-mãe, os fragmentos renasceram individualmente, dando inicio a novas "vidas".
 
EXISTE BELEZA nos cacos de uma xícara quebrada.

Juntei os restos de louça espalhados no chão do escritório, acondicionei-os em folhas de jornal velho para descartar no lixo seco. Depois subi a escada Santos Dumont, retornando ao trabalho.

Enquanto labutava nesse ofício inútil que é escrever (e ninguém ler), percebi num canto do escritório uma reminiscência da xícara em forma de lasca colorida.

As cores e o formato daquele caco me chamaram atenção. Descobri que havia encanto naquilo. Fui em seguida até o lixo e resgatei os outros pedaços.

 

O objeto xícara havia se partido acidentalmente ao cair da escrivaninha (dentro havia folhas secas de erva cidreira). Deu origem a vários outros miniobjetos com formas, cores e volumes próprios.

No ato trágico de morrer da xícara-mãe, os fragmentos renasceram individualmente, dando inicio a novas "vidas". No ato de renascer, receberam a marca intransferível da solidão que caracteriza as coisas e os seres viventes.

Sei, por experiência de quem é astrônomo do farelo, observador de miudezas, que não existem outras lascas iguais a essas.

São entes novos no mundo. Estão aí com sua particular verdade, têm uma face própria, uma maneira de estar, uma sombra, ocupam certo espaço, a claridade os ilumina todas as manhãs, existem.

 

A asa da xícara-mãe ficou incólume, contudo não é mais uma asa. Aderente à superfície convexa, lembra antes uma bela orelha renascentista.

Orelha que escuta talvez uma voz ausente, que se perdeu no tempo, ou uma canção impossível.

Libertou-se, a asa, da antiga e rígida obrigação. Ninguém mais poderá tratá-la ou esperar dela que se comporte como se singela asa fosse. É uma nova entidade, um corpo mutante com uma estética própria. Perdeu a natureza acessória com que veio à existência.


De certo modo, os fragmentos estão mais vivos do que quando formavam um todo orgânico e fechado. Aproveitaram a chance, gozam agora de uma liberdade que antes não conheciam.

O que aconteceu com os cacos foi um reviver após a morte da mãe que os aprisionava. Estão soltos no mundo, rebentos recém paridos, cada um a seu jeito. Como todos os seres, correm riscos, o futuro é incerto e padecem de solidão. O preço de estar vivo.
 
Olho os restos sobre a escrivaninha. São parecidos com tudo que vive e sofre e existe apesar de tudo. Aprenderam na pele que cair um tombo, bater com a cara no chão, ficar reduzido a estilhaços, pode ser, às vezes, o caminho para um novo, jamais imaginado, venturoso recomeço.

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Texto revisto, publicado em 30 de abril, 2013.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Estações do inferno

Jorge Finatto

O BRASIL não consegue enfrentar temas cruciais que estão a gritar por solução todos os dias. Faz pelo menos 30 anos que não há uma política eficaz voltada ao saneamento das penitenciárias e à ressocialização dos apenados. O resultado é o que se vê nos bárbaros massacres ocorridos nos últimos dias em presídios do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte, com requintes de decapitações e extrações de órgãos dos corpos, na terrível guerra das facções.
 
Estes são apenas os casos mais recentes que causaram forte impacto pelo insuportável grau de crueldade que os alimenta. Mas a violência física e psicológica é fato corriqueiro nas cadeias (destinadas a presos provisórios) e penitenciárias (para presos que cumprem pena em regime fechado). Fatos terríveis como os ocorridos são tragédias mil vezes anunciadas.

As autoridades federais e estaduais encarregadas da gestão material e da segurança dos estabelecimentos penais (leia-se Poder Executivo) têm um desempenho muito abaixo do esperado diante da crise prisional (antiga de décadas), mostrando-se às vezes confusas, resolvendo no improviso questões estruturais que demandam ação sistêmica. Não é de hoje que o Estado perdeu o controle das prisões.
 
