terça-feira, 2 de maio de 2017

Tarde no Brasil

Jorge Finatto
 
 
O sentimento que me levou a escrever este poema, há muitos anos, é parecido com o de agora. A diferença é que, naquele tempo, eu tinha 22 anos e uma vida pela frente. Havia a ditadura militar mas havia, sobretudo, a esperança na democracia, que acabou se impondo pela vontade do povo. Os maus políticos e a corrupção, contudo, botaram tudo por terra. Precisamos urgentemente reinventar o sonho.
 

TARDE no Brasil
nenhuma novidade no coração ou no lugar
estou vivo

na esquina da Rua Santana
homens pobres discutem futebol
mulheres passam ao lado
o ruidoso colorido da roupa
cortando o silêncio em fatias

tarde
nenhuma esperança nos olhos de Esmeralda
a louca cantora sentada no meio-fio

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Poema do livro Claridade. Jorge A. Finatto. Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Editora Movimento, 1983.
 

2 comentários:

  1. Esse poema é um manifesto social, dotado de um lirismo desencantado. Adoro ele.

    Ricardo Mainieri

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    1. Escrevi numa tarde de inverno, durante o café, no bar da Faculdade de Farmácia da UFRGS. Um grande abraço.

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