terça-feira, 13 de outubro de 2020

Brinquedo de criança pobre

 Jorge Finatto

do meu jardim. photo: jfinatto

Uma das alegrias da minha infância eram os brinquedos caseiros. Brinquedos rústicos de criança pobre, feitos com materiais descartados. Não obstante humildes, nos levavam a viajar pelo cosmos, expandindo nosso universo.

O porão da velha casa de madeira, lá na Serra, não abrigava somente quinquilharias. Era uma oficina de brinquedos. O artesão desse mundo mágico, que transformava latas de azeite em belos carrinhos e caminhões, era o primo Nego (Rogério). Eu era auxiliar de feiticeiro.

De suas mãos saíam também carrinhos de lomba com rodas de rolimã (rolamentos de aço), cavalinhos, balanços pra pendurar no plátano à beira do Arroio Tega, arcos e flechas, pernas de pau, trenzinhos, espadas, escudos, revólveres, espingardas, bonecos, aviões. Tudo trabalhado com serrote, martelo, lima, formão, goiva, torno, lixa e pedaços de madeira que buscávamos na madeireira perto de casa.

Os brinquedos dos outros meninos e meninas da rua também eram caseiros, mas não se comparavam aos nossos (na nossa imodesta opinião). 

Devia haver uma espécie de museu para esses brinquedos de antigamente. Cheios de imaginação e criatividade, povoavam de fantasia nossas brincadeiras e nos levavam além do mundo em preto e branco.

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