O fato é que Estado e sociedade demonstram indiferença à dura realidade dos presídios. Não raro ouvem-se declarações estapafúrdias no sentido de que a violência entre presos é assunto de menor importância e que quanto mais se maltratarem e matarem uns aos outros melhor será. A tanto chegamos.

Acontece que os indivíduos que cometem barbáries nas casas prisionais retornam, mais cedo ou mais tarde, ao convívio social e, sem receber tratamento adequado durante a reclusão, aqui fora farão novas vítimas. Quantas pessoas mais vão morrer nessa espiral de horror?
 
A Constituição Federal não vigora no interior de boa parte de nossas prisões. Estabelece que é assegurado aos presos o respeito à sua integridade física e moral, mas não é o que se verifica. A Lei de Execução Penal é sábia e bastaria cumprir com seus princípios fundamentais para evitar o colapso em curso no país.  Nela existe, por exemplo, importante previsão de participação da sociedade no processo de execução através dos conselhos da comunidade. No entanto, o sistema faliu por força da inércia do Estado, com cadeias superlotadas e tratamento desumano aos reclusos.
 
O enfrentamento da violência começa fora dos presídios com atenção às famílias, à infância e à juventude através de creches, atendimento à saúde, escolas, centros comunitários, formação profissional, oportunidades de trabalho, etc., aquelas coisas que todos precisam para uma vida razoavelmente digna. Para que isso aconteça é necessário combater com vigor e tenacidade a corrupção e a incompetência do andar de cima, que simplesmente desaparece com o dinheiro público. Não há falta de recursos no Brasil para estas e outras obras: há corrupção e má gestão.
 
Neste momento é essencial construir penitenciárias em condições de receber vida humana lá dentro, individualizando-se a execução com separação dos presos, como manda a LEP, para que se possa falar em ressocialização por meio do trabalho, do estudo e do provimento de necessidades básicas dos detentos.

É preciso dar fim às estações do inferno. Não existe esperança para um país que aceita a trágica e cotidiana violência no interior das prisões. Todas as violações que lá ocorrem acabam voltando para as ruas. O resultado é este círculo absurdo e intolerável de violência que tomou conta das nossas cidades e das nossas vidas.
 
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul desenvolveu, no início dos anos 2000, o Projeto Trabalho para a Vida que pode servir de referência e inspiração na busca de soluções. Congregando dezenas de entidades civis e órgãos estatais, elaborou programas de ressocialização, colhendo bons resultados.

Iguais a esta existem outras iniciativas do Judiciário que podem contribuir para resolver em parte os desafios que se apresentam. Mas é necessário, antes de tudo, que a União e os Estados queiram realmente sair da improvisação e avançar nessa área que é talvez a mais esquecida e desprezada em nossa sociedade.

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Encarceramento degradante, danos morais:
http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2014/04/encarceramento-degradante-danos-morais.html
 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Último dia para ver "Olhar sobre Veneza"

Jorge Finatto

Exposição Olhar sobre Veneza. Café do Porto. photo: jfnatto
 
NESTA SEGUNDA-FEIRA encerra-se a mostra Olhar sobre Veneza no Café do Porto. Foram 14 dias de convívio das imagens com os frequentadores do charmoso café da Rua Padre Chagas.

Estive lá algumas vezes nesse período, olhando as minhas crias e o movimento, sentado à mesa perto da janela. Um bom lugar para se estar, sob a direção atenciosa de Cacaia Bestetti, que, além de arquiteta e proprietária, é incentivadora das artes.
 
Espécie de memorabilia afetiva da cidade do Adriático, a exposição nasceu por acaso, fruto das minhas digressões por seus canais e pontes, a pé ou embarcado. Veneza é um nome bom de se dizer e um lugar único no universo para se conhecer.
 
