Jorge Finatto
Dor, indignação, revolta, vergonha. São alguns sentimentos
que nos invadem diante da terrível morte de João Alberto Freitas, 40 anos, pai
de quatro filhos, por espancamento praticado, segundo amplamente divulgado, por
seguranças no estacionamento do supermercado Carrefour em Porto Alegre. O fato,
ocorrido na quinta-feira, 19/11, véspera do Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra, é revelador, mais uma vez, da intolerável violência
existente na sociedade brasileira, que atinge visceralmente os segmentos mais vulneráveis
da população.
O homem que foi morto era negro (mais uma vítima). O que justifica bater numa pessoa até a morte?
Como pode semelhante agressão acontecer no ambiente de um supermercado? Por
certo o processo judicial irá esclarecer os fatos e suas circunstâncias e
aplicará a lei. Todavia, a aplicação da lei penal não tem o condão de devolver
a vida à vítima. Tampouco consegue desfazer o incomensurável trauma causado aos
familiares, amigos e à sociedade em geral.
O tema do
racismo vem à tona em meio à perplexidade. Negar a existência de racismo, no Brasil e no Rio
Grande do Sul, é negar a luz do Sol. Basta atentar para a posição em que a
população negra está colocada, ainda sem igualdade de acesso aos bens da vida que
outros grupos sociais possuem.
O tratamento discriminatório é uma triste
realidade. Os negros foram deixados à margem e à míngua durante os últimos
quatrocentos anos. O racismo é, em si, uma forma perversa de marginalização e
de negação da dignidade da pessoa humana. Um sistema de opressão econômica,
social e política que estrutura a sociedade.
Joaquim Nabuco afirmou que a luta pela liberdade, no Brasil,
não se esgotaria com o fim da escravidão (que ocorreu com a Lei Áurea, de 13 de
maio de 1888). Ela se prolongaria por muito tempo no combate aos efeitos do regime abominável. A realidade brasileira insiste, todos os dias, em dar razão ao
notável abolicionista pernambucano.
Sendo de natureza estrutural, estando impregnado no funcionamento
da sociedade, e se reproduzindo ao longo de séculos, é necessário lutar contra o
racismo a cada dia. Por isso, têm razão os que sustentam que não basta não ser ou
não se considerar racista, é preciso ser antirracista, praticando atitudes contra
este monstruoso e detestável sistema de opressão.