domingo, 16 de dezembro de 2012

A canção dos bambus

Jorge Adelar Finatto
 
 
photo: j.finatto

 
Admirável aquele
cuja vida é um contínuo
relâmpago
               Matsuo Bashô

A internet perdeu-se entre as nuvens escuras e a chuva desta noite. De modo que não há como trabalhar no blog nem visitar as páginas de costume, nem conhecer novas. Não posso me comunicar com outras estações do cosmos. O mundo, em suma, acabou...

A internet saiu do ar? É preciso recomeçar das cinzas.

Estou fora da rede, estou fora do planeta, isolado no alto da Serra dos Ausentes.

Cheguei de viagem, cheguei tarde, cheguei cansado. Enquanto Porto Alegre ferve perto dos 40ºC, aqui em Passo dos Ausentes faz frio.

Exilado do universo virtual, há que reinventar o tempo.

Volto às páginas impressas do velho e bom Gutenberg. Quem sabe depois vou ligar o vetusto rádio de válvulas coloridas sobre o armário. Por ora, quero ficar quieto nesse distante canto do mundo.

Tempo faz que não vejo os pássaros na varanda do escritório. Sinto falta da silhueta das montanhas, de ouvir o silêncio que vem da profundeza do Vale do Olhar. Estou precisando muito disso. Estive fora, estive longe.

Quero escutar, a essa hora inaugural da solitude, a voz cava e harmoniosa dos sinos de bambu ao redor da casa. A música suave e íntima dos bambus. Com ela percorro caminhos interiores, saio do círculo suicida do relógio e das notícias.

Conheço o rumor das folhas dos plátanos que habita o vento.

Caminho pelo bosque de bambus com os poemas do amigo Matsuo Bashô (1644 - 1694), bardo japonês por quem tenho enorme estima. Diz ele:

Depressa se vai a primavera
Choram os pássaros e há lágrimas
nos olhos dos peixes

É preciso cultivar o nosso jardim espiritual. E nossos peixes, nossos pássaros, nossas primaveras. A vida é este campo de semear, colher e repartir. O pequeno território capaz de produzir bons frutos, belos sentimentos e bons dias.

Preciso de tempo para ouvir a voz imemorial dos bambus no vento.
 
Caminho por uma vereda no meio do bosque. Na margem, o córrego corre entre os seixos, leva dentro de si as folhas e os últimos raios do sol.
 
A noite traz o vento, o vento sopra a canção dos bambus em volta da casa, a chuva chega e molha o coração seco.

Ouçamos Bashô:

Não esqueças nunca
o gosto solitário
do orvalho
 
Ouvindo a canção dos bambus, experimento a impossível leveza.

Caminho pelo bosque e levo uma rosa na mão.

Vou visitar o amigo Bashô na beira do Lago Biwa, em Otsu, no Japão, em sua cabana atemporal, na qual vive e escreve seus haikais por toda a eternidade.

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Poemas (haikais) do livro O gosto solitário do orvalho, de Matsuo Bashô. Editora Assírio e Alvim, Lisboa, Portugal, fevereiro de 1986. Tradução de Jorge de Sousa Braga.
 

sábado, 15 de dezembro de 2012

Sangue derramado no asfalto

Jorge Adelar Finatto 

Na viagem de retorno de Porto Alegre, a visão terrível: o corpo de um homem morto, com a cabeça e o tronco para fora do veículo acidentado e o restante preso nas ferragens. A polícia rodoviária com dificuldades para fazer os curiosos saírem do local (sim, tem gente que faz questão de ver o horror).

O trânsito no Brasil está entre os que mais matam no mundo. A principal causa das mortes é o profundo desrespeito à vida. As pessoas se recusam a cumprir a lei. Na concepção deformada de grande parte dos motoristas, as regras foram feitas para os outros, para os trouxas, para os inimigos.

A sociedade brasileira vive dias de intensa submissão à violência, à criminalidade e à falta de apreço pelos valores da convivência. A ausência de limites é um desastre entre nós e o comportamento no trânsito é o retrato dessa situação.

Os outros nada significam, o que conta é eu me dar bem, levar vantagem, chegar na frente, impor-me pela agressividade, mostrar quem está em primeiro lugar. O resto não importa, o bem comum é conversa para babacas.

Impressiona como se aceita a morte violenta. A morte desnecessária, a morte trágica, não causa espanto. Faz parte do cotidiano.

Uma das providências adotadas, logo após acidentes com vítimas fatais, é a lavagem do sangue do local. Há um mal-estar diante da mancha vermelha no asfalto.

É desconfortável ver o sangue derramado no chão. É preciso lavar rápido para rápido esquecer. E não se fala mais nisso.

Faltam agentes de trânsito em número suficiente, faltam meios técnicos adequados para enfrentar o problema.