A todos que estiveram na mostra, meu agradecimento. Uma exposição só faz sentido no olhar de quem a vê. Até a próxima.
 
photo: jfinatto

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A lupa chinesa

Jorge Finatto

photo: jfinatto
 
 
COMPREI UMA LUPA num bazar perdido num canto do mercado público. A procura de sempre: aumentar a nitidez das coisas. Não é esta a primeira vez, nem a primeira lupa. Esta lupa, contudo - garantiu-me o vendedor -, é especial,

- fui buscá-la no laboratório de um sábio chinês, no bairro do Bixiga, em São Paulo. Instrumento especial  de primeira, sim senhor, capaz de divulgar até o invisível.

Eu ando tão precisado de claridade, tão necessitado de qualquer coisa que me ajude a decifrar os absurdos e mistérios do mundo, que não resisti à oferta, sem opor dúvida nem ressalva. Quem sabe não começo, enfim, a entender melhor o sentido da vida?

Uma dúvida, porém (sempre o maldito porém), me ocorreu. Não sabia que havia sábios chineses criando maravilhas no Bixiga. Que eu saiba, naquele tradicional bairro vivem italianos, seus descendentes e afins, além de nativos. Ao menos era assim quando por lá andei há muito tempo, envolvido com as artes do Grupo Sanguinovo e fazendo visitas ao MASP.

Se há sábio chinês estabelecido no Bixiga é coisa de eras recentes. Mas pode ser também que algum carcamano esteja se fantasiando de chinês (e de sábio) para vender quinquilharias de origem duvidosa. Mas que digo eu? Por que essa mania de duvidar e sopesar os detalhes? Por que não acreditar na humanidade simplesmente?
 
O fato é que agora estou armado com a mágica lupa do sábio chinês do Bixiga. Partirei com ela em expedição aos confins do dia, buscando desvelar enigmas e encontrar clarões em meio à densa treva. Colecionarei as revelações do universo. Sabe lá Deus as besteiras que resultarão...
 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Città del cuore

Jorge Finatto
 
Veneza. photo: jfinatto
 
Uma cidade será sempre
o que nosso coração
diz que ela é.
 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Nagai Kafu e as histórias da outra margem

Jorge Finatto
  
Nagai Kafu entre mulheres.
Kafu Nagai with strippers @ Asakusa Rokkuza, 1952
Fonte: the setting sun*
 
  
Oyuki era uma musa que ressuscitara em meu coração tão cansado imagens de um tempo  distante e saudoso. O manuscrito há tanto tempo abandonado sobre a escrivaninha, não fosse por ela ter aberto seu coração para mim - ou, ao menos, não fosse por eu ter achado que esse coração se me abrira -, já estaria há muito tempo no lixo.¹
                      Nagai Kafu
 
MAIS POR FALTA de livros traduzidos do que por outro motivo, no Brasil temos pouco conhecimento da literatura oriental.
 
Mas isso começa a mudar. Na medida em que editoras brasileiras investem na tradução de autores daquele lado do mundo, vamos descobrindo pérolas até aqui escondidas.
 
Ultimamente tenho folheado livros de pintura japonesa, de autores como Hokusai e Hiroshige, e lido textos de escritores japoneses. Não é pouca nem recente a admiração que sinto pela cultura do Japão.
 
Entre os autores daquele país mais conhecidos por aqui, temos Bashô (poesia) e Yasunari Kawabata (prosa, Prêmio Nobel de 1968 ). Mas existem outros de grande qualidade.
 
Acabo de ler Histórias da outra margem, do escritor Nagai Kafu (1879 - 1959), esse da foto com as moças. Trata-se de um livro de 123 páginas, que transita entre a ficção, o diário, a poesia, a crônica e as memórias do autor.

Eu não tinha mais aonde ir. As pessoas que eu queria rever estavam todas mortas.²

Nagai Kafu, 1954. photo de Ihei Kimura**

O enredo se passa na Tóquio da década de 1930. Tadasu Oe é um escritor de quase 60 anos que vive uma história de amor com uma "mulher da vida", na zona de prostituição do bairro Tamanoi, a leste do rio Sumida.

