Jorge Finatto
photo: Horacio Quiroga. Wikipédia. |
Um velho rádio de válvulas que funciona como se fosse ontem. Um pouco do noticiário, desligo. É muita realidade demais. Um dia frio, muito frio, nesses inícios de agosto. Com a bênção de um fogão a lenha. Depois, no toca-discos, a Suíte Popular Brasileira, de Heitor Villa-Lobos.
Lendo o Diário* do jovem Horacio Quiroga (1878-1937), a viagem de Montevideo à Europa, de navio, 24 dias entre céu, mar e saudade. Os dias passados em Paris, assim assim. O olhar do escritor em formação:
Abril, 30, 1900. 2.30 p.m. En Notre Dame. La misma impresión general que el Pantheon, La Madaleine, y de todos los monumentos de París, muy pobre, debido al color oscuro, sucio y manchado de todas las paredes. El interior, gótico puro (...) Estoy en la cúspide de Notre Dame, después de subir 345 escalones en caracol. Lo primero que me ha llamado la atención han sido los canalones para el agua - en forma de pescuezo de bicho raro, rectos e avanzando a la calle (...)
A falta de dinheiro torna sem graça os dias vividos em Paris:
Sábado, 09, junio. 9 p.m. Un poeta griego de la decadencia dijo: 'La patria está donde se vive bien.' Es un gran pensamiento. Por qué he de decir yo que no hay como París, si no me divierto? (...) estoy en lo verdadero diciendo que Montevideo es mejor que París, porque allí lo paso bien; que el Salto es mejor que París, porque allí me divierto más.
A literatura é feita por gente de carne e osso, que sente frio, cansaço, alegria, dor de dente, fome. Às vezes tudo junto. Os livros são depoimentos de passagens pelo mundo. Embora às vezes não pareçam. Eu desconfio de autores que não esbarram nessa coisa difícil, faminta, suja, flébil, encantadora.
A morte é só um suspiro. Uma lágrima que seca. Impostergável ausência. Depois passa.
A morte é só um suspiro. Uma lágrima que seca. Impostergável ausência. Depois passa.
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* Diario de París. Horacio Quiroga. pp. 58/91. Faro Ediciones. Montevideo, 2018.
Sempre genial. Tem algo mais genial do que isso? Não sei ao certo o que mais ma impressiona: a visita a Paris que agora fiz em 1900 ou a sensação de saber o mesmo que Quiroga 120 anos depois. Prefiro pensar que seja a sensibilidade não dele, mas de quem rebuscou seus versos. Abraço. Clóvis Ramos
ResponderExcluirImpressionante a percepção dele, não é, Clóvis? E era bem jovem. Um grande abraço!
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