Mas falta, acima de tudo, educação por parte de quem conduz veículos. E falta, essencialmente, respeito humano.

Se cada motorista resolvesse rever sua atitude, a realidade mudaria em 24h.

Enquanto isso, medidas do governo incentivam a compra de veículos que invadem as vias públicas e aumentam o caos instalado. Não há ruas e estradas suficientes para tantos carros. O transporte coletivo de qualidade é negligenciado. O sistema de saúde - que atua além do limite - é pressionado por doenças resultantes dos acidentes.

Acidentes de trânsito que, na verdade, de acidental muito pouco têm, já que previsíveis e, na maioria dos casos, provocados por pessoas que, a rigor, não poderiam estar dirigindo.

Infelizmente, cada um de nós é uma possível vítima, um número na estatística da violência no trânsito. Resta saber apenas o dia e a hora em que vamos cair.

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jfinatto@terra.com.br

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Giorgio Morandi em Porto Alegre

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto. Reprodução do estúdio de Morandi na FIC.

Uma luz silenciosa, calma e vertical verte das naturezas-mortas, flores e paisagens do pintor italiano Giorgio Morandi (1890 - 1964). Visitei a exposição do artista na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, que começou em 29 de novembro passado e irá até 24 de fevereiro de 2013.

photo: j.finatto. Vaso di fiori, 1951.

Além da exposição das obras (cerca de 40 pinturas e 15 gravuras), há um espaço reservado à reprodução, em tamanho natural, do estúdio do artista em Bolonha, cidade onde nasceu, viveu, trabalhou, amou e morreu. A estrutura utiliza painéis sobre os quais foram aplicadas as fotografias do ateliê feitas pelo fotógrafo italiano Luigi Ghirri, logo após a morte de Morandi. Há também um documentário do diretor Mario Chemelo sobre o pintor numa das salas.

O universo do artista - um dos principais nomes da pintura italiana do século XX - é habitado por coisas pequenas - vasos, garrafas, copos, flores, açucareiros, algumas casas, uma estrada branca, umas árvores, um pouco de mato. E é através da apreensão do que nessas coisas lhe interessa que a beleza dos objetos e suas cores se revelam aos olhos do observador.

photo: j.finatto. Paesaggio con strada bianca, 1941.

A grandeza da simplicidade dos temas assume relevo na construção do artista.

Só é digno de menção aquilo que participa da vida, parece nos dizer Morandi. Vale a singularidade de cada coisa apropriada pelo olhar humano do criador, não há padrões de importância plástica predeterminados.

No mínimo, no restrito, pode-se encontrar a grata revelação.

O que anima, dá vigor e brilho à vida é o modo de estar no mundo de cada ser e cada coisa na sua existência única e particular.

photo: j.finatto. Natura morta, 1945.

A figura humana não aparece na obra do artista. Isso não significa falta de interesse pelo humano. Uma ausência que terá explicação na alma profunda do criador. É sua maneira pessoal de olhar o mundo.

Giorgio Morandi gosta mesmo das naturezas-mortas e de um pouco de paisagem. Através delas ele consegue tocar a emoção das pessoas.

Aqui se encontra a travessia do invisível, a manifestação do sentimento na transcendência do olhar. É o que interessa.

Não há frieza no seu trabalho, senão uma cálida aproximação do objeto pelo silêncio, pela economia de recursos, pelo afastamento de qualquer excesso. Uma lente poderosa se apropria do objeto a partir do seu interior, deixando de lado o que não é essencial.

O calor das coisas simples. É a imagem que me vem da observação do traço deste artista paciencioso e obstinado. Em arte, chegar ao simples é o supremo desafio, a mais alta esfera, o horizonte sempre buscado que só a poucos se entrega.

Giorgio Morandi consegue penetrar na alma daquilo que pinta e traz à tona a sua intimidade. O artista extrai espírito do inanimado.

photo: Giorgio Morandi, 1960. *
Autor: Antonio Masotti
Acervo: Museu Morandi 

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A exposição Morandi no Brasil tem curadoria de Alessia Masi e Lorenza Selleri.
Museu Morandi, Bolonha, Itália:
http://www.mambo-bologna.org/en/museomorandi/
Fundação Iberê Camargo:
http://www.iberecamargo.org.br/site/default.aspx
* A foto está em forma de painel num corredor da mostra. photo: j.finatto
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Não escrevemos o primeiro verso

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto


Não escrevemos o primeiro verso
há tudo por ser dito
mas sou teimoso
insisto no jogo

quando desanimares pensa em mim
que não abandonei as ferramentas
que não dei um verso para a eternidade

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Do livro Claridade, Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Editora Movimento, 1983.

jfinatto@terra.com.br

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O calepino de Dante

Jorge Adelar Finatto


photo: j.finatto. Ponte de Rialto, Veneza.
 