Oyuki é jovem, pobre, bela, alegre, foi gueixa antes de prostituir-se. Ao conhecer Tadasu Oe, pensa abandonar a zona e casar-se com ele. Oe, por seu turno, encontra na jovem inteligente e cheia de vida um cálido cais onde ancora sua solidão nos fins de tarde.

Ao mesmo tempo em que narra o seu romance, Oe conta detalhes do livro que está escrevendo, no qual um professor aposentado abandona a família. O desenvolvimento é surpreendente.

A história é, em vários aspectos, a história do próprio Nagai Kafu. E de muitos homens e mulheres por este mundo afora.

Histórias da outra margem é um livro com uma curiosa e envolvente construção. Nagai Kafu revela-se um excelente escritor, com uma narrativa que combina técnica esmerada e sensibilidade poética, sem cair em literatices.

Como se isso não bastasse, a obra tem ainda belas ilustrações de Shohachi Kimura (1893 - 1958). Um livro, enfim, pra se ter nas mãos.
 
___________________
 
¹,²Histórias da outra margem, pp. 109, 117. Nagai Kafu, Editora Estação Liberdade, São Paulo, 2013. Tradução do japonês e notas por Andrei Cunha.

Texto publicado originalmente no blog em 7 de abril, 2013.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Os fascistas

Jorge Finatto
 
photo: j.finatto


Os fascistas
escolhem sempre
as prisões
à BENIGNIDADE DO SOL

mas os poetas
continuarão
VIOLANDO
AS SOMBRAS


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Do livro O Habitante da Bruma, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1998.
 

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Ponte dei Sospiri

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto


Vamos iniciar 2017 atravessando juntos a PONTE DOS SUSPIROS.
 
Mas se houver suspiros na travessia deste tempo que agora começa, que sejam de êxtase, de alegria, jamais de tristeza ou desilusão.

photo: jfinatto

photo: jfinatto

Estão todos convidados a suspirar visitando a exposição OLHAR SOBRE VENEZA, que será inaugurada hoje no Café do Porto.

photo: jfinatto
 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Colher hibiscos

Jorge Finatto
 
photo: jfinatto 1º jan. 2017

NA TARDE do primeiro dia do ano, saí para colher hibiscos. Colher com os olhos, com a lente esperta da Coruja, ex-máquina fotográfica, quase um ser humano. Nada de arrancar flores para pôr no vaso. O olhar sensível é capaz de entendê-las em seu habitat, sem qualquer ideia de posse.
 
Porque os hibiscos habitam as ruas e praças de Porto Alegre. A sua linda corola é um presente para o coração. Um lenitivo (talvez só o pessoal nascido em meados do século passado saiba ainda o que é lenitivo. Muitos já esqueceram seu significado tamanha a dureza destes tempos). Consolo nesta cidade triste e desmantelada.
 
photo: jfinatto, 1º jan.2017
 
O porto-alegrense virou uma pessoa mal-educada, grosseira e agressiva. É o que se vê no trânsito, nas lojas, dentro dos ônibus, em toda parte. Se você não faz parte deste grupo, perdoe. Mas a média da população está assim, infelizmente. Por isso eu, quando estou por aqui, busco as praças onde ainda é possível encontrar um pouco da humanidade perdida deste outrora acolhedor burgo.

photo: jfinatto, 1º jan.2017
 
Mas eu quero falar dos hibiscos. Durante caminhada para  equilibrar o esqueleto, no entardecer de 31 de dezembro, na Praça da Encol, percebi arbustos de hibiscos, alguns vermelhos, outros cor-de-rosa. Um brilho só. Voltei no dia primeiro para fotografá-los e guardá-los assim do esquecimento. Estão no auge do encanto. Façamos por merecer.

photo: jfinatto, 1º jan. 2017