Jorge Adelar Finatto
Uma luz silenciosa, calma e vertical verte das naturezas-mortas, flores e paisagens do pintor italiano Giorgio Morandi (1890 - 1964). Visitei a exposição do artista na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, que começou em 29 de novembro passado e irá até 24 de fevereiro de 2013.
photo: j.finatto. Vaso di fiori, 1951. |
Além da exposição das obras (cerca de 40 pinturas e 15 gravuras), há um espaço reservado à reprodução, em tamanho natural, do estúdio do artista em Bolonha, cidade onde nasceu, viveu, trabalhou, amou e morreu. A estrutura utiliza painéis sobre os quais foram aplicadas as fotografias do ateliê feitas pelo fotógrafo italiano Luigi Ghirri, logo após a morte de Morandi. Há também um documentário do diretor Mario Chemelo sobre o pintor numa das salas.
O universo do artista - um dos principais nomes da pintura italiana do século XX - é habitado por coisas pequenas - vasos, garrafas, copos, flores, açucareiros, algumas casas, uma estrada branca, umas árvores, um pouco de mato. E é através da apreensão do que nessas coisas lhe interessa que a beleza dos objetos e suas cores se revelam aos olhos do observador.
photo: j.finatto. Paesaggio con strada bianca, 1941. |
A grandeza da simplicidade dos temas assume relevo na construção do artista.
Só é digno de menção aquilo que participa da vida, parece nos dizer Morandi. Vale a singularidade de cada coisa apropriada pelo olhar humano do criador, não há padrões de importância plástica predeterminados.
No mínimo, no restrito, pode-se encontrar a grata revelação.
O que anima, dá vigor e brilho à vida é o modo de estar no mundo de cada ser e cada coisa na sua existência única e particular.
photo: j.finatto. Natura morta, 1945. |
A figura humana não aparece na obra do artista. Isso não significa falta de interesse pelo humano. Uma ausência que terá explicação na alma profunda do criador. É sua maneira pessoal de olhar o mundo.
Giorgio Morandi gosta mesmo das naturezas-mortas e de um pouco de paisagem. Através delas ele consegue tocar a emoção das pessoas.
Aqui se encontra a travessia do invisível, a manifestação do sentimento na transcendência do olhar. É o que interessa.
Não há frieza no seu trabalho, senão uma cálida aproximação do objeto pelo silêncio, pela economia de recursos, pelo afastamento de qualquer excesso. Uma lente poderosa se apropria do objeto a partir do seu interior, deixando de lado o que não é essencial.
O calor das coisas simples. É a imagem que me vem da observação do traço deste artista paciencioso e obstinado. Em arte, chegar ao simples é o supremo desafio, a mais alta esfera, o horizonte sempre buscado que só a poucos se entrega.
Giorgio Morandi consegue penetrar na alma daquilo que pinta e traz à tona a sua intimidade. O artista extrai espírito do inanimado.
photo: Giorgio Morandi, 1960. * Autor: Antonio Masotti Acervo: Museu Morandi |
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A exposição Morandi no Brasil tem curadoria de Alessia Masi e Lorenza Selleri.
Museu Morandi, Bolonha, Itália:
http://www.mambo-bologna.org/en/museomorandi/
Fundação Iberê Camargo:
http://www.iberecamargo.org.br/site/default.aspx
* A foto está em forma de painel num corredor da mostra. photo: j.finatto
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