O vento geme como um bicho malferido nas esquinas, sacode placas na rua, portas e janelas, enlouquece os ponteiros do relógio da estação de trem abandonada de Passo dos Ausentes.

Um lento lamento emana do interior do sino da igreja da praça.

Um cenário de filme de assombração. Aqui acontecem coisas do outro mundo. Os fantasmas somos nós, habitantes dessas terras frias e invisíveis situadas nos Campos de Cima do Esquecimento.

Lá fora, a chuva molha a solidão da rua.  Somos peixes no aquário, nadando de um lado para outro dentro de casa, tentando enxergar, sentir alguma coisa nesse enorme vazio. Peixes à procura de qualquer coisa mais que silêncio e oblívio. Agora que o inverno chegou.

Vivemos nessas remotas e íngremes alturas, no sul do continente, entre inóspitas nuvens.

Este lugar é a última estação antes do fim do mundo.

Os poetas sabem bem o que é isto que eu digo, não falo coisas inaugurais (quem me dera). Digo o trivial da humana vida e não mais do que isso.

Nesse território pequenininho existem coisas de espantar.

Um dia, não me lembro quando se passou o caso, encontrei o calepino de Dante numa rua remota e esquecida de Veneza. Caminhava do meu jeito naquela cidade, olhando as coisas de perto por causa da visão (os óculos fundo de garrafa).

Naquela cidade veneziana tudo é insondável e úmido labirinto e eu, quase cego, gosto de me perder em labirintos.

As janelas das casas daquela fondamenta - rua na beira de um canal - onde cheguei não sei como, tinham flores e cordas com roupas secando, mas não havia ninguém morando nelas. Uma doideira. O vento percorria o canal assobiando uma canção terna e delicada, sem começo nem fim.

O calepino estava sobre a velha mesa de uma livraria abandonada. A livraria ficava mais ou menos perto da Ponte de Rialto, no Grande Canal. Entrei lá abrindo uma porta escura e pesada, muito difícil de abrir.

Sentei numa cadeira de couro marrom diante da mesa, ao lado um pequeno vitral amarelo que deixava penetrar um sopro de sol.

Abri o calepino, quase encostando os olhos nele. Na terceira página estava escrito: Dante Alighieri, 1319. Li sem fôlego as primeiras anotações do mestre florentino.

Só então percebi do que se tratava e do tesouro que tinha em mãos: eram esboços de poemas misturados a notas de diário, rascunhos de cartas e pequenos desenhos.

A música que o vento tocava lá fora, me dei conta, era a Valsa dos Ausentes, de Pixinguinha.

O mundo é muito pequeno, o mundo é um suspiro.

Antes de sair da estranha livraria, guardei o calepino de Dante no fundo do meu alforje. Desde aquele difícil evento nunca mais nos separamos. Nunca antes contei essa história. (Às vezes me pergunto se de fato aconteceu ou terá sido um sonho meu, aturdido por esses ventos do fim do mundo.)

O calepino de Dante é o consolo que trago. Quando o leio, como nessa hora longínqua, sentado na cadeira de palha da mesa da cozinha, tomando café preto com biscoitos de polvilho, esqueço tudo de ruim.
 
O medo de morrer não encontra lugar nessa hora solene.

Nem tudo são solitudes, então me dou conta. Passagens luminosas habitam o breu.

Tem orquídeas e magnólias povoando os jardins em junho. Os ramos brotam entre os secos galhos da memória.

É um tempo de busca-vida, esse.

Um texto, notícia do invisível.
 

sábado, 8 de dezembro de 2012

A arte das ruas

Jorge Adelar Finatto
 

Grafite do artista britânico Banksy
 
 
A arte do grafite tem sido injustamente atacada por gente que nada entende do riscado, literalmente. Primeiro, é preciso desarmar o espírito e querer ver, antes de botar tudo no mesmo saco e jogar no lixo.
 
Não gosto da riscalhada gratuita e grosseira que enfeia, quando não danifica, monumentos, muros e paredes da cidade. Esse tipo de coisa gera um enorme vazio. Parece vir de pessoas que não têm o que dizer e que nunca se ocuparam em aprender a desenhar sequer um ovo.
 
Quer dizer, poluem visualmente o espaço urbano da mesma forma que os milhares e milhares de letreiros e placas publicitárias espalhados por todo lugar. Um desastre para os olhos e o coração.

O grafite como manifestação artística é outra coisa. São imagens e textos que embelezam a paisagem adversa da cidade, nos animam, nos fazem pensar, emocionam.

