quarta-feira, 8 de maio de 2024

A correnteza

                                             Jorge Finatto

photo: Clara Finatto, bairro Menino Deus, Porto Alegre.

                                                

Primeiro foi o vento, o vento, o vento cavalo doido galopando nas ruas, nas janelas e telhados

depois veio a chuva,  dilúvio sem arca, festival de relâmpagos, trovões, raios e apagamentos

depois chegou a noite, a noite vertical e imemorial do início dos tempos, noite gelada, de pedra, indevassável

saltou o grito (ninguém ouviu), e a água subiu, a água tocou a nuvem, a casa desmoronou  e tudo que ela guardava, coisas, lembranças, sentimentos, afundou

então fez-se silêncio, o silêncio noturno e ermo dos ausentes, sufocado pela correnteza cor de barro.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Querência em transe

                                             Jorge Finatto

                                    

Nunca presenciei uma situação como essa. Por força da profissão trabalhei em várias cidades do Rio Grande do Sul, algumas delas no interior profundo. Experimentei diversos ambientes e climas. Mas jamais vi tempestades em seqüência por todo o Estado como as desta semana.

Nesta sexta-feira, faz seis, sete dias que convivemos com chaparrões e sua profusão de raios, relâmpagos, trovões, enchentes, desmoronamentos, interrupção de estradas, soterramentos de casas e pessoas.  Mortes.

Também nunca tinha ficado  isolado,  sem poder ir para outras cidades em função da destruição de estradas. Mas isso neste momento é o de menos. A tristeza está no fato de ver tantas pessoas desalojadas de suas casas e muitas outras desaparecidas, feridas ou mortas. Nem vou falar do trauma psicológico.

A crise climática é um fato presente aqui e em outros lugares. A "culpa" não é da natureza, mas da conduta humana. As piores previsões estão se confirmando.

Provavelmente chegamos, no planeta, a um ponto sem retorno. Ou alguém acredita no bom senso  e nos bons sentimentos dos líderes mundiais? Mas a vida é hoje, e devemos fazer o que for possível para salvar a querência amada do Rio Grande do Sul, e nós, seus  sofridos habitantes.

domingo, 28 de abril de 2024

Antúrio para os corações

                                          Jorge Finatto


        

Em forma de coração, o Antúrio é flor que harmoniza o ambiente e a alma. 

Tê-lo em casa é uma inspiração para a beleza e os bons sentimentos. 

Quem há de resistir tamanho encanto? Só os brutos. E os desiludidos da vida (que, por ele, podem talvez voltar a viver).

_________

photo: jfinatto

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Façamos como as rosas

                                             Jorge Finatto


                      photo: jfinatto


"Morrer não é nada. Difícil é deixar de viver."  A frase, que cito de memória, vem de um poema de Mario Quintana. E resume o meu sentimento em relação à finitude humana. 

A morte não merece maiores considerações, acontece e fim.  Viver é, sim, a grande notícia e é o que nos resta. Só de pensar que a maravilha terá fim um dia dá um nó no peito. Façamos como as rosas. Aproveitemos o milagre de cada dia.

segunda-feira, 25 de março de 2024

domingo, 28 de janeiro de 2024

Casas velhas, almas vivas

Jorge Finatto.


jfinatto, Montevideo, 26.1.24


Mario Quintana, o nosso poeta, disse alguma vez que não apreciava a arquitetura moderna porque ela não construía casas antigas. Digo eu que mesmo casas abandonadas conservam no semblante uma humanidade que não encontramos nas modernas construções. Quantas histórias, quantas memórias  habitam entre estas paredes que o tempo desfigurou. Mas se um dia um novo morador abrir-lhes as portas cerradas, começarão tudo outra vez, povoando-se de vida desde o sótão até o porão. E outras histórias serão contadas. Precisam apenas de uma mão amiga que lhes abra as ventanas para o Sol entrar e povoar de ouro a escuridão.


domingo, 21 de janeiro de 2024

Inspiração

Jorge Finatto

photo: jfinatto


Todas as manhãs vou ao jardim ver se uma nova rosa floriu. E, quando isso acontece, me aproximo, respiro lenta e profundamente até a rosa fazer parte de mim.