Jorge Finatto
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| photo: jfinatto | 
ESTAVA me preparando pra subir na esteira quando tocou o telefone. Do outro lado um indivíduo disse que gostaria de falar com o senhor Jorge. 
- Pois não, sou eu. 
- Boa tarde, tudo bem com o senhor? 
- Tudo bem. 
- Estou ligando pra falar sobre cremação. Temos um plano pra lhe oferecer. 
- Como? 
- Sim, temos ótimas condições. Eu vou lhe apresentar... 
- Não, não, há um engano. 
- O senhor não é o Jorge? 
- Sou, mas não tenho a menor intenção de morrer, ao menos não por agora. O dia está lindo. Olhe esse céu azul de primavera de Porto Alegre. Dá ganas de viver pra sempre. Ninguém pensa em morrer. Quem foi que lhe deu meu telefone?
- Creio que um conhecido seu indicou.
- Muy amigo... Mas, de fato, não pretendo pensar em morte agora.
- Não, claro, não é isso, mas é uma coisa que pode acontecer, é bom se prevenir, deixar tudo organizado. 
- Não, não, eu agradeço. O que eu quero hoje, neste instante, é fazer a minha ginástica, andar na esteira, relaxar, suar, durante uma hora ou mais. Eu quero respirar. Só isso, nada menos do que isso. Nada de antecipar a preocupação com a morte.
- Ah, sim, claro. Está bem. Conversamos em outra ocasião. Desejo-lhe muita saúde, muito obrigado.  
- É isso o que eu mais quero. Tudo de bom. Boa tarde.
 - É isso o que eu mais quero. Tudo de bom. Boa tarde.
 
 







 
 
 
 
 
 
 
 

 