A arte do grafite é transitória e perecível por natureza. A constante exposição ao tempo, sol, vento, chuva, se encarrega de desgastar as obras até apagá-las. Não raro o desaparecimento das imagens se dá pelas mãos de quem não aprova essas intervenções.
 
Já escrevi sobre como descobri o trabalho de Basquiat* e como passei a admirá-lo. Os traços de seus grafites ganharam museus e galerias, em outros suportes. Se estivesse vivo, provavelmente continuaria fazendo pinturas nas ruas de Nova York, onde construiu-se como artista.
 
Grafite de Banksy
 
Com o tempo passei a conhecer artistas do grafite também no Brasil, que iluminam o cenário áspero e sombrio das ruas com suas criações.

Alguns desses artistas são hoje requisitados no mundo todo para imprimir seus trabalhos em ruas e prédios públicos e privados.
 
É preciso discernir o que é riscalhada do que é a arte do grafite. O grafite artístico compreende intervenções através da pintura, literatura, humor, filosofia, política e outras. Não desfigura o ambiente, pelo contrário, humaniza-o.
 
Trata-se de uma resposta à insuportável solidão dessas babilônias de concreto, vidro, asfalto, veículos, perigo e medo que nos cercam. Um grito contra a indiferença.
 
Os administradores devem continuar destinando espaços a esses artistas, como se faz atualmente em algumas cidades do Brasil e em diversos países. É uma maneira de abrir janelas nos muros, paredes e paredões opressivos para que através delas entre um pouco de luz, beleza, cor e sentido.

Banksy
 
 
Grafite de Banksy**
 

Estou lendo o livro Banksy, Guerra e Spray, que acaba de ser lançado no Brasil pela Editora Intrínseca. É uma leitura interessante sobre a experiência deste artista de rua inglês. Ele expõe sua visão acerca da arte do grafite, dos percalços, da afirmação. O seu trabalho reúne imagens poéticas, crítica social, política e costumes e traz um olhar atento à desumanização em que vivemos. Ao mesmo tempo, tem humor, ironia, lirismo e delicadeza, como demonstram as obras aqui reproduzidas.
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Fora do poema tudo é caos

Jorge Adelar Finatto
 
 
photo: j.finatto
 
 
Esta frase - fora do poema tudo é caos - me saiu numa entrevista* ao jornal Zero Hora, de 1984, tendo como entrevistador o jornalista Danilo Ucha. Naquela época  ainda se entrevistavam poetas da aldeia na imprensa local.

Os meios de comunicação se expandiram, mas os espaços para divulgação de arte e literatura, fora do interesse estritamente comercial, diminuíram tanto que tenho dúvida se existem hoje entre nós.

A entrevista versava sobre o lançamento do meu livro Claridade, de poemas, selecionado para publicação dentro do Plano Editorial de 1983, da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Porto Alegre.

Consta, na abertura da matéria, que o autor era um jovem jornalista e poeta de 27 anos. Custo acreditar que já tive essa idade.

O tempo passa, a gente fica mais perdido, mas certas verdades permanecem. Está escrito que o poeta (aquele jovem poeta de 27) estava angustiado e perplexo "diante de uma realidade maluca, atrasada e violenta como a brasileira".

Também está dito que os poemas falavam de uma pessoa que "experimentou na consciência e na pele a dolorosa sensação de viver uma realidade sem perspectivas. Onde o indivíduo se sente arrastado pela opressão e sonhar é quase proibido. Onde viver se tornou a maior transgressão".

Nos poemas, apesar disso, "constata-se a convivência mais harmoniosa entre linguagem e vida. O mundo silencioso onde o real e o imaginário caminham juntos. Há uma integração profunda com a aventura humana. A palavra não salvará o homem, mas será sua projeção e seu espelho. Uma espécie de testemunha de seu próprio destino".

O poeta "trabalha com o poema numa região de luz, sem concessões ao desespero e à morte, acredita na força das coisas belas, na energia positiva das pessoas capaz de gerar zonas de intensa verdade e esperança.

"A fé na existência e no amor sobressai-se como o caminho destinado a vencer o escuro e a dor. O poder transcendente da vida sobre a morte, através da dimensão do amor, transforma e eleva".

Conclui o bardo de 27: "Nunca fiz literatura pelo simples prazer de escrever, ela surgiu na minha vida como uma necessidade inarredável, quase tão vital como respirar. Eu até preferiria viver sem escrever. O grande Manuel Bandeira disse certa vez que só se sentia seguro no chão da poesia. Eu sinto isso. Fora do poema o mundo é algo incompreensível e muitas vezes insuportável. É preciso criar tudo de novo, começar a vida das cinzas, renascer. Fora do poema tudo é caos".

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*Entrevista publicada no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em 13.4.1984. A matéria foi feita pelo jornalista Danilo Ucha.